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Veja também a apresentação virtual de Alguns (Poemas Selecionados de Eunice Arruda)* e o livro virtual de suas Poesias*.
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Coletânea de poesias e haicais de autoria de Eunice Arruda selecionados por Claudia Houdelier.
Topo da Pagina
Currículo Literário
Pós-graduação em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Prêmio no Concurso de Poesia PABLO NERUDA, organizado pela Casa Latinoamericana, Buenos Aires, Argentina, 1974. Presença em antologias, com poemas publicados no Uruguai, Colômbia, França, Estados Unidos, Canadá. Fez parte da diretoria da União Brasileira de Escritores e do Clube de Poesia de São Paulo. Ministra oficinas de criação poética desde l984, em locais como a Biblioteca Mário de Andrade e a Oficina da Palavra (Secretaria de Estado da Cultura). Coordenou os projetos Tempo de Poesia/Década de 60 em l995 e Poesia 96/97, promovidos pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Por tais iniciativas recebeu o prêmio de Mérito Cultural em 1997 conferido pela União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, RJ. Foi homenageada com o prêmio Mulheres do Mercado, concedido pela Casa de Cultura de Santo Amaro – São Paulo/SP, 2005. Em 2006, fez leitura de poemas para o programa Momento do poeta – Instituto Moreira Sales (IMS) – SP.
Eunice Arruda, poeta, autora de doze livros publicados:
É tempo de noite. São Paulo, Massao Ohno, 1960./
O chão batido. São Paulo, Coleção Literatura Contemporânea, nº 7, 1963./
Outra dúvida. Lisboa, Panorâmica Poética Luso-Hispânica, 1963./
As coisas efêmeras. São Paulo, Ed. do Brasil, 1964./
Invenções do desespero. São Paulo, edição da autora, 1973./
As pessoas, as palavras. São Paulo, Ed. de Letras e Artes, 1976 (1.ed); São Paulo, Ed. do Escritor, 1984 (2.ed)./
Os momentos. São Paulo, Nobel-Secretaria de Estado da Cultura, 1981./
Mudança de lua. São Paulo, Scortecci, 1986 (1.ed.); 1989 (2.ed.)/
Gabriel, São Paulo, Massao Ohno, 1990./
Risco. São Paulo, Nankin Editorial, 1998 (Prêmio Fernando Pessoa da União Brasileira de Escritores, RJ/RJ)./
À Beira. Rio de Janeiro, Blocos, 1999./
Há estações (haicai). São Paulo, Escrituras Editora, 2003 – selo Programa Nacional do Livro Didático.
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Haicais
Noite outonal!
Minha avó contando histórias
Na varanda. Agora
À beira do lago
aliso o brilho da lua
com as mãos molhadas
Noite estrelada
O céu - brilhando - se abaixa
Silenciosamente
No campo queimado
ainda uma leve fumaça
Tronco resistindo
Estático vôo
Borboletas de asas abertas
Alfinetes nas costas
Noite de junho
O balão subindo colorido
Alegre despedida
Solidão no inverno
o velho aquece as mãos
com as próprias mãos
Fiapos nos dentes
o rosto todo amarelo
É tempo de manga
Verão. Meio-dia
Na sombra de uma nuvem
o boi cochila
Sobre a folha seca
as formigas atravessam
uma poça d'água
Árvore cortada
No tronco tão machucado -
O verde brotando.
Malas nas mãos.
Nos olhos tantas lágrimas.
Casa inundada.
Foi tão rica a safra!
Até os arrozais se curvam
Em reverência.
Estrela de inverno
Embora distante e fraca
Procura brilhar.
Primavera. Chuva.
A moça de rosto molhado:
sombrinha furada.
Dentro da lagoa
uma diz "chove", outra diz "não":
conversa de rã.
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Também os Mortos
Também os mortos
me acompanham
Entre um e outro
degrau
Paramos. Como quem
descansa um fardo
Ao cair da tarde
— xale vinho aquecendo o corpo —
os mortos me acompanham
Entre um e outro
degrau
Mas
não me toquem — ainda
estou sonhando —
...
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Erro
Edifiquei minha vida
casa sobre a
areia
Todo dia recomeço.
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Tema
Deliberadamente
utilizamos
todas as zonas erógenas
submissos
aos animais
que transitavam a pele
submissos
a nossa disponibilidade
imerecida
sacudida
por buzinas
chuvas repentinas confundindo
as marcas de um caminho já
percorrido
Deliberadamente
entre suor e grunhido
molhado
o ritual foi cumprido
Só entao nos devolvemos
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Observando
Sim
há
as horas de trégua
quando se afiam
as facas
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Um Visitante
Quem escreve
é
um visitante
Chega nas horas da noite
e toma o lugar do
sono
Chega à mesa do almoço
come a minha fome
Escreve
o que eu nem supunha
Assina o meu nome
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Risco
Um poema livre
da gramática, do som
das palavras
livre
de traços
Um poema irmão
de outros poemas
que bebem a correnteza
e brilham
pedras ao sol
Um poema
sem o gosto
de minha boca
livre da marca
de dentes em seu dorso
Um poema nascido
nas esquinas nos muros
com palavras pobres
com palavras podres
e
que de tão livre
traga em si a decisão
de ser escrito ou não
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O Enforcado (Arcano XII)
Ainda assim
bebo o úmido
da seiva
Ainda assim
— estômago na boca —
mastigo o alimento
da terra
Pressentindo as raízes.
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Propósito
Viver pouco mas
viver muito
Ser todo o pensamento
Toda a esperança
Toda a alegria
ou angústia - mas ser
Nunca Morrer
Enquanto viver
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Retorno
Esse turbilhão que grita
agita
é gente
De coração
de mais tristeza - quem sabe - do que
nós
E a gente não ouve
não quer ouvir
Quer esquecer
quer não pensar
Mas a gente pensa
a gente envelhece muito quando volta
(do livro “É tempo de noite” - Massao Ohno Editora, 1960 – São Paulo – SP)
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Hora Poética
Para esquecer esta
dor
- transformá-la em poesia
Para eternizar esta
dor
- transformá-la em poesia
(do livro “O chão batido” – Coleção Literatura Contemporânea nº 07 – 1963 - São Paulo – SP)
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Ampliação
Construo o poema
peda-
ço por
pedaço
Construo um
pedaço de
mim
em cada poema
(do livro “As coisas efêmeras” – Brasil Editora – 1964 - São Paulo – SP)
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As Praias
As praias brancas
desertas
cansaram-se dos beijos do mar
Elas
estendem-se agora
preguiçosas
lânguidas
perdidas na rotina branca
das areias
As praias estão exaustas
dos afagos
do mar
Por isso elas são frias
e fazem castelos
em suas areias:
para o tempo passar
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Sombra
Há uma mulher triste dentro da noite
com meus olhos
com meu rosto
com minha angústia
Do dia impregnado de promessas
restou apenas uma mulher
Só mulher
Uma mulher ficou triste dentro da noite
triste
sentindo o frio gelando-lhe a vida
sem esperança
Há uma mulher triste dentro da noite
com meus olhos
com meu rosto
com minha angústia
Oração e sono para ela
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Composição I
Criar impactos
com
palavras
Pérolas
deslizando
na correnteza
Como barcos
me transportam
aonde nenhuma viagem chega
e eu colho frutos raros
Nesta ilha – entre
pedras – ressuscito
Com o fôlego
das
palavras
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Um Dia
um dia eu
morrerei
de sol, de
vida acumulada
na convulsão
das ruas
um dia eu
morrerei e
não
podia:
há poemas
escorregando de meus dedos
e um vinho não
provado
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Geografia
estar em
algum lugar
sempre
deixar o
corpo
posto
em algum lugar
porto
onde voltar
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Sentença
Convém nos
iniciarmos
cedo
As coisas são demoradas
E não é bom
colher os frutos
quando a boca não
conseguir mais
saboreá-los
(do livro “Invenções do desespero” - Edição da autora – 1973, São Paulo – SP)
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Olhe as Pessoas
Olhe as pessoas
como são
suaves
Mas não se aproxime
têm garras
arranham o coração
Fique em seu quarto
em seu corpo
e
apenas
olhe as pessoas
(do livro “As pessoas, as palavras” Editora de Letras e Artes, 1976 – São Paulo – SP)
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No Final
gestos alheios
desataram os laços
salas fechadas recenderam
flores pétalas
esmagadas
E o silêncio correu água fria nas veias
no final
os golpes acertaram melhor
(do livro “Os momentos” - Editora Nobel/Secretaria do Estado da Cultura, 1981 – São Paulo - SP)
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Notícias
As crianças morrem
Em piscinas
lagoas
no centro da cidade
O corte na testa
barrigas inchadas
costas afundadas
As crianças
elas também nos abandonam
(do livro “Mudança de lua” - Scortecci Editora, 1986 – São Paulo – SP)
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Gabriel:
Era um anjo
omisso
Foi insubmisso
sem ter dito não
Sem anseio para o vôo
nem loucura para o plano
era um anjo vago
Que não optou
Entre o ser azul
celeste e a doce
lei da gravidade
Era um anjo
omisso
ou
de asas machucadas
(do livro “Gabriel:” - Massao Ohno Editor, 1990 – São Paulo – SP)
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Saciedade Biográfica
Tenho andado sem pés
voando sem asas
Sou um sonho espalhado
Os rios recebem minhas cartas
com freqüência
facas me apontam o coração
O que poderia dizer
(os pássaros já cantaram)
o que poderia amar
(os amantes se suicidaram)
Os assassinos conhecem o meu nome
(do livro “Risco” - Nankin Editorial, 1998 – São Paulo – SP)
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Paisagem
Ser tão
só
nas ruas
Sertão
só
nas ruas
(do livro “À beira” - Editora Blocos, 1999 – Rio de Janeiro – RJ)
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Tão Tranquila
Tão tranqüila a sala
A tarde caminha lenta impune
Portas fechadas
ressoam vozes
lá fora
um telefone jamais chama
Talvez chova ainda hoje
mas agora
nenhum risco ou relâmpago
Posso dormir neste barco
há árvores à margem sombreando o rio
É tão tranqüila a sala
na tarde seguindo lenta
E vibra
ardente
como uma palma de mão
Aqui descanso do sim e do não
(do livro "Risco" - Nankin Editorial, 1998 – SP)
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Amor
Num poço escuro
no escuro
respiro teu rosto
tua boca
aberta em dentes
flores
coloridas dançam
sobre meu corpo
se espalha
a água
de muitas fontes
Por um momento a vida me aceita
(poema incluído na Antologia Os dias do Amor)
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Spleen
Fala baixo
baixinho
Apaga a luz
e deixa a vitrola em surdina
É pena que não tenho cigarros
nem amor
para te dar
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Amor de Gente Velha
Vou ensaiar um
jeito de
te amar
Sentirás
este céu mais lindo
a vida menos pesada
embora o lirismo esteja
ultrapassado
Mas que importa somos poetas
Só sabemos
inventar
Eu te prometo amor
que vou
fabricar no coração
Será quase igual àquele
que perdi um dia
e tu perdeste em outro
mas que importa somos poetas
Somos velhos
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Boneca de Pano
Enterraram a boneca
a boneca de
pano
Era trapo
Era nada
Enterraram a boneca
Agora enterro
a unha na terra
e a boneca
hoje de carne
grita
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Conceito
Morrer
é somente ver
a vida morta
e viver
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Antecipação
Amanhã serei
feliz
feliz
feliz
Porém nunca como agora
que espero ser
feliz
feliz
feliz
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Deus e o Domingo
Eu ia ser feliz
domingo
Naquele tempo bastava pouco
Não sabia que no
domingo
é fácil
chover
e muito difícil viver
Ah, eu ia ser feliz
Mas
domingo Deus descansa
e a gente sofre mais
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Poemas
Eram poemas tristes
mas
poemas
Mesmo assim não os
quiseste
Por isso a noite se
fez escura
E os poemas
que eram poemas tristes
mas poemas
voltaram a ser outra vez
lágrimas
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Da Finalidade do Trabalho
Não trago mensagem
na voz
Quando escrevo
é a vida que
exercito
para
que
tudo o que exista
em mim fique
escrito
Por isso não trago
mensagem na voz
É missão de
quem escreve
apenas eternizar o que foi
breve
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Predição
Fazer da
busca o
ideal
Rasgar o ventre de
todas as noites
para encontrar
aurora
que não somos hoje
é o que há de nos
esmagar
amanhã
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Identificação
Nossa vida se desfaz em
cacos
A cada instante somos
diferentes
Mas a voz que pede
é sempre a
mesma
Então nos reconhecemos
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Das Coisas Efêmeras
Olho a tarde
a tarde
acaba
O amor o
amor
acaba
A vida
sim
é que é imensa
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Imprudência
Mesmo que
depois
chova
Este sol é bom
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Aflição
Fui o amanhecer
para tuas
noites
voz
para teu silêncio
Sem saber como
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Cartão Postal
Guarda o
olhar desta
primavera
Amanhã
a gente usa
como lembrança
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Fotografia
Éramos nós
sentados
esperando ser ultrapassado
ponto mais dorido da noite da vida
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Enganos
Uma
luz
me aproximo
é escuridão
Brilha
agora em ouro
o que ontem foi
pó e não
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Quero
Quero
a
paz
Dia para o dia
brilho
raio
sol em alguma água
Um alto mar
não o símbolo
a paz
Quero a paz
Mesmo que ela venha sozinha
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Versos Brancos
As pessoas que amei
são hoje palavras
impressas
Emolduradas
as pessoas me fixam
do poema escrito
As pessoas que amei
estão incorporadas
numa estante
São palavras
Relendo-as
elas respiram
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A Terra é Redonda
Se corro corro
risco de
chegar
Ao mesmo lugar
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Aviso
Para tudo
há o tempo
necessário
Não se detenha mais
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Adolescentes
Era tão bom quando
vocês brincavam sobre o tapete
de heróis
de super-heróis
Enchiam a casa de vozes
Esconderijos
Era tão bom
Batman
Falcon
Zorro
os amigos
Quando vocês
só ouviam histórias
dos Sete Anões, do Pinóquio
e o sono chegava com a noite
Era tão bom quando o mundo
não alcançava vocês
com garras socos relâmpagos
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31 de Dezembro
De repente o céu
explode em fogos
luzes relâmpagos
Champanhes
espumas
taças
comprimindo os lábios
Ardente
o céu explode
de repente
sacode
a terra é lenta
gira redonda trêmula
me abrigo em casas
fortalezas
em parentes me equilibro em
redundâncias
Ergo a taça. Dezembro
31 Existimos
então
ou
fomos já ceifados de alguma colheita
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Lendas
Naquele verão
o amor brilhou
como um sol
coloriu minha pele
e meu corpo
ágil pássaro
redimido
averiguou o que foi plantado
o que foi colhido
O amor mostrou a face
em sua face
naquele verão
fortes chuvas molharam a terra
e a colheita se fez farta exata
harmonia
entre o que é fome e o que sacia
Naquele verão
o amor apertou minhas mãos
suavemente
o amor apertou minhas mãos
com suas mãos
fortemente
me revelou a vida. Profundo
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Tarefa
cabe agora
morrer o corpo
dia a
dia ir
me desacostumando
do rosto
que eu chamava
meu
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Lembrando
Um dia terás de
abandonar o
corpo
A pátria as conversas
as tardes compridas
Terás de abandonar
o sonho e o sono
o perfume os jasmins
Um dia terás de
abandonar tudo
todos
tentarão
guardar teu rosto
se desmanchando
também na memória
Prova
desde agora o gosto da palavra
adeus
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Mensagem
É
Natal
novamente
onde estamos
e onde não estamos
Nas ruas
nas noites enfeitadas
o Natal chega
passo a passo
em cada dia de dezembro
E não há como fugir
já não há onde esconder
o encontro é inevitável
Há que se aproximar então
o coração aberto
o afeto dilatado
Deixar
se desprender de nós
fardos desnecessários
forjados impedimentos
e aceitar
Aceitar esta carga-----condição de ser humano
É Natal
Há que se respirar
com novo fôlego
um outro ar
aqui
onde estamos
e onde jamais estaremos
o Natal nos transporta
como um barco incansável
É preciso deixar
esta água
fluir
é preciso aceitar
o mistério das fontes
Não podemos deixar morrer nenhum nascimento
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O Mar
conheço o mar
neste
domingo
conheço
a ternura verde
da árvore
da noite
abraçando o nosso
abraço
neste
domingo
conheço o mar
o nome
que mistura as nossas águas
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Mulheres
Mulheres
mecanizadas
simulam
vozes
De passos duros
e roupas leves
alargam a tarde
de fumaça e
objetivos
Têm pressa – não
sonhos
Mulheres mecanizadas
geram filhos e
criam o
abstrato
(do livro "Invenções do desespero", São Paulo / SP, 1973)
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Gabriel:
A praça era da
Sé
Marco zero da
cidade
Pombas telhados
Uma estação do Metrô
Dentro da Catedral
um ser
humano implora:
- salva-me. Do tempo
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Inicial
mudar a sombra e a árvore
da terra do mar mudar
ser par
mudar o risco e o cabelo
o lado de dormir e o de sonhar
(do livro "Mudança de lua", Scortecci Editora, 1986 – São Paulo/SP)
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Esqueci
o meu
caminho de casa
o sono úmido
útero
o nome dos sentimentos
as mãos
dadas às praças
as flores
as estações, esqueci
o rosto de minha mãe
(poema sobre xilogravura de Valdir Rocha)
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Candestinidade
Vivi na clandestinidade
anos
No escuro nos bares na periferia
anos a fio
escondida
envolvida
em fumaças
teorias
Na paixão. Na clandestinidade
Até que um dia me entregaram
à vida
(do livro "Mudança de lua", João Scortecci Editora - São Paulo, 1989)
Topo da Pagina
Gabriel:
a duras penas
o tempo parou:
enterramos o morto
nos misturamos à terra
a
duras penas
conhecemos o nosso verdadeiro nome
(do livro "Gabriel:" - Massao Ohno Editor, 1990, São Paulo/SP)
Topo da Pagina
Paisagem
O sol se
põe
Girassóis olham o chão
(do livro "Mudança de Lua" Scortecci Editora, 1986 – SP/SP)
Topo da Pagina
Sequência
o mendigo olha as
chagas de
Cristo
piedosamente
toca o vermelho
- ombro de
Cristo -
piedosamente
pousa depois
as mãos no
sujo
do
próprio ombro
piedosa/mente
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Guitarra
Som
sentido
quem sou?
Corda de guitarra
fina
aguda
quebra a noite em duas
Vida – som sem
sentido
(do livro "É tempo de noite" - SP: Massao Ohno, 1960)
Topo da Pagina
Em Dezembro
a lenta
iluminada
agonia
retorna a
voz esquecida sob a
pele
em dezembro
águas passadas movem
moinho
Topo da Pagina
Telegrama
Mamãe morreu
Ficamos
Envergonhados
Topo da Pagina
Chuvas
Algumas pessoas
morreram
Num dia rude de dezembro
depois das
chuvas
Pela televisão as imagens
da cidade afogada
Algumas pessoas morreram
fazendo os gesto estranhos
dos que pedem socorro
(poemas do livro "À beira" - Editora Blocos, 1999 - Rio de Janeiro/RJ)
Topo da Pagina
Nostalgia
Amo
os
casais
Ombro
a
ombro
Pisando a mesma calçada
Amo os casais que
atravessam
ruas
estações
Seguram as
mãos
não
o tempo
Amo
os
casais
Que permanecem
Topo da Pagina
Assim
Nada
devo pedir
Sei o que quero
não sei o que me
quer. Então
ergo o rosto ao sol
e sigo – visível – ao
destino
(do livro "Debaixo do sol", Ateliê Editorial, 2010)
Topo da Pagina
Debaixo do Sol
eu
vivo
para ir
tirando de mim
as camadas do Sonho
(do livro "Debaixo do sol", Ateliê Editorial, 2010)
Topo da Pagina
Então
As forças me regem
Me põem em um caminho
me afastam deste caminho
E eu vou provando o mundo
todos os lados
todos os gostos
até que rota exausta exata
as forças me entreguem
À outra roda
(do livro "Debaixo do sol", Ateliê Editorial, 2010)
Topo da Pagina
Tentativa
Quis
ressuscitar
o morto
Não consegui
Ele não me ouviu
como Lázaro
a Cristo
Preferiu a morte
e a minha inutilidade
(do livro "À beira", Blocos Editora, 1999, RJ/RJ)
Topo da Pagina
Lua Fria
Lua
fria
irmã
Sequer me espreitas
Vejo-te pálida
protegida pela névoa
fria
lua
minguada magoada irmã
(do livro "À beira", Editora Blocos, 1999, RJ/RJ)
Topo da Pagina
Sim
Não ser o coração
uma ferida
Não ouvir
no ruído da chuva
presságios de um retorno
Não confundir ramagens com raiz
E saber
Tudo já foi encontrado
apenas é o que já existe
São nossas verdades as estações do ano
(do livro "Risco", Nankin Editorial, SP/SP - 1998)
Topo da Pagina
Gavetas
o poema
caído
da ventania
- as gavetas escrevem
o poema sem voz
nascido
da dor em demasia
(do livro "Mudança de lua", Scortecci Editora - 1986 [1ª edição] e 1989 [2ª edição]. Capa e ilustração Odete da Conceição Dias)
Topo da Pagina
Houve I
estranhos gestos de ternura
percorrendo conhecendo os limites
do corpo tentando provar o mel o
gosto do amor na pele do momento:
além
era o mar recortado de sombras
mãos úmidas de orvalho, seiva da
árvore
que nos escondia e nos revelava
um brilho de faca outro de sol
(do livro "Debaixo do sol", Ateliê Editorial, SP - 2010)
Topo da Pagina
Houve II
um
sentimento
depois
chuvas repentinas
inexplicáveis
febres
foram
engolindo à força
a força
(do livro "Debaixo do sol", Ateliê Editorial - São Paulo/SP, 2010)
Topo da Pagina
Houve III
o primeiro
e
o
último dia
(do livro "Debaixo do sol", Ateliê Editorial, São Paulo/SP, 2010)
Topo da Pagina
Engano
afinal
construímos prédios
casas jardins rosas
desabrocharam
trêmulas, afinal fomos
submissos às ocupações do dia
às estações do ano
à rotação da terra
Pensávamos ser esta a nossa pátria
Topo da Pagina
Aproximação
Ela chega
dia a dia
anda
fala comigo
Embrulha o estômago
cega
afasta
a fome e a comida
Desmancha
aos poucos
o que chamava vida
(poemas incluídos na "Poesia Reunida", Editora Pantemporâneo, SP, 2012)
Topo da Pagina
A Terra é Redonda
Se corro corro
o risco de
chegar
Ao mesmo lugar
Topo da Pagina
Poema
Cansada das metáforas
dos bares, do atalho
dou a mão
A palmatória é rápida
voraz. Fundo o talho
(poemas incluídos na "Poesia Reunida", Editora Pantemporâneo, SP, 2012)
Topo da Pagina
Gabriel:
Cuidando da imortalidade
um poeta esquece a
vida
Come o pão
amanhã
Cerzindo as roupas claras
se veste de luto
pela casa
pobre cuidando: um poeta
De sonhos é que é
corrompido
um dia será lido
(do livro "Gabriel:", Massao Ohno Editor, 1990 - poema musicado pelo maestro A. Theodoro Nogueira)
Topo da Pagina
Gabriel:
o poeta
transforma
a realidade
em sonho
(do livro "Gabriel:" - Massao Ohno Editor, SP/SP, 1990)
Topo da Pagina
Sem Título
Verão. Meio-dia
Na sombra de uma nuvem
o boi cochila
(do livro "Há Estações", Editora Escrituras, SP/SP - 2003)
Topo da Pagina
Sem Título
Lá vai o menino
andando - apressado - na rua
Sorvete pingando
(do livro "Olhar", Dulcinéia Catadora, SP/SP - 2008)
Topo da Pagina
No Dia
Um sol
me abraça
Amo o que é
sonho
fumaça
O que passa
(do livro "Debaixo do sol", Ateliê Editorial - SP/SP, 2010)
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