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Crônicas e Rimas
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Crônicas e Rimas
 
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Crônicas e Rimas, Cleber Rangel de Sá, Crônicas e Poemas, Português, São Paulo, Editora Graphic Express, 2007.



Topo da Pagina topo da páginaPrefácio

O escritor brasileiro, nascido em Belo Horizonte, Fernando Sabino, costumava dizer que crônica é todo texto assim chamado pelo autor. E acrescentava nesta definição também o conto. Exageros mineiros à parte, a crônica é, dos gêneros literários, o único nascido com o jornal diário. Nela habitualmente comenta-se o fato importante do dia, um detalhe crítico de uma notícia que pode passar despercebida pelo leitor ou ainda a descrição de uma aventura pessoal do autor. Vários aproveitam para se mostrarem e, nessas demonstrações, esperam que o leitor se identifique com eles nas grandezas ou nas mesquinharias. É possível que o leitor me surpreenda, esclarecendo outras situações nas quais a crônica está presente e não foram aqui citadas.

O gênero se tornou tão importante, que diversos textos de Rubem Braga, o mestre maior delas, chamados de crônicas por ele mesmo, foram-lhes atribuídas as exigências literárias teóricas do conto e assim ficaram registradas e imortalizadas na literatura brasileira.

O leitor notará neste volume que Cleber Rangel de Sá, advogado atuante em São Paulo, segue os caminhos do descrito anteriormente, mencionando várias vivências pessoais e relatando-as como se conversasse conosco. E ao conversar, há uma dosagem de advogado, consultor, observador do cotidiano e amigo do leitor, que faz dos seus textos lições de humanismo, tão necessárias nos dias de hoje. Como todo cidadão de bem, o autor confessa-se perplexo diante de situações políticas vividas pelo país, aberrações jurídicas que há muito deveriam ter sido extintas e, cheio de esperança, pondera, sugere, aconselha e aguarda um retorno de suas palavras. Ocasionalmente abre seus textos com citações de autores importantes, nos chamando a atenção para pensamentos fundamentais que, à primeira vista, podem lembrar sentenças de auto-ajuda. Não são. São máximas pinçadas em textos importantes e que nos faz sentirmo-nos melhor. Em outras crônicas, Cleber Rangel de Sá, intencionalmente ou não, nos faz, simultaneamente, rir e sentir uma empatia pelo advogado batalhando pelo prazo que se esgota dentro de poucas horas e sendo impedido de trabalhar por retumbantes brados de megafones que chegam ao nono andar do seu escritório, ou ainda, perturbações originárias de uma velha canção religiosa que, perseverando, nos tortura o resto do dia.

Seus poemas, na mesma linha das crônicas, chamam a atenção para fundamentais verdades que raramente percebemos: não somos quem pensamos que somos. Habitualmente nos atribuímos uma importância que começa circular e termina dentro de nós mesmos, sem nenhum respaldo na realidade objetiva. Acreditamos que o mundo gira e existe porque estamos nele. Deprimimos quando alguém ousa pensar o contrário, nos remetendo a uma imagem especular que não queremos ver.

Por tudo isso, o leitor de Cleber Rangel de Sá, ao terminar a leitura deste livro, terá material para rir, chorar, revoltar-se, criticar e, achando que não pode fazer mais do que já faz politicamente na vida, exercer o último de seus direitos: o juris sperniandi, o direito de espernear. Em todas essas atitudes demonstrará o humanismo que se espera dos habitantes deste “Planeta Azul”.

Carlos Perktold – Colaborador do Caderno “Pensar” do Jornal “O Estado de Minas Gerais” e da Revista da Academia Mineira de Letras. Psicanalista em Belo Horizonte. Integra o Círculo Psicanalítico de Minas Gerais, a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA) e o Instituto Histórico e Geográfi co de Minas Gerais. É autor de “Ensaios de Pintura e de Psicanálise” e de “Caixa de Ferramentas”, ambas pela Editora Internacional.

 

Topo da Pagina topo da páginaApresentação

Sem exceção, ao longo da vida, as pessoas contam histórias. Sobre os outros e sobre elas próprias. Cada um à sua maneira: no boteco, na esquina, no portão vizinho, no telefone, por e-mail, no orkut, na música, no teatro, nos livros, etc.

Seja qualquer for o meio, somos todos nós narradores e atores do cotidiano.

E cá estou eu, com textos rimados e crônicas, testemunhando o meu tempo, expondo as entranhas do meu pensar, correndo todos os riscos de quem ousa contar um pouco mais de si.

No cotidiano, sem pensar e sem sentir, as pessoas fazem uma espécie de catarse, um derramamento de sentimentos. É nessa fonte que os narradores colhem material.

Tão intenso é esse exercício que, lendo textos feitos por mim, muitas vezes tenho a sensação de que o narrador é uma outra pessoa recontando as coisas que eu lhe contei.

Por isso, não vejo nada de especial na figura do narrador. Ele apenas observa os verdadeiros atores da cena, cuidando para selecionar detalhes quecomporão cada um dos roteiros.

De especial, apenas a destinação do produto da venda deste livro: Tudo será usado em benefício da Alvorada, Instituição de Promoção Humana, que se estrutura para desenvolver um trabalho de recuperação da auto-estima de seres humano a quem quase tudo foi negado desde que nasceram.

Lá, ninguém ficará internado. Será uma casa aberta. Com cores e luzes portadoras da esperança, pela via do calor humano.

O trabalho da Alvorada estará ao lado de quem precisa de apoio para fazer melhor o que já fazem. Na escola. Na profissão. Na vida, enfim. Tudo será claro.

Tudo pela Internet. Das ações às contas.

O trabalho já pode ser conhecido pelo site www.alvorada.org.br

 

Topo da Pagina topo da páginaAgradecimento

Mesmo comprometido com algo sério, nenhum esforço terá resultado se não tiver apoio.

E o apoio só vem com dois tipos de motivação: a da sensibilidade com a melhoria de uma sociedade e, inevitavelmente, a financeira.

O projeto deste livro, a exemplo dos dois anteriores(*), do mesmo autor, apenas se tornou realidade pelo decisivo apoio de Carlos Sérgio Serra e de sua equipe liderada por Nelson Colete.

A estrutura da Aduaneiras, da Cenofisco e da Lex foi disponibilizada para todo o processo de produção do livro, com recursos iguais aos usados para o preparo das obras que são comercializadas pelo Grupo Empresarial.

Isenta de custos, a Alvorada Instituição de Promoção Humana recebe e agradece esse importante apoio e conta com ele no futuro.

(*) Fragmentos de Emoção, de 1988, com renda destinada ao CVV Centro de Valorização da Vida, Posto Barra Funda.

(*) Traços, Abraços, de 1997 com renda destinada à Fraternidade Irmã Clara.

 

Topo da Pagina topo da páginaMulher

Hoje, você é o assunto preferido.
No tempo, o pedaço da humanidade mais esquecido.

Você faz vida com arte.
Você tem a arte da vida.
Com defeitos, afetos, acertos, erros, tudo meio
incerto, assim ...
Você é parte de mim.
Com certeza, a minha melhor parte.

Muitas vezes barrada em cerimônias, em templos,
mesmo, na barriga, portando o templo mais
sagrado, o da vida.

Mulheres: amadas, desamadas, mães, irmãs, amigas, filhas.
Está na hora de reagir, de achar a trilha,
de acertar de jeito, no peito, a praga do preconceito,
de alimentar esperanças e verdades,
de salvar crianças de qualquer idade,
de matar desenganos,
tudo o mais para que, em tempo futuro,
não mais se comemore dia de nada, de ninguém,
apenas dias de ser humano.
Que assim seja!
Amém.

 

Topo da Pagina topo da páginaE se não der certo?

É conhecido o hábito de alguns, que investem meses para planejar um acontecimento de apenas um dia.

Não menos conhecida é a prática de outros, que planejam, em apenas um dia, o que vão realizar em um ano.

Nas duas situações pode haver exagero.

Costumo comparar certas pessoas aqueles times de futebol que entram em campo amendontrados com a fama do time adversário. Para os primeiros, antes mesmo do apito inicial do árbitro, a derrota já é inevitável.

De fora do campo é a mesma coisa. Diante de uma idéia inovadora, antes mesmo da primeira análise, há pessoas que já assumem uma posição resistente. Negativa.

Chego a pensar que essas pessoas criam dificuldades até mesmo para serem ajudadas.

Devem pagar horas-extras para os chamados anjos da guarda. Aliás, para esses anjos deve ser tempo perdido o trabalho por esse tipo de gente.

É que o “cliente” não ajuda, sempre aderindo à conhecida “Lei de Murphy”, segundo a qual, “se for possível algo não dar certo, não tenha dúvida: Vai dar errado”.

O convívio no ambiente terreno deixa a impressão de que a maioria das pessoas joga nesse “time” que vai na “bola” sem nenhuma esperança de ganhar e que considera destino sofrer “goleadas” na vida.

Eu não estou nem aí para fórmulas vencedoras (até porque não sei como consegui-las). Não tenho talento nem história para isso.

Mas, que é bem melhor conviver com idéias vencedoras, isso é.

 

Topo da Pagina topo da páginaPerplexidade

Hoje fiquei sabendo que o então presidente daquela que é considerada a maior democracia do mundo cogitou o uso da bomba atômica na guerra do Vietnã.

Como sempre acontece, aquela foi uma guerra mais econômica que ideológica. Com certeza, estúpida como todas as guerras.

Na do Vietnã, o já na época maior arsenal bélico do mundo não conseguiu derrotar nem o inimigo externo (os vietcongs), nem o inimigo interno (a opinião pública americana).

Alguém se achou no direito de conceber tamanha maluquice, mesmo sabendo das terríveis conseqüências do anterior uso de artefatos atômicos muito menos poderosos que os similares disponíveis nos anos 70.

O meu susto não foi pelo fato de o episódio envolver uma grande nação, que vive tentando dar lições de liberdade e de respeito aos direitos da pessoa humana, apesar de, por exemplo, lançar mão de táticas ilegítimas para aviltar os ganhos de países como o Brasil, quando para eles exportam, ou para evitar o controle de poluentes,  esistindo ao chamado “Protocolo de Kioto”.

Que o ser humano tem sido sempre pior do que antes todo mundo já sabia. Mas, o que imaginar da “produção intelectual” desses chamados líderes da atualidade ?

É... Saber e Sabedoria são realmente valores muito diferentes.

 

Topo da Pagina topo da páginaA Emoção faz a diferença

Troço chato é formatura. Os rituais são sempre parecidos; os discursos e os  conselhos, as luzes, as fotos, as becas...

Dia desses eu fui a uma dessas solenidades. Aliás, fui a duas nos últimos meses.

É que as “crianças” vão crescendo e compartilham essas ocasiões com os mais velhos.

E, como da outra vez, lá estava uma menina que vi crescer.

Testemunhei os muitos esforços no vestibular para a faculdade pública; a luta durante o curso, os estágios, o sono adiado. Afinal, o objetivo alcançado.

Carreira dura, testemunho da vida, do sofrimento, da morte... e o convívio com os números. Afinal, por que não se traduz em números o impacto social da riqueza? Talvez porque ninguém morra de fartura.

Mas, as formandas de beca, chapéu e tudo, dançavam, faziam troça atrás daquela mesa sisuda e empertigada.

Tem sido bom confirmar que, em eventos como iniciações, cultos religiosos, aniversários, visitas hospitalares e... até formaturas, o grande diferencial é o sentimento dos protagonistas, seja daqueles que caminharam, seja daqueles que testemunharam a caminhada.

Eu tenho tomado banhos de emoção nessas ocasiões.

Valeu Daniela. Valeu Roberta.

 

Topo da Pagina topo da páginaVidas Secas

Algo me diz que estou na contramão.

E aquela voz lá de dentro pergunta: Mas como é que você não assiste a um programa de TV tipo (agora é moda falar tipo) sucesso em boa parte do mundo civilizado?

Por que você não se interessa, como a maioria, pelo que acontece em uma casa fechada cheia de pessoas, públicas ou não?

A gente pode ficar ali, espiando tudo, até as intimidades!

E vem a sensação que deve ser parecida com a daquela mulher que conheci e que não podia ir a enterros. Algum mecanismo nervoso disparava nessas ocasiões e ela era acometida de um incontrolável acesso de riso. Ela não mais ia a eventos fúnebres, não somente para não “pagar mico” mas, especialmente, para preservar a sua integridade.

Ou seja, estou com a impressão de que sou “do contra”, de que não aceito aquilo que os outros aceitam ou consomem na maior naturalidade. Por que essa inapetência de curiosidade sobre o que se passa na vida privada de pessoas que renunciaram à privacidade?

Que ambiente é esse em que multidões de telespectadores “investem” boa parte de suas existências para “fuxicar” sobre o alheio?

Ainda no tempo em que não existiam as TVs a cabo, e as TVs abertas saiam do ar a uma certa hora da madrugada, eu era plantonista do CVV e os telefones do posto “disparavam” logo após o “chuvisco” tomar conta do último canal.

Na época, as pessoas, sem a opção da fuga para a TV, davam-se conta de suas  angústias e ligavam para um serviço que se propunha (e se propõe) a escutar pessoas solitárias (mesmo aquelas fisicamente acompanhadas).

Bem, pelo visto, boa parte desse contingente que ia para os telefones passou a esquecer as suas angústias mexericando o alheio.

Serão os sinais dos tempos?

 

Topo da Pagina topo da páginaIncoerências

Ir para então voltar.
Rir pra não chorar.
Mentir pra esquecer.
Trair pra mais querer.

Procurar se não quero achar.
Estudar só pra esquecer.
Voltar pra então partir.
Resolver pra complicar.

Amar só pra ganhar.
Recuar, se quero chegar.
Odiar, se vou crescer.
Terminar pra renascer.

Guerrear pra depois dormir.
Acalmar, não apaziguar.
Acarinhar antes de ferir.
Amar pra depois matar?

 

Topo da Pagina topo da páginaPaixões

Juntamente com o ódio, o medo é a mais triste das paixões tristes. Quem o sentiu sabe...
Marilena Chauí, filósofa.

Como diriam os adolescentes, a filósofa “pegou pesado” com esses dois sentimentos que, não raro, separados pelas emoções, acampam em nós. Ou, pior, às vezes até juntos.

Não creio na capacidade, de quem quer que seja, para descrever o ódio ou o medo.

Atingido por um desses “vírus”, o ser humano fica irrreconhecível. E não me venham os “experientes” narrar situações passadas e bem sucedidas.

Não. Não vale! Somente aquele que está sentindo – e no momento em que está sentindo – estará autorizado a dizer algo confiável.

E o intérprete há de estar preparado para a “coleta” do material sem infectá-lo com preconceitos. Ou inutilizará a “experiência”.

Também aqui o Gilberto Gil tem receitado um instrumento infalível: “a lente do amor”, pela qual as impressões podem ser colhidas de forma isenta, pelo efeito da assepsia própria desse sentimento maior, o que não permitirá que as impressões do “que está sendo” desfigurem as aparentes incoerências do pesquisado.

Serão essas incoerências que darão as dimensões e a silhueta do tipo de paixão ou de medo que está acometendo no momento.

 

Topo da Pagina topo da páginaFlagelo Humano

Carregando minhas imperfeições, sou daqueles que pensa que a vida sempre  merecerá uma chance.

Confio em que, por mais nublado que seja o tempo, sempre haverá a espera pela luz do sol, que virá, trazendo a vida e revelando as cores.

Mas, há fatos que abalam essa certeza.

Hoje a imprensa noticiou um episódio que, se confirmado, prejudicará muito mais que a um ser, mas toda a sua espécie.

Segundo a matéria, um dos mais conceituados terapeutas, meu vizinho aqui do Brooklin (aliás, o meu bairro não tem dado muita sorte com os seus moradores, porque o cativeiro do publicitário Washington Oliveto também ficava aqui perto de casa), dopava os seus pacientes adolescentes para com eles praticar aquilo que a lei chama de “atos libidinosos”.

Recomendam prudência alguns episódios escandalosos do passado, depois esclarecidos como lamentáveis erros de diagnóstico das autoridades e terríveis “barrigadas” da imprensa.

Como integrante da espécie humana eu torço para, no final, tudo não passar de um terrível equívoco.

Mas, e se não for? E se o tal profissional realmente se aproveitava do seu ofício para dar vazão às suas taras?

Bem, aí eu não vou saber o que dizer...

Como poderá um ser humano conviver com essa degradante exposição? E os seus familiares? E os jovens atacados? Suas famílias?

Como é complicado o ser humano!

 

Topo da Pagina topo da páginaO Magistério dos Reprovados

Triste, não fosse cômico, que governantes de certos países e integrantes de alguns organismos internacionais repitam, ao Brasil e a outras nações do (lamentavelmente) chamado terceiro mundo, lições e lições de humanidade, de civilidade, de ética e de tantos outros valores tão ou mais importantes.

Não ignorando os deprimentes índices de desenvolvimento humano aqui da nossa terrinha querida e de muitos outros lugares desse mundão afora. Mas, como podem ditar regras ao mundo sociedades que:

– têm grande parte do seu PIB originado no comércio de armas;

– fomentam guerras sanguinárias;

– patrocinam políticas de restrição a exportações de povos emergentes;

– impõem caros modismos a essas sociedades, aumentando a alienação da sua gente;

– fecham os olhos ao consumo de drogas dentro das suas fronteiras, aumentando a  importação” de narcóticos dessas Sociedades cada vez mais miseráveis;

– restringem o desenvolvimento dessas sociedades, sucateando crescentemente o seu parque industrial;

– privilegiam grandes interesses econômicos em prejuízo de vidas humanas (vide o caso das patentes dos remédios integrantes do “cocktail” anti-HIV);

– empurram-nos goela abaixo o seu lixo cultural; e

– rejeitam tratados internacionais destinados a controlar o aquecimento do Planeta Terra.

Não estaria na hora de dar um espelho para essa gente?

 

Topo da Pagina topo da páginaNão tenho Tempo

Não tenho tempo porque:
administro mal o meu tempo;
não sei escolher as minhas prioridades;
não desenvolvi a sensibilidade de saber o que é mais importante na minha vida.

Não tenho tempo porque gasto o meu tempo cuidando da vida alheia, tentando que as pessoas pensem que eu tenho mais importância do que realmente tenho.

Não tenho tempo porque me deixei levar pelas futilidades; pelas etiquetas da moda; por um carro em que algumas letrinhas a mais indicam maior luxo.

Não tenho tempo porque, na verdade, penso ser mais importante do que os demais e, assim, não tenho tempo para notar que involuo na direção do atraso.

 

Topo da Pagina topo da páginaComportamento

A TV tem mostrado algumas situações em que as pessoas agem de forma quase instintiva, reproduzindo hábitos ruins em prejuízo de toda a sociedade.

Fica a impressão de que os veículos passaram a donos dos espaços e a certeza de que as pessoas assumem uma personalidade diferente quando pilotam suas máquinas.

No Rio de Janeiro, o estacionamento sobre as calçadas e a velha mania dos taxistas, que fazem xixi dentro dos túneis.

Em São Paulo, passa de pai pra filho a “tradição” de buzinar quando se está dentro dessas passagens subterrâneas!

Eu tenho certeza de que você, leitor, saberá de outros comportamentos que nem o praticante, se indagado, saberá explicar. Realmente deve ser complicado justificar:

– o despejo de objetos (camas, pneus, etc) dentro dos rios;

– atirar-se objetos pela janela dos veículos e das residências;

– a pixação de paredes e de monumentos;

– que alguém “force” terceiros a ouvirem músicas de gosto duvidoso, em alto som e nos horários mais impróprios.

Sobre forçar os outros (pelo volume dos rádios de seus veículos ou de suas casas de espetáculos) a ouvirem as suas canções preferidas, eu fiquei sabendo de um  antídoto”.

O pessoal de um certo condomínio de um elegante bairro paulistano, incomodado com o som que vinha de uma casa noturna, alugou um trio elétrico que, durante toda a noite, executou música clássica na porta do estabelecimento. Foi um escândalo, mas o problema foi resolvido.

Um estudo de pós-graduação na USP indicou que as pessoas têm, no subconsciente, a certeza de que, fora do seu veículo ou da sua casa, está um outro “mundo”,  diferente daquele em que elas vivem.

É notório que esse outro “mundo” não tem merecido o menor respeito.

E aí eu identifico a punição como o único caminho. Será?

 

Topo da Pagina topo da páginaSe a Vida Imitasse a Arte...

Hoje acompanhei Arthur Rangel, meu sobrinho de nove anos de idade, ao ensaio da peça Alice no País das Maravilhas, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, produzido e estrelado por ninguém menos que Luana Piovani. É a segunda peça  profissional desse talento teatral precoce.

Cansativo como todo ensaio, a oportunidade serviu para eu matar saudades de uma breve incursão teatral na minha pré-adolescência. Fiquei impressionado com o empenho do diretor. Detalhes técnicos, como posicionamento no palco ou expressão facial de cada um dos catorze atores, em cada uma das cenas; ações isoladas aqui e ali para aprimorar o trabalho final.

Lembrei de um antigo ensinamento de que a autoria de um espetáculo é completada em cada montagem. Em cada encenação, por diretores e atores.

Era visível a  dedicação e a humildade dos que estavam envolvidos no trabalho.

Na coxia, atores e gente de apoio integravam-se em trabalhos que iam desde encher garrafas com água mineral (adquirida em galões para economizar dinheiro da produção) até a compra da alimentação do elenco.

Na platéia, opinavam livremente, assistentes e atores que não estavam ensaiando no momento.

O diretor ouvia tudo, acatando ou não as observações, mas jamais inibindo intervenções e até subindo ao palco para demonstrar exatamente o que queria que fosse feito.

Era intensa e sincera a dedicação dos atores no palco, repetindo cenas ininterruptamente, sem a menor expressão de desaprovação, tudo por uma grande estréia no dia primeiro de fevereiro.

Até lá, ensaios intensos todos os dias, inclusive fins-de-semana. Oito horas por dia.

Ah, se aqui fora as pessoas fizessem o seu trabalho diário com tamanha dedicação e humildade! O nosso País não teria problemas.

 

Topo da Pagina topo da páginaDomingo à Noite

Semana.
Uma finda outra começa.
Eu aqui, sem pressa,
pra segunda chegar.

Dá uma certa agonia,
pelo que vem, mais um dia.
A preguiça a ameaçar.

É algo que ninguém explica.
Um sentimento sarcástico,
que a música do Fantástico
vem só pra anunciar.

Quem sabe, um amanhã melhor, ou pior?
Que besteira!
Também podem vir progressos.

Mas o que eu não evito,
e assim com muito dó,
é que daqui a pouco, na esteira,
será mais uma
segunda-feira.


Topo da Pagina topo da páginaA Mesma Máscara em Diferentes Rostos

Vivo em um País com uma das maiores cargas tributárias do mundo.

Não é incomum a comparação do apetite das autoridades brasileiras para cobrar tributos como equivalente apetite de governantes de outros países.

Não se pode negar que há (poucas) sociedades mais tributadas que a nossa.

Mas angustia o resultado da comparação, com a nossa realidade, da quantidade/qualidade dos serviços que os outros governos oferecem aos seus governados, em troca do que recolhem em tributos.

Somos uma Sociedade que cobra muitos tributos de poucos, quando o ideal seria a cobrança de poucos tributos de muitos.

E as autoridades brasileiras não têm demonstrado disposição em mudar as coisas. Entra governo, sai governo. Mais à esquerda, mais à direita ou ao centro. E sempre uma marca comum: O apetite de tributar.

E não adianta esperar uma breve mudança do quadro. No poder, gente dita  progressista” liberaliza posições e gente, digamos assim, “liberal” agrava a carga de impostos.

Afinal, já disse o inspirado observador das coisas da política: “O poder é como o violino: Toma-se com a esquerda, mas toca-se com a direita”.

E a coisa fica ainda mais grave se o “músico” for ambidestro.

 

Topo da Pagina topo da páginaNo Celular

No restaurante de comida natural, nada mais artificial. Toca o celular:

– Alô... Tá... Tá...

– Aceite o cheque dele pra ele parar de encher.

– Eu vou correr o risco, tudo bem.

– Tchau.

E o assunto deve estar encerrado na cabeça dele! Ou não!

E a irritante musiquinha do celular volta a tocar. Agora, depois de alguns grunhidos, o homem desliga.

Será que ele agora volta de corpo e alma, ou seja, integral, para o seu arroz com feijão?

No caso, o termo “integral” continua ligado à dedicação e não ao arroz. Estávamos, enfim, em um restaurante vegetariano.

O celular já foi sinal de status. Hoje, se o seu uso não for regrado pelo bom senso, o tal aparelhinho pode denunciar falta de educação.

Como tudo na vida, os bens de consumo chegam como novidade e, como tal, submetem uma legião de cativos que passa a ser massacrada com mais essa “necessidade”, que veio não sei de onde para integrar (ou estragar?) a vida da gente.

Não costumo implicar com as novidades. Até gosto delas. Apresentar-se como “moderninho”, afinal, pode ter lá o seu charme.

Mas, já passa da hora de as pessoas descobrirem que estão virando propriedade de coisas; possessão de aparências; consumistas de tudo, templos do nada.

 

Topo da Pagina topo da páginaChamem o Ladrão

Os jornais noticiam que um preso (com folha penal, guardadas as devidas proporções, comparável a um engarrafamento de uma grande cidade em dia de chuva), de dentro da cadeia e sob pressão policial (em troca de garantia de sobrevivência na prisão), ordenou aos seus, digamos assim, gerenciados, que soltassem duas irmãs, que eram mantidas em cativeiro há quase trinta dias.

Eu não consigo imaginar os termos desse “pacto” polícia x bandido. Mas, fico aqui a pensar, como um ser com tamanho histórico penal, preso, ainda decide a vida de duas pessoas aqui fora?

Também é complicada a compreensão da decisão de policiais de, em troca de algo, garantirem a integridade do preso, como se essa garantia não devesse vir naturalmente do Estado.

É sabido que a violência não é apenas problema das autoridades que cuidam de segurança. É claro que essa é uma preocupação de todos nós, porque, em verdade, cada um pode fazer um pouco pela solução: educando as crianças; não fugindo das suas obrigações familiares; não consumindo drogas (e, assim, não sustentando o traficante); não comprando objetos quando o baixo preço e o tipo de “comerciante” denunciam tratar-se de produto de crime, etc.

Aliás, já pensaram no efeito de um pacto silencioso, pelo qual todas as pessoas, ditas “de bem” que, mesmo eventualmente, consomem drogas, deixassem de fumar o seu baseado ou de cheirar a sua carreira de cocaína?

Enfim, se o segmento social hoje “consumidor”, de repente deixasse de comprar drogas e/ou itens de menor grau de periculosidade, de procedência duvidosa?

Então, a demanda deixaria de existir e os “agentes econômicos” do crime perderiam o interesse pela aquisição da “matéria prima”, pelo desenvolvimento da “infraestrutura” da “industrialização”, da “distribuição” e da “comercialização” de seus “produtos finais”.

Teríamos, assim, aquela utopia cantada pelo Raul Seixas na música “No dia em que a Terra parou”, quando, por falta de efeito, as causas iam sendo deixadas de lado.

 

Topo da Pagina topo da páginaProcesso Contínuo

Sou inteiro aos pedaços.
Estou aterrado no espaço.
Livre por falta de algemas.

Sou a incoerência em vida.
Sou a inconsistência sentida.

E pra que tanta lógica,
de um caminho traçado,
de um tempo previsto,
de um amor desgastado?

Eu prefiro a surpresa,
irmã da beleza,
filha da sedução.

É que o previsto sufoca.
Um caminho sem volta que
empobrece os sentidos.
A vida desbota.

É que, para o bem de todos
e a felicidade geral deste mundão,
nada estará completo,
o progresso natural vem aos poucos,
aos tropeços, assim mesmo, à prestação.

 

Topo da Pagina topo da páginaO Exemplo de Alicante

Segunda-Feira ao Sol. É o título de um filme espanhol premiado no Festival de Gramado, Rio Grande do Sul.

Trata de dramas de trabalhadores demitidos por um estaleiro local, sob os efeitos danosos de uma concorrência desleal vinda da Ásia.

É um trabalho denso, que coloca o espectador diante de uma realidade dura, que passa pelo aviltamento da condição humana ambientado na miséria, na bebida e até na espera chorosa de uma criança pela mãe, em um carrinho providencialmente deixado no corredor, enquanto esta se prostituía no quarto em frente.

Há, naturalmente, um certo humor negro. Algo que seria até cômico, se o enredo não fosse triste.

Pessoas acabam lançando mão de expedientes, até mesmo toscos, na busca da sobrevivência em um ambiente hostil, em que a crueldade tem um significado: A concorrência predatória de gente que, aproveitando “brechas” legais na sonegação de tributos e de direitos sociais, age especialmente para acabar com empresas concorrentes e, depois, dominar o mercado, ditando as regras, especialmente de preços, sempre em prejuízo dos consumidores.

E esse fenômeno também está presente aqui no Brasil. Para esse mal alguns remédios: criatividade, governos sensíveis, responsabilidade social, teimosia consciente, enfim.

 

Topo da Pagina topo da páginaPobres Meninos

A triste condição social do nosso povo praticamente direcionou o sentimento coletivo de dó daquelas crianças que, abandonadas pela inconseqüência de quem os fez e pela insensibilidade de toda a Sociedade, nos abordam diariamente nos sinais de trânsito.

Mesmo quando nos assaltam, normalmente elas são esquálidas, de pés no chão, maltrapilhas, sem endereço, de olhar triste, como se, em uma acusação silenciosa, defi nissem a nossa parcela de responsabilidade por toda essa miséria humana que nos cerca, fazendo-nos sentir culpados pelo simples fato de termos o que comer e o que vestir.

Mas, nos últimos dias, a imprensa nos tem constrangido (isso é inevitável nesse trabalho, que apenas mostra a realidade) com notícias reiteradas sobre dois meninos, mal saídos da infância. Um vive ali no Campo Belo, em São Paulo, capital e o outro em Goiânia, Goiás.

Bonitos, bem cuidados, tudo indica que eles foram criados com amor e carinho, em famílias de bom poder aquisitivo, por pais presumivelmente amorosos e conscientes do que deviam fazer para que eles tivessem todas as perspectivas de um futuro brilhante.

Há cerca de quinze dias era essa a realidade desses dois adolescentes. Até que o de São Paulo foi levado pela sua irmã para um cybercafé. A seguir, ela mesma, a irmã, o namorado desta e o irmão do namorado, estúpida e covardemente mataram os pais da primeira, que estavam dormindo.

Já a outra vítima de Goiânia, dias após a morte do homem que tinha como pai biológico, ficou sabendo que não é filho biológico do casal que o criou. A  ignorância do garoto tinha origem conhecida: os crimes daquela que tinha como mãe.

Isso não é nada, dirão aqueles que ficarem na primeira análise. Mas, o Pobre Menino – Versão II também ficou sabendo que fora seqüestrado da maternidade no primeiro dia após o seu nascimento e, o que é pior, que a autora do seqüestro fora aquela que dizia ser sua mãe.

Em São Paulo houve mais que dois assassinatos. É que o Pobre Menino I teve brutalmente mortos o pai e a mãe.

A desmiolada da irmã, agora na condição de presidiária, poderá inspirar-lhe qualquer outro sentimento, menos o de uma irmã, no verdadeiro sentido da palavra.

O de Goiânia, pelo menos, ganhou de volta os pais biológicos que lhe haviam sido tomados.

Ambos, desgraçadamente, perderam a inocência.

 

Topo da Pagina topo da páginaCompra e Venda

A consciência não impede a ninguém de cometer um pecado. Impede, apenas, de gozá-lo em paz.
Autor Desconhecido

Compro emoção, coração, intenção, amor sem paixão.
Vendo depressão, ilusão, aversão, sem perdão

É que eu estou no mercado de gente.
Eu já sou indiferente ao temor mudo,
ao clamor surdo.
Eu não preciso,
mas pago por tudo.

Compro o que quero.
Sei, é insincero, e daí ?
É, do que sobrou, nada mais espero,
Nada no porvir.

Porque o que me resta, na certa,
São portas abertas,
mas pra sair.

 

Topo da Pagina topo da páginaConfeitaria Colombo

Manias. O poeta já escreveu que a gente as tem e não sabe por quê.

Há quase 25 anos na condição de “extraditado” da cidade do Rio de Janeiro e exilado na querida São Paulo, em algum dia entre dezembro e janeiro eu saio pelo centro do Rio, sozinho, a andar sem rumo.

Compro uma besteira aqui. Entro em um ambiente ali, certamente em uma inconsciente busca de um tempo vivido nessa cidade tão bonita e tão maltratada pela sua própria gente, a começar pelo que emerge das urnas.

Justiça seja feita, há pontos históricos muito bem cuidados e tristemente ignorados por boa parte da população do Rio, às vezes desinformada sobre significados,  história, bem como que uma simples visita representa enriquecimento cultural a custo zero ou perto disso.

Hoje fui ao Paço da Cidade, na Praça XV de Novembro. Esse prédio serviu de habitação para a Família Real Portuguesa, quando esta se transferiu para o Brasil fugindo de Napoleão.

No paço, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea que acabou com a escravidão, algo que a minha mãe (cujos avós tiveram escravos) me apresentou como a maior chaga da história do Brasil.

Ultrapassada a desrespeitosa instalação do então Departamento de Correios e Telégrafos, o local foi revitalizado como um centro cultural, com o resgate de sua ambientação histórica, instalação de livrarias, de pequena sala de cinema, de exposições de artes.

Lamenta-se o mal sem remédio da construção (por uma Universidade, vejam!) de um “espigão” no espaço existente no meio de um outro prédio histórico, em forma de “U”, integrante do conjunto em que residiu Dona Maria, a “Louca”. De qualquer forma, pelo menos foi recuperada uma “jóia histórica” no centro da cidade.

Caramba... Tudo isso pra dizer que, na tal livraria eu folheei um trabalho sobre a Confeitaria Colombo, inaugurada em 1894 e que continua funcionando na Rua Gonçalves Dias no 32/36.

Então, passou um ”filme” pela minha cabeça.

Lá pelos anos sessenta, algumas vezes eu lanchei na Colombo com o meu pai e com meus irmãos.

Eram tempos complicados e, apesar do dinheiro curto, de vez e quando o meu pai nos dava o prazer de lanchar naquele belo lugar, quando ia ao centro da cidade comprar aviamentos para o seu trabalho de alfaiate.

Na volta, era certa a briga com a minha mãe que, mais “pé no chão”, se preocupava com os “efeitos orçamentários” daquele excesso na nossa frágil economia doméstica, até porque, o Seu Cleto ainda completava a peraltice comprando alguns discos de 78 rotações para a sua vitrola.

Conclusão: Hoje lanchei na Colombo mais pelo “apetite” da saudade do que o do estômago.

Ao lado, em uma sacola, um “vinil” de 78 rotações, (que talvez jamais ouvirei, pelo menos antes de realizar a planejada compra de um prosaico gramofone), tudo compôs aquele acidental mosaico de emoções.

 

Topo da Pagina topo da páginaJogo de Empurra-Empurra

Recentemente uma emissária da ONU, indiana, vinda de um país em que as pessoas são divididas em castas, com direitos e, especialmente, com obrigações diferenciadas, esteve no Brasil ouvindo pessoas que foram vitimados pela violência da polícia ou de grupos de extermínios.

Dois desses sobreviventes foram assasinados dias depois de serem entrevistados pela tal emissária.

Quando se avistou com o presidente do Brasil, a representante da ONU sugeriu que o nosso Poder Judiciário fosse avaliado por um organismo internacional, visando a diminuição desses absurdos.

E, na linha do estica e puxa entre o chefe do Poder Executivo e o Chefe do Poder Judiciário, o primeiro expressou concordância com a bizarra sugestão, certamente para acirrar a picuinha com o outro.

No dia seguinte, um dos Ministros do governo ainda colocou mais lenha na fogueira ao atribuir exclusivamente à Justiça a responsabilidade pela criminalidade que atinge a todos.

Pois bem, é necessário que os ocupantes de cargos públicos (seja do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário) passem a meditar um pouco mais sobre o que falam ao povo, até porque a desmoralização só beneficia os golpistas de plantão, sempre dispostos a investir no “quanto pior melhor”.

Ora, Senhores Presidentes da República, do Supremo Tribunal Federal e das duas casas legislativas federais, façam-nos o favor de parar com esse bateboca inconseqüente e admitir que, quando o cidadão mofa quatro, cinco horas em uma Delegacia de Polícia simplesmente para fazer um registro de uma ocorrência que, sequer, deveria ter acontecido, não terá sido por culpa da Justiça.

Por outro lado, o Poder Judiciário não pode ser responsabilizado; a não ser quando leva ao infinito discussões estéreis ou quando deixa os processos dormindo nas prateleiras, por anos, sem que nada aconteça.

Também, se leis anacrônicas continuam vigentes, enquanto os membros das duas casas legislativas preservam uma certa alergia ao trabalho, não se poderá responsabilizar os dois outros Poderes.

Enfim, excelências, organizem-se, trabalhem e parem de jogar o conhecido jogo de empurra-empurra, evitando que a população, também portadora de certa dose de culpa, permaneça entregue à sua sorte e nas mãos dos inescrupulosos, esses sempre muito bem organizados.

 

Topo da Pagina topo da páginaA Religião e a Paixão Humana

Religião é definida(*) como crença na existência em uma força ou em forças sobrenaturais, considerada(s) como criadora(s) do Universo e que, como tal deve(m) ser adorada(s) e obedecida(s).

Pelo menos aos olhos de alguém que apenas observa, mesmo que pela lente da compreensão, nenhuma das religiões pode “atirar a primeira pedra”. Nenhuma delas pode garantir que todos os seus seguidores renunciaram ao caminho do fanatismo, vacinados contra a miopia da paixão.

O milagre da vida ignora religiões e exageros. O oxigênio, o maior canal de ligação entre o vivente e o ambiente que o cerca, continua invadindo pulmões, vivificando células e, assim, renovando continuamente a existência, apesar e acima de todas as doutrinas, rituais e regramentos.

E milagres muitas vezes são atribuídos àquele que muitos olham como a um velho rabugento, cheio de manias e de poder, que vive a mandar raios, trovões e castigos àqueles que o desobedecem e a premiar os disciplinados.

Tudo isso é muito esquisito aos olhos de alguém que não se contenta em atribuir as suas inquietudes aos “mistérios da fé”.

Ouso abstrair conotação religiosa para, à minha moda, falar de Deus, sabendo que, para muitos, isso é mesmo impossível. É que eu não consigo pensar o criador com as mesmas características, especialmente os defeitos, fraquezas e paixões do tal do ser humano.

Mas, a recíproca não é verdadeira. Até aos olhos mais desconfiados, são notórios sinais superiores na espécie humana e em tudo que a cerca. Então por que tanta coisa errada aqui no nosso planeta Terra?

Por que tanto se mata em nome de Deus?

Nada tenho contra as religiões. Elas realmente são úteis. Mas, não estaria na hora de o acessório deixar de ser encarado como principal?

Essa pergunta andou me incomodando por muito tempo. Mas, aí veio o socorro de amigos que já não estão por aqui.

É que o tal do ser humano está em contínua construção (não seria demolição, tal a bagunça que anda acontecendo aqui no nosso pedaço?) e a “edificação” é assim mesmo cheia de contratempos e de acidentes de percurso.

É desse processo de edificação que acaba vindo a maturação que fornece a sensibilidade, a paciência para o aprendizado, a coragem para a ruptura e a sabedoria para se identifi car uma situação da outra.

Isso poderá nos consolar diante das besteiras que a nossa raça humana vem praticando, ainda que movida por um “combustível” perfeito, ou seja, o Divino.

* Novo Dicionário Aurélio

 

Topo da Pagina topo da páginaTerapia ao Terapêuta

O caminho do centro
é menos arriscado.
É só ir em frente,
não olhar pros lados.

Quando eu era criança,
minha mãe dividia
alimentos e dramas
e eu nem sabia.

Hoje, depois de tudo,
nada sei, continuo,
não falo, mas não sou mudo,
nada é claro, nada é tudo.

E lá vamos, todos,
remexendo lá de dentro
do nossos porões, os nossos lodos,
passando pros outros
algo falso, meio invento.

É fato bem sério,
coisa de maluco,
dito bem alto, em estéreo,
ouvido com espanto,
que todo mistério
tem seu lado de encanto.

 

Topo da Pagina topo da páginaMorto-Vivo ou Vivo-Morto?

Após o expediente, quatro pessoas ainda trabalhavam. De repente ouço o choro (fingido, depois descobri) do Paulo Rogério de Oliveira, meu querido irmão, amigo e sócio.

Como ele estava em outra sala, cheguei a ficar assustado, imaginando que ele tivesse recebido, por telefone, alguma notícia grave.

Mas ele chegou rindo, trazendo nas mãos uma carta, endereçada à sua Família, na qual a Ordem dos Advogados do Brasil, Secção São Paulo, comunicava que o Conselho Seccional deliberara consignar, em ata de seus trabalhos de 25 de fevereiro de 2002, voto de profundo pesar pelo falecimento dele mesmo, o advogado Paulo Rogério de Oliveira.

A sensação foi meio esquisita. Estávamos diante de um morto-vivo ou de um vivo-morto? Então a resposta foi inevitável:

“São Paulo, 07 de março de 2002
Ao Conselho Seccional de São Paulo
Ordem dos Advogados do Brasil
At. Sr. Presidente Carlos Miguel Aidar
Ref.: Eu Estou Vivo!!!!!
Senhor Presidente
Sensibilizado, hoje recebi uma carta endereçada à minha Família, comunicando que esse Conselho Seccional deliberou, à unanimidade, consignar, em ata de seus trabalhos, voto de profundo pesar pelo MEU FALECIMENTO.

A homenagem é bela, mas imerecida, uma vez que, conforme atestam meus colegas, também advogados, EU ESTOU VIVO.

Peço o cancelamento de eventuais anotações decorrentes do pretenso óbito, na expectativa de que, pelo menos, no Século atual, eu não justifique tamanha honraria.

Atenciosamente
Paulo Rogério de Oliveira
OAB/SP 105.754”

Ao final, dois outros profissionais atestaram que presenciaram a assinatura do texto pelo remetente, vivo.

 

Topo da Pagina topo da páginaInocência

Eu gosto da madrugada. O silêncio, o amor, a leitura, a escrita e, até mesmo, o sono, tudo parece mais inspirado.

Fico com a impressão de que, durante a noite, o mundo resgata a inocência perdida durante o dia.

Os médicos vivem dizendo que, antes da meia noite, o sono vale o dobro, em comparação com o sono após essa hora.

Eu até acredito nisso. Mas, como já disse o Jô Soares, três da madrugada por aqui não equivaleria a 21:00 horas em qualquer outro lugar do universo?

E se a natureza, por assim dizer, “acertou” o meu relógio biológico com o horário vigente num desses lugares distantes?

Afinal, o problema não está na madrugada. Está na obrigação social de levantar cedo no dia seguinte, destruído de sono.

 

Topo da Pagina topo da páginaO Saber Dividir as Coisas

Sempre ouvi dizer da importância de se saber dividir bem as coisas. Problemas pessoais só serão tratados em casa e questões profissionais apenas do ambiente de trabalho.

Se houvesse um concurso de máximas inúteis, com certeza essa seria muito bem colocada.

É que em casa, no trabalho, no jogo de cartas, no clube, no trânsito, na praia, ufa... na vida, o ser humano é único. Com seus ganhos e perdas; defeitos e qualidades; lágrimas e risos.

Não consigo imaginar a arrogante autoridade, após o término do expediente, repentinamente transformada em um pai ou em uma mãe carinhosa. Afinal, ninguém dá o que não tem.

Se o homem quer sinceramente mudar o seu comportamento, que o faça em uma sincera e ampla reforma íntima.

E só haverá reforma se for completa. Se incompleta, não será reforma. Será uma retocada na imagem.

 

Topo da Pagina topo da páginaConfusões de um Apagão

Domingo de julho de 2001. De férias e “escalado” pela sogra, lá estava eu, com o meu filho Vinícius, no Barra Shopping, Rio de Janeiro, local em que a concessionária de energia elétrica instalara um quiosque para receber pedidos de revisão das metas de consumo.

Segundo as regras, aqueles consumidores que não questionassem a meta de consumo antes estipulada pela empresa, poderiam ter agravado o valor de sua conta de luz e, até mesmo, interrompido o fornecimento de energia elétrica.

E muitas pessoas tinham argumentos para questionar a tal meta. Era o caso que a sogra pensava ser o seu.

Cheguei cerca de duas horas antes de começar o atendimento. Não havia ninguém no tal quiosque improvisado. Mas, em frente, já se formava uma considerável fila, caótica, como sempre.

Eram mais de cinqüenta pessoas, cada uma com a sua história, alguns com formulário e outros sem ele. Mas todos na frenética busca daquele “passaporte” que daria direito a uma análise do seu caso pela concessionária quanto à meta pré-estabelecida.

Como o local do atendimento fi cava em uma miniatura de “anfiteatro”, com o ponto de atendimento na parte mais baixa, as pessoas se espalhavam por ali mesmo, sentadas nos degraus, nos bancos, umas guardando lugar para outras, enfim, aquela babel que marca as filas.

No grupo, um senhor já começou a falar de temas religiosos, entendendo que aqueles problemas já eram sinais dos tempos, em que o homem começaria a experimentar os resultados de suas ofensas a Deus.

Algumas professoras, donas de casa, aposentados, profi ssionais liberais também compunham aquela “tribo” de desesperados, empurrados para aquela situação mais pela incúria dos governantes do que pelo mau humor do Criador.

A coisa começou a se complicar quando lá estavam uns cem consumidores. Então, uma das professoras teve a idéia de improvisar senhas, escrevendo números seguidos para distribuí-los às pessoas, evitando, assim, os confrontos que já aconteciam entre os que chegavam e os que lá estavam.

Prontifiquei-me a ajudar, distribuindo as tais senhas que as professoras confeccionavam.

No início até que a idéia foi bem aceita, porque os que já estavam no local já haviam adquirido certa “familiaridade”, uns com os outros.

Mas, aqueles que iam chegando depois (o número das senhas já se aproximava de cento e cinqüenta), informados pelos demais da necessidade da retirada do tal “bilhete”, já chegavam meio mal humorados:

– Você, pode me dar a senha? Mas que bagunça, ao invés de começarem o atendimento logo, inventam esse negócio de senha.

Ponderei que não trabalhava na concessionária. Só estava ali ajudando.

– Ora, se não trabalha lá, tá aí só inventando moda! Eu não vou é respeitar senha nenhuma!

Aí a coisa começou a complicar porque a fila original (mesmo caótica) já não existia mais em razão das tais senhas.

E o bate-boca continuou até que os insatisfeitos concordaram em pegar a senha, mas com indisfarçável má vontade.

Eu já estava preocupado. Numa enrascada apenas porque tentei ajudar...

Felizmente vi primeiro quando o pessoal da concessionária chegou, pouco antes da hora marcada para o início do atendimento. Fui até eles e expliquei que, para organizar melhor a espera, havia participado do mutirão das professoras e que o único jeito dessa atitude não gerar mais confusão seria que a ordem das senhas fosse respeitada.

Felizmente, os meus argumentos foram aceitos e, quando a minha senha sessenta e dois foi chamada, suspirei aliviado. Fui embora sem olhar pra trás.

A minha sogra não teve revista a sua média, mas eu me livrei de uma boa encrenca.

 

Topo da Pagina topo da páginaAlô Alô

– Alô, quer falar com quem?

– Preciso falar com o Dr. Eduardo.

– Quem deseja?

– É um cliente dele, João Gualberto. Mas, senhorita, eu não estou desejando, aliás, pela minha condição de heterosexual, nada me leva a crer que eu venha a desejar o advogado.

– Hetero o que? Eu acho que o cara é um gay... (cochicha a atendente com a colega ao lado, tendo o cuidado de colocar a mão no bocal do telefone).

– Mas ...

– Senhor, eu preciso saber o seu nome e de que assunto que o senhor quer tratar e o número da pasta. Só assim eu vou poder “tá anunciando”, bem!

– Mas, eu não quero que a senhora anuncie nada. Aliás, eu liguei para um escritório de advocacia ou para uma agência de propaganda?

– Aqui é de um escritório de advocacia, mas, quem deseja falar, por favor?

– Eu já disse. É João, João Gualberto.

– Olha, bem, é que ele não está, deu uma saidinha e volta logo. Depois o senhor liga de novo. Se o senhor quiser, deixe o telefone que ele vai “tá ligando”.

– Eu não ligo nada. Eu não deixo nada. A Senhora é uma louca. Primeiro pergunta se eu estou desejando o Dr. Eduardo. Depois, faz um interrogatório danado para saber qual o assunto que eu vou tratar, o número da pasta, que vai me anunciar, o tipo sangüíneo, o time que eu torço, o diabo. E ainda me chama de bem, sem me conhecer.

– Depois de tudo isso a senhora tem a coragem de dizer que o Dr. Eduardo não está?

– A senhora pode dizer a ele que esse seu atendimento me encheu e, se ele quiser ligar para mim, que procure o meu telefone lá da Fazenda.

– Ah! Que eu vou pensar quando vou depositar aquela grana de honorários na conta dele. Tchau!

– Tchau.

– Mas que homem maluco. Eu o atendi com tanta gentileza, o chamei de bem; perguntei quem gostaria e disse pra ele que, quando o doutor chegar, ele vai “tá ligando”, tudo assim mesmo, do jeito que as pessoas chiques falam. Mesmo assim o cara se “estressou”! Como anda o mundo!

 

Topo da Pagina topo da páginaDesqualificando a Morte

A morte continua sendo a mera negação da vida, o vazio que não merece por si mesmo nenhuma consideração.
Darci Ribeiro

O velho Darci tinha uma certa ansiedade quando traduzia em palavras as suas sábias angústias.

O seu palavreado acelerado não lhe tirou a capacidade de se indignar com o que de iníquo se passava à sua volta.

A sua clareza jamais lhe distanciou da dúvida, por ele identificada como a fonte na qual supria todo o seu pensamento.

Com invejável coragem encarou um câncer por longos anos. A doença levou-lhe um pulmão e o velho Darci ainda ameaçava os médicos se estes insistissem em deixá-lo internado: “Eu me mato”, dizia ele, “se vocês me encarcerarem no hospital”.

Já nos últimos tempos da sua rica vida, o homem reuniu em torno de si, no seu aniversário, todas as mulheres que amou, para uma comemoração especial em que celebrava a vida, mesmo já se despedindo dela, alquebrado pela doença.

Mesmo confessando uma soma de fracassos de suas ações (muitas vezes causados pelas suas companhias políticas), o velho Darci demonstrou irritante superioridade ante aqueles que impediram a realização dos seus sonhos.

À morte não lhe endereçava, sequer, uma reflexão. Ele a desqualificava com o mesmo vigor com que cortejava a utopia.

Afinal, o talento de Darci não permitia que ele gastasse energia com certezas limitantes, com sonhos irrealizados ou com a morte, para muitos o fim de tudo, quando todo o Universo diariamente nos dá mostras de ser a vida uma maravilhosa obra inacabada.

A vida de Darcy nos desafia, em criatividade e em coragem, para não passarmos por aqui em branco. Exatamente como ele fez.

 

Topo da Pagina topo da páginaSonho

Na trilha do sonho,
os planos se alinham,
as luzes mais brilham,
as mentes auxiliam
em esforços tamanhos.

O poeta já disse:
“Vida é fazer todo sonho brilhar”.
E não há quem despiste
a direção do real,
por amor ao concreto,
é necessário sonhar
porque o sonho resiste
para nos preparar,
pro bem e pro mal,
pro errado e pro certo,
é necessário sonhar,
dormindo ou acordado,
se o objetivo é eleito
e a meta traçada,
é só trabalhar,
A vitória planejada
não é menos valiosa,
pois querer é um direito
à vida conquistada,
defi nindo conceitos,
em pista pavimentada.

A alma preparar,
pra vitória que virá
e virá aos pouquinhos.
Porque a vida é assim:
Caminhos e descaminhos
ou se alegra no percurso,
não deixando pro final.
Felicidade aos poucos,
em doses pequenas
ou se guarda diariamente
emoções pra depois,
no fim, quem sabe,
sem tempo pra nada,
frustração na certa,
de portas abertas,
vida esvaziada.

 

Topo da Pagina topo da páginaComo Dói!

Outubro de 2002. Uma das poucas sextas-feiras em que consigo cumprir o compromisso comigo mesmo de me proporcionar um dia menos pesado, com trabalho diferenciado, às vezes em casa, sem gravata, eventualmente cuidando da saúde e do convívio familiar.

Nesse dia, por volta das três da tarde, fui tomar um café ali na Padaria Iracema. Na esquina das Ruas Nova Iorque e Guararapes, Brookllin, São Paulo.

Para lá tenho sido atraído por um pãozinho integral, em forma de pão francês, que é uma delícia e faz com que eu alimente a minha gula e o meu peso em alguns quilinhos a mais.

Um menino magrinho e falante pergunta se eu quero engraxar os sapatos. Concordei e ele convocou aos berros mais dois meninos maiores que ele. Ambos vieram com as suas caixas de engraxate nas costas.

“Escalado” pelo menor, rapidamente um deles começou a tarefa enquanto eu comia o meu pãozinho com café.

Passei a brincar com eles, perguntando sobre o funcionamento daquela “equipe”. Queria saber se o menor era o “corretor” os outros os encarregados das “tarefas operacionais”, etc. O menor explicou que a “arrecadação” era dividida igualmente entre eles. Que eram primos.

Insisti em perguntar porque a divisão era igual se os dois é que gastavam o material, enquanto o menor só gastava a voz para atrair a clientela. A coisa ia na brincadeira, até que foi ao chão uma banda do meu pão (com a manteiga pra baixo, como determina a chamada “Lei de Murphy”).

E a brincadeira acabou no olhar fixo que o menino que engraxava os meus sapatos lançou para o pedaço de pão caindo. Agora muito mais próximo dos seus olhos (e da sua boca) que dos meus.

Então fiz a pergunta, já prevendo o que viria: Vocês almoçaram?

A resposta negativa fez doer os meus ouvidos. Entendi na hora a magia que aquela banda de pão produzira naquele par de olhinhos famintos.

O trabalho acabou. Eles levaram alguns alimentos pra casa. Eu só levei a dor da inquietude e aquele trecho da música do Caetano:

“Gente é pra ser feliz. Não pra morrer de fome”.

 

Topo da Pagina topo da páginaPobre sobre Pobre

Tanto já se falou e tanto se falará de injustiça social no Brasil.

Realmente, somos um país injusto, em que as pessoas já são geradas em condições desiguais.

A desigualdade se acentua no nascimento, quando são incomparáveis as condições das maternidades públicas com as particulares; do ambulatório; da escola infantil; do ciclo básico; da universidade (a pública para os mais abastados e as particulares para os mais humildes); da vida, enfim...

Tudo isso produz um injusto sentimento de culpa, até mesmo para aqueles que conseguiram razoáveis condições de competição pela sobrevivência largando das últimas colocações no “Grande Prêmio da Vida”.

O que mais me chama a atenção no momento atual do Brasil são pessoas de origem humilde, especialmente no Serviço Público ou em atividades de concessão pública, que, esquecendo suas origens, aviltam ainda mais a condição humana daqueles desafortunados tomadores dos (des)serviços que prestam em suas repartições.

Assim, motoristas de ônibus não param seus veículos para estudantes. Funcionários públicos de baixos escalões oprimem humildes. Pessoas vestidas de forma simples zombam de outras vestidas com roupas ainda mais simples. Portadores de reluzentes dentaduras tiram sarro de desdentados. Motoristas de velhas Brasílias passam sobre poças d’água especialmente para molhar seus pares à espera do ônibus do ponto. Esse mesmo ônibus conduzido pelo motorista que, alguns pontos antes, fingiu não ver uma velhinha que acenava, pedindo parada.

Ufa, é um maldito ciclo vicioso, que apenas indica como boa parte da desigualdade que avilta boa parcela dos brasileiros é patrocinada por pessoas que integram essa mesma turma.

 

Topo da Pagina topo da páginaDilemas em Reformas

Com todos os problemas políticos atuais, estamos esquecendo de que “dormem” no Congresso Nacional importantes reformas do país. A Previdenciária e a Tributária, especialmente.

No há como negar a importância desses temas, porque a escolha de um caminho para o País passará necessariamente pela revisão dos conceitos econômico e social, além de, naturalmente, de uma lavagem na alma do País.

No mundo todo, reformam-se previdências oficiais, pois as pessoas vivem mais e os novos tempos revelam, de forma crescente, meios e modos de se trabalhar sem ser por intermédio de vínculo empregatício.

Então, em paradoxo cruel, os caixas previdenciários passam a arrecadar menos e a pagar mais.

Aqui no Brasil o problema se avoluma porque, durante muito tempo, foram malversados os recursos da Previdência Social, nas muitas vezes em que Governos supriram os seus “buracos de caixa” à custa do cofre previdenciário. Isso sem contar as fraudes e aquelas aposentadorias de valores despropositados, que fazem inveja a ocupantes de altos escalões de grandes bancos.

Mesmo assim, para acomodar sua forças políticas de sustentação, o Governo andou cedendo, contentando- se com “remendos” que apenas adiaram o problema do nosso caixa previdenciário.

Já a Reforma Tributária, não saiu das primeiras rodadas, devido aos muitos os interesses em jogo entre a União, os Estados e os Municípios (também o Distrito Federal). Todos disputando a maior fatia possível de um bolo minguante em razão do esgotamento financeiro de uma Sociedade, que vê desaparecer, em tributos, cerca de 40% (dizem os economistas) de todas as riquezas que produz, o PIB.

Tudo indica que mais uma vez o patrocinador, o pagador dos ingressos, ops, de tributos – o contribuinte – não será ouvido.

Espera-se que os Senhores Congressistas não se esqueçam da fábula da Galinha dos Ovos de Ouro. O “bicho” anda com a saúde abalada e pode morrer. Então, nada mais haveria para ser partilhado.

Já há alguns anos essas reformas são imprescindíveis. Mas, o segmento social antes na oposição, talvez por não acreditar que logo viraria “governo”, resistiu bravamente às reformas encaminhadas pelos então ocupantes do Poder Executivo. Argumentavam que havia alternativas ao “corte na carne”.

De certa forma, a resistência às mudanças serviu de importante degrau para a conquista do poder. Nenhuma impropriedade nessa estratégia, em pleno jogo democrático.

Também não são inocentes aqueles que, antes, eram governo e deveriam ter investido nas reformas as energias que despenderam em tantos outros assuntos de menor interesse para o País.

Na administração pública há, efetivamente, “massas adiposas” sujeitas ao golpe da “faca oficial”.

É cada vez mais estreito o espaço para opositores míopes e para governantes que confiam na possibilidade de decidir o “jogo” durante o tempo de acréscimo.

A Sociedade continuará torcendo na “arquibancada”.

 

Topo da Pagina topo da páginaO Mal e o Bem no mesmo Homem

Cada vez que a miséria humana se manifesta sob a forma de um crime bárbaro, quando há conotação sexual, logo aparecem os “donos da verdade” emitindo julgamentos; até pedindo justiçamento ou aplicação de pena equivalente à barbárie cometida. Na base do “olho por olho, dente por dente”, passando por lições de comportamento.

Será que pelo menos um autor das barbaridades mais recentes não foi um daqueles revoltados com um dos crimes que antecedeu ao seu?

Não estou pedindo clemência pra quem quer que seja.

Mas, não terá chegado a hora de o ser humano “por as suas barbas de molho”, julgando as atitudes alheias com ponderação, simplesmente pela possibilidade de cometer, no futuro, um erro de gravidade semelhante àquela que tanto criticou em passado recente?

 

Topo da Pagina topo da páginaA Indesejável Divisão

Reunião de pais em escola para tratar daquelas adaptações próprias do começo do segundo grau.

Exposições daqui, tira-dúvidas dali e as inevitáveis perguntas daqueles que preferem tratar o “varejo” do caso específico do seu filho, antes que se conclua o “atacado” das propostas didáticas da escola.

Até que o palestrante resolveu falar de um tal “fumódromo”. Um local escolhido pela escola para que funcionários e alunos, estes autorizados pelos pais, fumassem ali, deixando de fazê-lo escondidinho no banheiro.

Cumprida essa condição, o aluno fumaria livremente naquele “território livre”. Aos que não portassem o “passaporte para a baforada”, o prazer (?) ficaria vedado.

Foi o que bastou para que alguns pais ficassem indignados. Um, até mesmo com ironia, chegou a perguntar se, no tal “fumódromo”, se poderia também consumir drogas ditas ilegais.

Enfim, ficaram esquecidos todos os demais assuntos porque alguns não se conformavam com a impropriedade de, em um ambiente escolar, em que se deveria demonstrar os males do fumo, admitir-se o íntimo convívio com ele.

Não fui visto com simpatia quando concordei com a proposta, vista por mim como realista. Minha mulher e eu ressalvamos a nossa condição de não fumantes. Aliás, confessamos diante de uma platéia silenciosa, jamais havermos consumido qualquer tipo de droga. Algo meio insólito para quem já participou de muitos shows de rock e de reggae.

A reunião ficou por ali mesmo e alguns saíram resmungando. Eu levei o assunto comigo. Afinal, qual seria o problema de pais e escola partilharem a educação desses jovens?

Só pode ser a difi culdade que alguns têm de olhar de frente as suas responsabilidades. Não parece difícil que se entenda que não seriam aceitas baforadas foras da regra.

Mas, acho que se prefere a omissão diante do vício do fumo dos adolescentes ao seu enfrentamento, com o firme argumento de que não se deve incentivar o que não se acha correto, mas se deve olhar essa impropriedade de forma verdadeira. Assim, o jovem convive com mais esse obstáculo na preparação para a vida adulta.

Mas, isso dá muito trabalho e por isso não se falou mais no assunto.

 

Topo da Pagina topo da páginaQuando

Depois de nascer,
crescer,
comungar,
amar,
casar,
procriar,
criar,
acreditar.

Melhor a vida num pingo d’água,
se viva e rica,
que num oceano,
se pobre e omisssa.

Que seja dado a entender,
que o nascer é pra viver e viver,
não viver pra morrer.

 

Topo da Pagina topo da páginaProfundo

Sentimento profundo,
algo meio ambíguo,
algo muito querido,
sem paralelo no mundo.

Quando as ondas crescem,
estreitando a praia,
nem sempre trazem a destruição,
mas sinais que merecem cuidado, calma, atenção.
Neste território, tal como no da arrogância,
a lição não é desejada, mas permitida, então.

À você que tanto me deu,
pelo pouco que retribuí,
não posso endereçar, de mim,
sentimento indiferente,
só o próprio de um Amor sem fim.

Mas é certo, não devo aceitar de bom grado,
em nome dos novos tempos,
tempestades e tempestades,
seja qual for o argumento.
Além do empenho, virá o trabalho, diário,
para o nosso crescimento.

ARA ANA CAROLINA
SÃO PAULO, 25 DE JANEIRO DE 2000

 

Topo da Pagina topo da páginaMatando o Tempo

O Fórum é um dos locais em que o cidadão mais facilmente constata a deficiência da atuação do Estado brasileiro.

O que deveria ser, de certa forma, uma “fonte de cidadania” em que as pessoas pudessem resolver, rápida, civilizada e eficientemente os seus conflitos, virou mais uma ferramenta de humilhação.

Alguns dizem que aqueles acima da linha de pobreza são poupados desse caos, já que não dependem da chamada “justiça gratuita” e, assim, podem contratar advogados, pagar custas, presumindo-se que teriam a contrapartida de um serviço mais eficiente.

Equívoco. A administração da Justiça é uma das mais efetivas formas de opressão neste nosso país injusto.

Pela dimensão do Estado de São Paulo, o monstro fica ainda maior. Segundo recente levantamento publicado pela imprensa, a Justiça paulista (que apenas “engatinha” em tecnologia de informática) só não é mais lenta do que a do estado do Acre.

Quase nada funciona em tempo razoável. Faltam meios materiais e pessoal motivado.

Virão os de sempre alegar que os funcionários são pouco e mal remunerados. Não é de se debater, aqui, essas questões, mas, sem dúvida, esses trabalhadores estatais têm remuneração superior à da média da população, não sendo obrigados a conviver com o fantasma do desemprego. Pelo menos isso deveria motivá-los.

Chama a atenção a apatia, a falta de vontade, o mau humor que, com honrosas exceções, a gente encontra nos serviços públicos e, no caso, na Justiça. Tem hora que fico com a impressão de que alguns odeiam qualquer usuário, seja ele advogado ou não, pelo simples fato de lhes importunar com a simples presença.

Então, retido por 30, 60 minutos aguardando atendimento, abre-se a oportunidade de certos convívios nunca imaginados.

No Fórum de Santo Amaro, São Paulo, eu proseava com um senhor, aposentado, jeito humilde, mas conversador, com quem “dividia” uma dessas repugnantes fi las. Essa verdadeira instituição nacional.

Falávamos sobre amenidades e, especialmente, sobre aquele longo tempo perdido na espera. Chegou sua vez e ele se apressou em autorizar ao funcionário do balcão que me atendesse na sua frente. Ponderei que não seria o caso. A vez era dele e eu aguardaria a minha.

Mas ele insistiu, dizendo que não gostaria de encerrar aquela prosa. Então concordei, até meio constrangido.

Concluído o meu atendimento, a prosa continuava enquanto o caso dele passou a ser tratado.

Então, lembrando da sua fisionomia, o funcionário acrescentou à informação do processo a ressalva de que era inútil a busca de informação a cada quarenta e oito horas, como vazia o aposentado, pela impossibilidade de que algo de novo acontecesse antes trinta, até sessenta dias.

O homem agradeceu, e fomos saindo para o corredor. Então ele, esboçando um sorriso meio maroto, disse:

- Eu sei que nada acontece em tão pouco tempo. Esse processo já completou o seu quinto “aniversário”. Mas eu sou aposentado, sozinho, quase não vejo os meus filhos e netos e não gosto de ver televisão ou de fi car o tempo todo jogando dominó com as pessoas da minha idade. Como não pago passagem de ônibus mesmo, eu fico circulando pela cidade, conversando com as pessoas e sempre dou uma passadinha por aqui. Só volto à tardinha pra casa.

Nos despedimos e eu fiquei pensando: Tudo na vida tem o seu lado bom, mesmo quando, de tão pequeno, esse tal lado quase não é notado.

 

Topo da Pagina topo da páginaCota de Loucura

A imprensa tem noticiado que o governo brasileiro e determinados segmentos da sociedade estão empenhados na criação de outros tipos de cotas, além daquela para negros (chamados de afro-descendentes, porque alguns assim consideram politicamente correto), indígenas e outras chamadas minorias.

Segundo a idéia, deve haver garantia de cotas em escolas, universidade, concursos públicos e em outras situações.

Então, a sociedade, reconhecendo ser incompetente para resolver as causas da brutal desigualdade que assola a todos (brancos, negros, índios, amarelos, terráqueos, enfim, e de egressos de outros planetas) concebeu essa idéia para mim, no mínimo, bizarra, voltada exclusivamente aos efeitos.

Consigo imaginar pessoas integrantes dessas ditas minorias sendo apontadas, ao som de comentários preconceituosos como: aquele só está aqui porque foi beneficiado pelo sistema de cotas...

Está na hora deste país tratar com seriedade os seus mais angustiantes problemas. A desigualdade de oportunidades é o maior desses problemas. É uma verdadeira chaga, hoje sem chances de cicatrização.

No Brasil, não mais nascemos iguais. E essa desigualdade vai se acentuando cruelmente a partir dos primeiros dias de vida para a maioria do nosso povo, aumentando o estado caótico ao qual todos nós estamos submetidos.

Não é com artificialismos desse tipo que as pessoas passarão a ter direitos iguais.

É sabido que muitos dos grandes episódios de intolerância do mundo são gerados nos úteros da estupidez e do privilégio, partindo da ótica de perseguidores ou de perseguidos.

A igualdade começa na largada, lá na base, com a garantia de equivalentes oportunidades para todos, nas condições de saúde, educação, segurança, etc.

Tentar consertar injustiças sociais na linha de chegada é imitar o avestruz.

Ah, não por coincidência, a nota da Folha de São Paulo que noticiava: “Estatuto prevê cota para negros em rádio e TV” trazia no rodapé: “Marcha contra racismo reúne 2.500 pessoas em SP”.

 

Topo da Pagina topo da páginaUm peso de Consciência

Eu agora sou um defeito.
O lado feio da sua vida, sem porvir.
A anti-arquitetura sem jeito.
A boca sem dentes que insiste em lhe sorrir.

Agora é problema seu.
Resolva o seu preconceito.
Vá fechar essa ferida.
Que tal procurar servir?
Agora é matar ou parir.

Isso aqui já é um vício.
Até cumpri a carência.
Eu já sei o ofício.
Sua rua é meu sítio.
A minha miséria, sua vergonha.
Eu estou na sua fronha.
Um peso de consciência.

 

Topo da Pagina topo da páginaPeruada

Tomava café com um amigo após o almoço, na Av. São Luiz, cidade de São Paulo.

Esbaforida, veio a dona do estabelecimento, preparando- se para fechar a porta de ferro, contando que estava a caminho uma grande bagunça, com um monte de gente de cara pintada, sabe-se lá com que objetivo.

Como ela não estava segura do que poderia acontecer, optou por fechar as portas, tranqüilizando (como ela, apavorada, poderia tranqüilizar alguém?) os clientes, que foram autorizados a continuar “protegidos” na parte de dentro daquela “fortaleza” que a loja fechada passava a ser considerada.

Há pouco mais de uma semana de uma eleição presidencial que mexe com a cabeça das pessoas, porque parece inevitável a vitória de um pessoal que sonhou com o poder por muito tempo, no início tentando “chegar lá” com propostas raivosas, por assim dizer.

Só que agora a turma veio engrossada por setores até mesmo conservadores da Sociedade, portando uma mensagem do tipo “Paz e Amor”.

Não tenho qualquer preconceito desse sonho, apesar de não embarcar nele. Também não consigo ter medo do que virá. Afinal, a sociedade democrática tem o direito de fazer as suas experiências e os seus enfrentamentos, até mesmo para, depois, poder dizer o “gosto” de cada um dos “pratos”.

Há um certo ar de “vamos ver o que vai dar”. Notam-se pessoas empolgadas com o novo e outras amedrontadas com o que ainda não viram.

Então, a mulher lá do café baixou as portas rapidamente. Eu preferi ficar na rua.

Pouco tempo depois, lá veio a turba. Vários policiais e viaturas faziam o “Abre Alas” do evento. Logo a seguir: Um trio elétrico. Um mundo de jovens fantasiados, cantando, dançando, bebendo e amando. A música era animada e o alto volume não incomodava.

O jornal referido lá no fim informa que eram cerca de dez mil pessoas.

Vi um “Papa João Paulo II” aos beijos com uma “Bailarina de Cabaré“; “Bin Laden” com uma “Estátua da Liberdade”; “Saddam Hussein” e “George Bush” de braços dados; “Batman” e “Robin” separados, cada um com a sua gata; “enfermeiras” nos braços de “pacientes psiquiátricos”; “Che Guevara” trocando saliva com “Lady Dy”; uma senhora de meia idade (e põe meia nisso) nos braços de um “negão” que falava um dialeto africano. Muita gente quase indo às “vias de fato”. Uma loucura!

Enquanto isso, nós, engravatados, alguns assustados com aquela festa, já ensaiávamos uns passinhos. O trânsito? Uma Babel. Um pouco mais caótico naquele pedaço da cidade.

Eu me lembrei de músicas do Chico Buarque. Da Banda, que quando passava, mudava tudo à sua volta, até que as coisas retornassem ao que era antes. Também daquela valsinha em que o casal, já bastante desmotivado pelo tempo, viveu loucuras de amor em plena praça.

Era um evento promovido por um grupo de estudantes de Direito da USP. Era o que eles chamam de “peruada”.

Não dava pra entender quase nada. Era o império da anarquia que se instalara de repente. Mas eu morria de inveja e de vontade de entrar naquela bagunça, que passou logo. Se demorasse mais um pouco ...

A obrigação profissional me chamava e eu voltei pro escritório, ainda engravatado, levando nos ouvidos aquela música. Na memória, aquele “medo do novo” da mulher do restaurante e a alegria de constatar que não havia motivo para o temor da alegria.

Dias depois, o “Jornal Tribuna do Direito” definiu a tal peruada como uma festa, um desfile político-circense-carnavalesco, cujo lema é ridendo castigat mores (o riso corrige os costumes), que acontece na terceira sexta-feira do mês de outubro.

Essa “patuscada estudantil célebre”, como chamou o jornal, teria começado no início do Século XX.

A referência à ave aconteceu a partir de 1948, quando alguém furtou uns perus premiados de uma exposição do Parque da Água Branca, em São Paulo. As aves foram mortas, preparadas e servidas na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco.

Todos apreciaram o prato, inclusive o Professor Mário Mazagão, dono dos animais nobres que, antes de concluída a digestão, ficou furioso ao saber a origem do principal ingrediente da receita.

 

Topo da Pagina topo da páginaGuerreiro

Nesses tempos em que virou moda a reclamação pela reclamação, tenho testemunhado situações que impressionam, até por certa banalização.

Além dos que sempre reclamam, há os que se entregam e até facilitam a derrota. Parecem ter um certo imã que atrai o insucesso, ou mesmo estar sempre preparados para o pior, sempre previsível, por provável, na sua imaginação.

Já outros superam os seus dramas e até riem deles. Encantam pelo seu desprendimento e não se entregam jamais.

Nesse último grupo está o Leonel.

Amizade de adolescência. Garoto bom de bola, meio encrenqueiro e namorador. Com ele tive grandes polêmicas quando as certezas da sua fé evangélica questionavam as inquietudes que me acompanham até hoje.

Desde cedo, o meu amigo aprendeu vivenciar os seus problemas com coragem. Uma doença na infância deixou-lhe inativos um rim e um olho.

Mas, o rim ativo também parou e o Leonel, na máquina de hemodiálise, fez filtragem do sangue por alguns anos, até ganhar um rim novo do seu irmão.

Tamanha foi a qualidade de vida conquistada, que voltou a trabalhar e passou a comemorar o seu aniversário por três vezes ao ano. No dele, no do irmão doador e no aniversário do transplante.

Depois, o olho bom também deu sinal de inatividade, mas nada que impedisse o nosso bravo guerreiro de recuperar a visão após ganhar uma lente especial em uma intervenção cirúrgica.

Como a vida do nosso herói nada tem de simples, depois de cerca de uma década de múltiplas comemorações de aniversários, o rim transplantado também resolveu não mais trabalhar. Ao que parece, no órgão público faltou medicação contra rejeição.

Foi inevitável o retorno à máquina de hemodiálise.

Caramba, parece uma história triste. Não é.

Esse homem teimoso é movido pela irreverência. Ri da debilidade da sua saúde e dos desencontrados diagnósticos médicos; oferece palavras de conforto aos outros; não perdeu sua fé, inclusive depois de, cheio de esperança, voltar a integrar uma fila de transplante.

Esse guerreiro diariamente ensina-me a viver. Permaneço atento às suas lições quando me permito fraquejar nos meus enfrentamentos diários.

 

Topo da Pagina topo da páginaDireito / Obrigação

Foi-se o tempo em que a Sociedade, oprimida, permanecia calada com medo de ameaças muitas vezes invisíveis, mas que pesavam sobre tantos quantos ousavam reclamar direitos.

Lembro da minha recepção, como aluno da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, já há alguns anos.

Na ocasião o diretor (de nome Faca, por acaso) recomendava aos alunos que se comportassem, porque, na discordância entre aluno e professor, a razão caberia sempre ao mestre.

Hoje, felizmente, os tempos são outros.

As pessoas expressam livremente as suas posições, lutam por seus direitos, pressionam governantes, fiscalizando, denunciando, enfim, ocupando o espaço destinado ao cidadão.

É certo que o chamado “aparato do Estado” não dá muita importância para toda esta chiadeira.

As reações acontecem na TV, na família, na rua, no trabalho, na política, nas religiões e por aí a fora. Todos conscientes da importância do exercício da cidadania, cada um buscando os seus direitos.

Tudo a favor de uma Sociedade que se mobiliza.

Mas, chama a atenção a avidez dessa busca por direitos diante da apatia das pessoas quando chamadas ao cumprimento de obrigações.

São meios e modos de adiar, de enrolar, de descumprir, de levar vantagem, tudo para “empurrar” para os outros aquela indiscutível obrigação pessoal.

Não pertence à ficção a velha história de um homem que, no camping, sempre exigia mínimos direitos do grupo com o qual estava acampado. Mas, fingia dormir até mais tarde apenas para não participar do rateio das despesas do dia.

As coisas, sem dúvida, seriam bem mais fáceis se todo o “serviço” reservado a cada um fosse feito por cada um.

Pelo menos todos ouviriam menos reclamações.

 

Topo da Pagina topo da páginaBusca

Fracassei em tudo que tentei na vida. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei alfabetizar as crianças, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria, não consegui. Mas meus fracassos são minhas vitórias. Detestaria estar no lugar de quem me venceu.
Darcy Ribeiro


Na busca da cura
você pode descobrir
que a lição vem de dentro,
não adianta mentir.

Doença maltrata,
mas faz aprender
a importância do tempo
nos atos de viver,
que a tudo arrebata
a dor que corrói,
o Amor que constrói.

Intolerância é herança
de um tempo tão longe
em que eu era criança
e fi cava na fonte
de água impura
de lamento em lamento,
mas com tanta ternura.

Ausente a pureza,
não se foi totalmente.
Algo ficou,
a polpa e a semente.

 

Topo da Pagina topo da páginaConvenção Coletiva de Trabalho

Convenções Coletivas de Trabalho. São textos repetitivos, mas com detalhes que devem ser observados com cuidado.

E, uma tal cláusula fez com que passasse a ser o texto, chato e burocrático, também deprimente:

“O empregador fornecerá ao trabalhador uma cesta básica contendo: dez quilos de arroz agulhinha tipo 1; meio quilo de café torrado, com selo da ABIC; meio quilo de fubá; três latas de ólea de soja (900 ml); duas latas de extrato de tomate de 140 gr.; duas latas de 130 gr. de sardinha em óleo; uma lata de 180 gr. de salsicha; uma lata de 700 gr. de goiabada/marmelada; uma caixa de papelão”.

Eu fiquei imaginando se, como acontece em uma dessas tragédias históricas, um terremoto repentino matasse a todos nós e destruísse o nosso País.

Anos ou séculos depois, pesquisadores teriam acesso aos objetos e documentos que teriam feito a história do nosso tempo. Então, lendo a tal CCT, eles teriam pensamentos confusos:

– Que gente detalhista era essa que ficava controlando o que o outro comia?

– Por que tanto cuidado, até mesmo com o peso da lata de extrato de tomate e com o formato do grão de arroz?”

– Era importante saber o tipo de líquido em que a sardinha boiava?

– Será que esses caras que trabalhavam e que empregavam eram tão ruins de conta que os primeiros não poderiam ter, nas mãos, o dinheiro do seu salário para fazer o que queriam?

Eu tenho outro palpite. Eles perguntariam assustados:

Mas, que tipo de gente vivia neste lugar?

 

Topo da Pagina topo da páginaAna

São só três letras:
vó, tia (meio mãe), amiga e filha.
Nome bem curtinho, Ana.
Está por perto, mesmo estando a milhas.

Mulher forte,
aquele que te testemunha,
na vida, na morte,
homem de sorte,
dignidade tem porte,
obstáculo não acabrunha.

Por isso eu as acompanho, Anas,
tantas são em minha vida.
Eu já não as estranho:
Esse nome, essa luz. Quem duvida?

Mas, se o nome passa logo,
de tão curto, quer saber?
Ana, és tão grande,
impossível conhecer.

 

Topo da Pagina topo da páginaAs Plantas

– Alô!

– Ó, é sobre esse terreno que eu estou capinando...

– Sim.

– É que chegaram aqui dois homens e me mandaram parar o trabalho.

– Mas, por quê? Falaram com ordem de quem estão mandando você parar?

– Não, não. Eles só falaram que, no meio do mato, “tinha” umas plantas que eles não “queria” que eu arrancasse. Mas o que eu não “tô” entendendo é que eles “mesmo” estão arrancando “elas” e colocando “numas caixa” de papelão. Agora eles “tão” levando tudo com muito cuidado pro carro. Daqui do orelhão eu “tô” vendo.

– Sim, mas que plantas são essas ? Eles disseram?

– Não, só disseram que são plantas amigas deles, uma erva. O que eu faço?

– Não faça nada não. Aliás, nem olhe muito pra eles. Se estão com tanto cuidado , deixem que eles levem tudo. Até facilita o seu trabalho.

– É mesmo! Mas que esquisito né?

– É. Vá tomar um café. Depois você volta e continua quando eles já tiverem ido embora.

– Tá bom.

 

Topo da Pagina topo da páginaClasses Sociais

Com a cara na vitrine, eu apreciava os cachorros sendo tratados com o carinho que eles merecem.

Várias eram as raças e nenhum deles reclamava. Ao contrário, um (que, na hora eu apelidei de mentira, porque tinha pernas curtas) latia quando a tratador saía de perto dele.

Unhas cortadas, partes íntimas e pelos secos com um secador especial e orelhas limpas com muito cuidado, com um produto (colônia?) que embebia o cotonete de algodão.

Por um instante chamou-me a atenção uma figura humana refletida no vidro da vitrine em que estavam os cães. Era um homem maltrapilho, cheio de sacos, com uma roupa extremamente suja, tirando pedaços de cascas das muitas chagas das suas pernas.

Ali a minha cabeça deu um nó.

Não sou daqueles que acha que os bichos deveriam ser banidos da face da terra enquanto existirem pessoas famintas entre nós. Penso que, se a pessoa resolver ter um animal, estará assumindo a obrigação de tratar bem do bicho.

Mas, diante daquela vitrine fui convencido de que, hoje, os seres viventes do reino animal não mais estão dividos em espécies, por exemplo, a humana, a dos animais, etc.

A divisão agora é por classes. Com certeza aqueles cachorros lindos e cuidados pertencem a uma classe social situada bem acima da integrada por aquele mendigo cheio de feridas.

 

Topo da Pagina topo da páginaDoze Natais

Quando chega junho, normalmente as pessoas se dão conta de que, mesmo ainda com gosto de panetone na boca, é chegada a hora do quentão,

Os anos têm “voado” e as pessoas, mesmo se assustando com isso, nada fazem para mudar as coisas.

Lá na minha infância, eu já começava a “saborear” o Natal em setembro. É que meu pai, um pobre alfaiate, não tinha condição de dar aos filhos presentes adquiridos em lojas.

Então, já em setembro ele começava a “fabricar” artesanalmente miniaturas de um “fenemê”, um caminhão que saía da fábrica brasileira F.N.M. (Fábrica Nacional de Motores), plantada em Xerém, ao pé da Serra de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e que depois foi comprada por uma multinacional italiana.

Hoje, lá pertinho, está o Centro de Treinamentos do meu querido Fluminense Futebol Clube, fabricando craques.

Bem, durante o intervalo do almoço, o Seu Cleto ia fabricando as peças do “veículo” que ficaria pronto em um mês. De setembro a dezembro ele fazia um para cada um dos seus quatro rebentos machos. Sempre com madeira cortada e lixada artesanalmente, sendo as rodas o único “componente” feito por encomenda a um marceneiro profissional. Os “faróis” eram feitos com tampinhas de pasta de dentes, cuidadosamente trabalhadas e pintadas.

Pois bem, a “frota” de caminhões de madeira ia ficando pronta e guardada a sete chaves até dezembro, quando, no Natal, cada um dos quatro garotos do alfaiate ganhava o seu “possante” e saía orgulhoso, “pilotando”, para inveja de alguns vizinhos, cuja abastança não lhes garantia um brinquedo tão original.

Bem, tudo isso para dizer que o mês de dezembro era aguardado com ansiedade e, no seu final, ficava aquele gostinho de que o próximo dezembro demoraria.

Hoje, os dezembros vêm bem mais rápido e nem isso faz com que as pessoas guardem no seu interior, para o ano todo, restinhos dos desejos de felicidade, paz, prosperidade, alegria, saúde para dar e vender.

Enfim, mal virou o ano e as pessoas se esquecem desses votos e todos voltam à “selva” da disputa, da falta de educação, da crueldade e da indiferença.

Seria bom se todos os meses do ano se chamassem dezembro. Ah se tivéssemos doze Natais!

 

Topo da Pagina topo da páginaFugir do Futuro

Se não valer a pena tentar.
Não mais se saberá
pra onde leva o amar.

É que a nuvem não deixa passar a fé.
O sabor da conquista vem disso tudo.

A fuga da luta é para os que medem cada passo,
deixando para trás amizades, abraços,
o viver pra depois.

Carinho adiado.
Emoções sob controle,
sentimentos reprezados
eu não censuro.
Como é que você pôde
ignorar o passado,
renunciar ao presente,
fugir do futuro?

 

Topo da Pagina topo da páginaExperiência

“A experiência não é aquilo que acontece conosco; é o que fazemos com aquilo que acontece conosco”.
Aldous Huxley


O autor de Admirável Mundo Novo apontou uma alternativa àquela da sua principal obra, O Admirável Mundo Novo quando, em ficção, até o sentimento das pessoas era coletivizado.

Aqui, ele parece nos dizer: Você pode mudar o rumo da sua vida. A partir das suas experiências. Só depende de você.

E quanto àqueles que pautam (engessam?) os seus sonhos (muitas vezes também o dos outros) com máximas nascidas de experiências passadas? Coletivas ou individuais.

Lembro muito disso quando ouço conversas de mulheres grávidas, muitas vezes passando, uma para as outras, experiências e histórias ruins. Não sou especialista no assunto, mas são notórias as diferenças do que se passa em uma e em outra gravidez, ainda que da mesma mãe. Então, os médicos têm aumentado o seu trabalho apenas para aquietar alguns mitos que costumam angustiar as gestantes.

Assim também acontece na vida cotidiana, quando se formam posições rígidas sobre a vida, a partir de determinada experiência passada, quando eram inteiramente diferentes as personagens, os atores e o ambiente.

Ficamos combinados: O resultado das experiências do “laboratório” de cada vida poderá ser mais valioso que a mais valiosa das experiências de outros “laboratórios”, muitas vezes apresentadas como verdadeiros dogmas.

Sem isso o futuro sempre será previsível. E chato!

 

Topo da Pagina topo da páginaViés de Baixa

A Bolsa despencou. O dólar disparou e o Risco Brasil chegou na órbita da lua. Além do mais, a queda vertiginosa dos índices Dow Jones e Nasdaq contribuíram ainda mais para o quadro de pessimismo por aqui. Enfim, fatores conjunturais provocaram inquietação no mercado e, nervosos, os Agentes Econômicos marcaram posição estratégica de venda, já que passou a fase de realização de lucros das grandes corporações que integram o índice Bovespa, sendo crescente a preocupação com as pesquisas eleitorais do país.

Todo dia a imprensa despeja nas nossas orelhas e nos nossos olhos esse monte de dados herméticos que ela chama de informação econômica. São dados incompreensíveis para a maioria dos mortais, que não fala economês.

É claro que cada profi ssão tem o seu palavreado próprio. Bem esquisito para estranhos ao meio.

Contudo, é demais o que acontece com o economês. Ele invade as nossas casas, atrapalhando a hora da janta. Impressiona a segurança com a qual os jornalistas tratam do assunto, como se eles entendessem tudo do que estão falando.

Todo mundo sabe que todo esse jogo econômico não é inocente. O fator emocional ali não é casual. Ele é muito bem planejado, sob medida para o lucro. Para o lucro de alguns, que têm até nome: os especuladores, que plantam dramas “do nada” para colher o lucro fácil logo ali na frente.

Eles agem aqui e lá no exterior. Lá em Nova York, uma meia dúzia de analistas de Wall Street, com suas coloridas gravatas de gosto duvidoso, adotam os mais malucos critérios para aumentar ou para diminuir (mais para aumentar) o chamado “Risco Brasil”, que são notas conferidas ao Brasil e a outros paísesvítimas, como se estivéssemos em um programa de auditório transmitido diretamente da Casa dos Horrores.

Há gente que diz que isso é ciência. Ciência econômica.

Para mim, um daqueles mortais de que falei no início, mas que cultiva o hábito de raciocinar, essas manobras que aquecem e esfriam, agitam e acalmam o humor do mercado são produto de uma atividade perniciosa de boateiros e de oportunistas, que agem como se possuissem uma maquininha que, no fundo do quintal, funcionando a todo vapor, imprimisse dinheiro verdadeiro. Portanto, sem o menor risco de punição.

E, o que é pior, esses agentes econômicos, especuladores, apostadores... sei lá, apesar de visíveis, não são identificados nunca!

Ah! Já ia esquecendo: O dólar pode estar no chão ou no céu e a última decisão sobre os juros (absurdos) praticados no Brasil, veio acompanhada de um viés de baixa.

 

Topo da Pagina topo da páginaA Quem Aproveita?

Há horas que parece que não sairemos mais da atmosfera de violência em que mergulhamos já faz algum tempo.

E logo o povo brasileiro, sempre apontado como ordeiro, pacífico, cordato, alegre e feliz.

São seqüestros, pedofilia, mortes banais, tráfico, prostituição infantil e mais um “rosário” de absurdos.

Na prática, temos um verdadeiro poder paralelo (o do crime) que vai se infiltrando em todos os segmentos da sociedade.

Até mesmo nos ditos poderes constituídos já foram detectados “sinais” de que o corpo social está sendo “infectado” de forma preocupante.

A morte de um repórter “global”, quando realizava um trabalho de jornalismo investigativo, resultou, além do lamento pela perda de mais uma vida, na esperança de que algo aconteça diante da verdadeira comoção que o fato causou.

Esse triste fato oferece mais uma oportunidade de reflexão sobre o papel da imprensa e sobre o papel de cada cidadão na situação caótica hoje vivida por todos nós, no Brasil.

Não seria o caso dos mais destacados personagens e órgãos da imprensa pensarem em uma espécie auto-regulamentação? Não seria o caso de cada um pensar naquilo que pode fazer para colaborar?

Nenhum questionamento àquilo que é chamado de liberdade de imprensa ou de liberdades individuais. Estas foram duramente conquistadas pela sociedade brasileira ao longo dos últimos anos.

Mas, é aí que a responsabilidade aumenta, porque, se a imprensa pode linchar moralmente uma pessoa ou uma instituição séria para, depois, constatar a sua inocência (vide os casos do Bar Bodega e da Escola Base, aqui em São Paulo), ela também pode, com ação ou com omissão, reforçar comportamentos daninhos que depois vitimam toda a sociedade.

E, o que é pior, numa ou noutra situação, a retratação, por mais ampla que venha a ser, jamais terá a repercussão da ofensa injusta. É como o que acontece naquele exemplo do homem que, do alto da torre da igreja de uma pequena cidade, despedaça um travesseiro de penas. Nunca será possível a recuperação de todo o conteúdo do travesseiro, sejam quais forem os esforços para isso.

Então, sujeito a todas as críticas possíveis, pus-me a pensar sobre o que resolvi chamar de “utilidade da informação”.

Sim, porque a imprensa e cada um de nós, cidadãos, muito pode fazer no cotidiano, mesmo em situações aparentemente distantes do crime que nos atormenta diariamente.

Então, a quem aproveita a imprensa:

1. Tornar públicas especulações, especialmente financeiras, concebidas sob medida para o lucro de alguns e para o prejuízo da maioria dos desavisados?

2. Omitir deliberadamente ou negar destaque à identidade de pessoas e de empresas que prejudicam o cidadão em suas atividades cotidianas?

3. Concentrar na época de eleição informações comprometedoras de certos homens públicos ao invés de abordá-las ao longo do tempo?

4. Não questionar e/ou não abordar com a freqüência necessária os critérios das pesquisas eleitorais que estimulam (induzem) o pesquisado a escolher o pré-candidato “a” ou “b” pela imagem, ao invés de, simplesmente, perguntar ao cidadão qual a sua intenção de voto, já que a pesquisa volta-se a apurar essa intenção e não a substituir o processo eleitoral?

5. Não questionar o gasto imoral em milionárias campanhas publicitárias (por intermédio dessa mesma imprensa) da máquina estatal, enquanto hospitais, escolas e cadeias caem aos pedaços?

6. Revelar estratégias de atuação da polícia, antes ou depois da ação voltada a esclarecer crimes, se essa estratégia pode ser usada novamente em delitos semelhantes?

7. Detalhar aquilo que deu errado nas atitudes da criminalidade, não colaborando para que, em ações futuras, “concorrentes” cometam os mesmos erros?

8. Roteirizar os meios e modos de uso de drogas ilegais, mesmo aquelas ainda não completamente conhecidas do grande público “consumidor” como fez, há alguns anos, um grande jornal de São Paulo, ao “detalhar” ponto a ponto, a forma para o viciado consumir “crack”, inclusive com desenhos do tal cachimbo da morte?

9. Não tornar público sistematicamente a identidade de fabricantes que declaram nomes de componentes que não usam na formulação dos medicamentos?

10. Não questionar importantes segmentos da Sociedade, que permanecem estrategicamente cegos, surdos e mudos ao fato de ser o consumo da droga (muitas vezes por insuspeitos membros dessa mesma sociedade) um dos mais importantes fatores desencadeadores da violência?

11. Não conclamar essa grande quantidade de pessoas à interrupção do consumo droga, por exemplo, por seis meses, só para que eles vejam que, como em um passe de mágica, definhará o tráfico, o crime e as outras malditas conseqüências?

Então, senhores, não estaria na hora de assumirmos, cada cidadão, cada segmento social (inclusive a imprensa) a sua parcela de culpa pelo caos que estamos vivendo em uma sociedade sem inocentes?

 

Topo da Pagina topo da páginaTipos Paulistanos

Lá no escritório da Rua Braúlio Gomes, centro de São Paulo, a gente escuta todo o burburinho da Rua Sete de Abril, inclusive alguns diálogos mais exaltados.

O prédio fica na esquina das duas ruas e as características dessa última via, com prédios construídos e carros estacionados de ambos os lados, permitem que os sons subam e cheguem com bastante clareza, mesmo aos andares mais altos.

Além da interminável disputa entre os “guardadores” de carros, o clamor dos chamados marreteiros, o acionamento desnecessário das sirenes das viaturas policiais, alguns tons se repetem a ponto de se tornarem familiares até mesmo aos ouvidos menos atentos.

Um cachorro viaja pra lá e pra cá sobre a carga de papelão que enche uma carroça, puxada por um homem, presumidamente o dono dos três (do cachorro, da carroça e do papelão). Lá de cima, com a presteza de um guardião, o portentoso vira-latas ameaça com latidos estridentes a tantos quantos estão próximos do seu “território ambulante”.

Gritos insistentes ecoam: BRASIL! BRASIL! BRASIL! É um ciclista que, boa parte do dia, transporta não sei o que pela região em uma bicicleta. Em arroubos de amor à Pátria por aqui só vistos durante a Copa do Mundo, o tal homem berra várias vezes o nome do nosso amado País (no que é repetido por outras pessoas), em brados de nacionalismo que põem à prova o patriotismo de qualquer um.

Uma mulher era a personagem mais marcante. Traços finos, fisionomia dura, vestida de branco dos pés à cabeça. Portando um potente megafone, sempre ficava ali, na Rua Sete de Abril, coincidência ou não, bem debaixo da minha janela, cantando direto aos meus ouvidos:

– “Com minha mãe estarei, na Santa Glória um diiiiiia, ao lado de Mariiiiiia, no Céu triunfarei. No cééééééu, no cééééééu, com minha mãe estarei. No cééééééu, no cééééééu, com minha mãe estarei.”

E o cântico era sempre interrompido por admoestações às moças que passavam vestidas de forma mais ousada. Uma de mini-saia, por exemplo, ouvia:

– “Isso é um absurdo. Os anjos choram no céu quando uma moça se veste assim!

A tal mulher do megafone morava – ou mora – no Edifício Copan, um dos prédios mais conheci dos da cidade por suas linhas sinuosas, em projeto de Oscar Niemayer. Aliás, ele tem um “irmão gêmeo” no Rio de Janeiro. Um prédio perto da PUC-RJ, sob o qual um governo fez passar o acesso a um túnel.

Bem, mas eu sei o endereço da mulher porque a TV Cultura de São Paulo fez uma matéria sobre o tal prédio e sobre os seus moradores mais, digamos assim, ilustres.

E lá estava a tal mulher do megafone na TV, com o seu cântico preferido:

– “Com minha mãe estarei...”.

Enquanto isso eu me descabelava com um daqueles prazos que só os advogados sabem como incomodam.

Quando o religioso encontra na religião motivos para se achar superior aos outros ou, investido de poderes divinos, para perturbar os seus semelhantes não iniciados, coisas muito ruins passam a ser legitimadas. Até mesmo a violência. A história, remota e recente, nos dá tantos exemplos...

Várias vezes eu desci para apelar pela diminuição do volume do som daquela que, para os meus tímpanos e para a minha necessidade de trabalhar, estava se transformando em uma “máquina mortífera”.

Mas sempre me faltou coragem para falar com a tal mulher. Imaginava: “Se ela dá um discurso daqueles por causa de uma simples mini-saia, como ela reagiria diante do meu pedido de redução de volume daquela ‘coisa’ ?”. Ela poderia até aumentar o volume só para reprimir aquele “devasso que teve a ousadia de interromper os seus augustos trabalhos de purificação do Universo.”

Resolvi falar com um policial, até mesmo para despersonalizar a reclamação, que passaria a ser atribuída ao “pessoal do prédio”. Mas, o policial se “safou”: “O que é isso doutor ? Olha a liberdade da mulher! Os Direitos Humanos!

Intimidado, voltava ao 9o andar e, por dias, meses, punha em prática um já gasto ’’exercício de resignação”.

Um dia, em pleno acesso de desespero, cheguei a imaginar a possibilidade de “financiar” o “seqüestro” do tal equipamento. Falou mais alto a consciência. Afinal, para me livrar de um problema eu estaria incentivando o crime ou o nascimento de um criminoso.

Quase resignado, eu convivia com a minha sina até que... silêncio. A cantilena acabara. Que alívio! É que uma grande quantidade de água vinda do alto – e não era chuva! – caíra sobre a tal mulher e o sobre seu instrumento, encharcando a ambos.

A partir de então, Milagre? Não sei. Ambos silenciaram!

 

Topo da Pagina topo da páginaLiberdade da Imperfeição

Na verdade, sou um homem feito mais de dúvidas que de certezas, e estou sempre predisposto a ouvir argumentos e a mudar de opinião. Tenho mudado muitas vezes na vida. Felizmente.
Darcy Ribeiro

Do óbvio cuida o vigia,
de que nada fuja do previsto.
Mas, agora o imprevisto:

E se o bom for ilógico?
E se o bem repentino?
É pra matar o improviso?
Perseguir o imperfeito?
Censurar o meu peito,
sem direito a aviso?

E o que eu faço comigo?
Esse autêntico coreto
em que a música é alegre,
em que o barulho é perfeito?

Você quer enquadrar
a criação do melhor?
Quem sabe organizar
pra criar o pior?
Porque o previsto é fácil,
é fácil matar.
Eu não morro sem ver,
sem ver como você
vai viver na babel,
na bagunça lá do céu.

 

Topo da Pagina topo da páginaCaráter x Reputação

“Preocupe-se mais com o seu caráter que com sua reputação. O caráter é aquilo que você é realmente, enquanto a reputação é aquilo que os outros pensam que você é.”
John Wooden

Esquisito um conselho desses em um tempo de extrema “glamourização” das aparências. Quando as chamadas “celebridades” são criadas do nada.

As pessoas estão incorporando naturalmente, como verdades definitivas, as fantasias concebidas pela mídia especialmente para convencer que o consumo, em si, é capaz e suficiente ao suprir as pessoas de felicidade.

É como se nada cada um pudesse fazer pela própria vida, a não ser consumir e consumir.

É claro que o consumo é uma realidade. Até positiva. Mas, transformar o acessório em principal, a ponto de alienar toda uma Sociedade já é exagerado.

Esse exército de desavisados está sendo manipulado de uma forma preocupante. Pouco vale o caráter das pessoas. Apenas importa o que elas têm ou que aparentam ter.

Enfim, etiquetas passaram a pesar mais que a própria roupa. Um produto de grife motiva, até mesmo os ladrões, em suas violências, como se fossem jóias.

É o império da embalagem e a derrocada do conteúdo.

Legitimamente, nenhuma força poderá conter essa avalanche, a não ser o esclarecimento de cada um, para que dose os seus impulsos consumistas, preservando a sua essência humana.

Se não houver essa tomada de consciência desde os primeiros anos de vida das crianças, estarão irremediavelmente fragilizados, pela desqualificação, valores como amizade, honestidade, ética e bom senso. Tudo em nome da aparência.

Aparência que motiva um grupo de pessoas sem ocupação a se enclausurar em uma casa, permitindo que suas vidas sejam defasadas por outro grupo também pouco ocupado, em troca da notoriedade e do dinheiro que não os tiram das suas vidas fúteis, apenas voltadas à próxima compra.

 

Topo da Pagina topo da páginaCerteza

Sou um amigo do Céu.
Sou exemplo pra isto.
Sou um fl uxo de mel.
Sou um amigo de Cristo.

Mas também sou uma peste
no mundo, um mundo tão vil
Ah! pelo menos se desse,
ser o melhor do Brasil.

Quem sabe, então, quem sabe?
Eu pudesse fazer,
com a espada no sabre,
meu pensar mais valer?

É quase frustração,
um certo complexo,
só não há depressão
o outro é o resto.
Ninguém me ensina,
salvação atraiu
legiões de fiéis
pra cantar na esquina.

São todos do bem,
cada um do seu jeito.
Do outro lado o mal,
é de lá do defeito,
é de lá o meu ganho.
Eu tenho certeza.
Eu sou o eleito.
Eu tenho um rebanho.

Para alguns “salvadores” de almas.

 

Topo da Pagina topo da páginaAutenticidade, mas...

“Um ’não’ quando é dito sem medo pode ser melhor e mais importante que um ‘sim’ dito apenas para agradar ou, o que é pior, para evitar problemas”
Gandhi

As chamadas convenções sociais sempre reprimem as pessoas para que não falem o que lhes vêm à cabeça. É o que se convencionou chamar de comportamento “politicamente correto”.

O registro da passagem do tempo pelo número de anos traz inconvenientes. Não fosse assim, as pessoas não mentiriam tanto quando são chamadas a dizer a idade que têm.

Em compensação, a idade abre as portas do ser humano para a autenticidade. Para a possibilidade ser ele mesmo, com franquia para usar quantidade mínima de dissimulação, essa espécie de “maquiagem” social.

Aos poucos, o sujeito vai conquistando a liberdade da autenticidade. De dizer para o mundo sobre quase tudo que acontece nas suas entranhas emocionais.

Isso tem um sabor especial e o personagem até pode abusar da oportunidade de ser e de dizer exatamente o que é e o que pensa. O cara pode fi car inábil e se meter em atritos perfeitamente evitáveis.

É frustração na certa, porque um grande estoque de razão não impede o erro de forma, o que produz o papel do vilão infeliz, que, com sutileza comparável a de um elefante epilético, se mete em encrencas sim, mas cheio de boas intenções.

Não é inevitável que se lambuze aquele que nunca provou do melado.

Outro perigo é o cidadão encher-se de verdades definitivas colhidas no tempo e encastelar-se com elas, negando-se a aceitar as inovações do tempo e diferentes óticas de diferentes pessoas, até dificultando o diálogo com aqueles que não reuniram um estoque tão grande assim de “lições divinas”.

Evitados os excessos, o ser humano deve preservar como uma “carta de alforria”, a sua liberdade de dizer não, sincera e elegantemente.

Afinal, não agradará a ninguém quem, antes de tudo, não se agradar.

 

Topo da Pagina topo da páginaEsperança de Ser

Quando eu vim lá da roça,
atraído por tantas luzes,
imaginava o progresso
e não essa joça de vida,
essa soma de cruzes.

É que aqui sou ninguém,
só uma peça dessa máquina, mãe.
Amor é vintém,
eu não agüento, mãe.

E aí vem o preconceito,
a polícia, o prefeito.
Todos só me dizem:
Sai prá lá seu miserável,
por aqui não tem mais jeito.

Volte lá pro seu sertão.
Vá puxar a sua enxada.
Remexer a terra seca,
comer farofa e buchada.

Mas, aí é que dói, seu moço,
agora a família cresceu,
os barrigudinhos conheceram TV, refrigerantes e
hot dog.
O que eu faço com esse osso?
Eu não sou mais o mesmo, por favor não me
provoque.
Depois de tudo que aconteceu,
eu perdi essência, eu virei um escroque.

O retorno é terrível.
A vergonha derrota.
A cada dia que passa,
a esperança desbota,
eu só penso em desgraça,
nesse mundo sem volta.
E como eu posso ter
esperança na vida,
esperança de ser?

 

Topo da Pagina topo da páginaUm Grande Problema

Alguns ainda guardam a velha imagem do advogado de anos atrás, quase como uma espécie de alquimista preparado para “desvendar” os mistérios da vida das pessoas.

Depois, no Fórum, um lugar inacessível à maioria dos cidadãos, com o juiz (uma figura quase “divina” para os comuns) e com o promotor, esse advogado ajudava a decidir a vida das pessoas, a partir da regra “infalível” da lei.

Isso vem da nossa herança jurídica. No século XIII, uma parte dos países de então adotou o costume como instrumento para decidir os seus conflitos. Outros povos adotaram um sistema amparado essencialmente na lei, até mesmo criando um ditado: A lei é dura, mas é a lei.

Não é preciso muito esforço para concluir que os povos que influenciaram a cultura jurídica brasileira optaram pelo sistema que privilegia a lei, texto escrito mesmo.

Tanto é, que o inciso II do artigo V da Constituição Federal do Brasil determina que: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

Esse modo formal de pensar e de agir deu origem e acabou por influenciar a formação dos nossos profissionais do Direito e, especialmente, a opinião da sociedade sobre eles.

Mas, os tempos mudaram. O curso superior deixou de ser o ponto de chegada da formação de profi ssionais, inclusive do advogado. Não mais se poderá parar de estudar.

Tudo porque a nossa sociedade se alimenta do novo, que já envelhece no momento seguinte ao da criação.

E o Direito não pode ignorar que, hoje, a vida das pessoas é incorporada por uma multiplicidade de conhecimentos, especialmente os de cidadania.

Então, uma multidão de insatisfeitos passou a engrossar filas no Fórum, aguardando, anos e anos, pela solução de problemas, por mais simples que sejam.

E o Estado, ao qual a Sociedade civilizada deu poderes para distribuir justiça, mostra, diariamente, a sua saturação e a sua incapacidade de bem desempenhar o seu papel.

Esse mesmo Estado tem permanecido bem longe das pessoas. E este não é um problema exclusivo dos países situados abaixo da linha do equador.

Impossível que os homens que administram a Justiça continuem ignorando as mudanças que estão em andamento nas pessoas, nas nações e até nos blocos econômicos formados por países.

Enquanto as mudanças não vêm, os novos tempos cobram meios e modos de rápida solução de problemas, de preferência bem longe do prédio do Fórum. Em arbitragem, por exemplo.

Hoje, a Sociedade exige que todos aqueles que trabalham com o Direito sejam, antes de tudo, intérpretes do seu tempo; mediadores de interesses. Alguém capacitado a harmonizar posições, empregando toda a sua energia para que a solução dos conflitos cotidianos não precise da Justiça.

O caos do Judiciário é a causa de boa parte dos nossos problemas, tais como insegurança e desemprego, filhos diletos da falta de investimentos sociais.

Uma Justiça ineficiente, por incrível que possa parecer, até “castiga” os investimentos produtivos, geradores de progresso.

 

Topo da Pagina topo da páginaCoração Menino

Esse coração menino
estava acelerado,
assim, apressado.

Formato de pequena mão,
tanto batia que o meu apanhava,
como sofria o pai,
pior que o seu, só o meu coração.

Mas, a tecnologia,
o modernismo divino,
quase brincando,
resgatou o meu menino.

E eu aqui levitando,
não sabendo como agradecer,
era tanta gente vibrando,
que eu não sei nem dizer.

Pois eu aprendi mais uma,
a cada dia se vai confirmando:
Por que esperar pra ser feliz,
se a gente pode ir conquistando?

PARA VINÍCIUS
SÃO PAULO, 31 DE MAIO DE 2000

 

Topo da Pagina topo da páginaEternos Craques... Suas Idas e Vindas

Vi o filme do Pelé. Aliás, comprei o DVD para vê-lo quando quiser lembrar de um grande artista.

Sempre existirão comparações. “A” ou “B” poderia ter sido melhor.

Mas, eu vi (sim, eu vi, essa é uma das vantagens de ter mais que 50) o Pelé jogando, inclusive contra o meu Fluminense. Não era diferente do que está no filme. O homem era genial. Incomparável.

Não era incomum eu ir ao “Maraca”, com irmãos e amigos, apenas com o dinheiro do trem; da entrada na Geral (que acabará, breve, após a reforma para os Jogos Pan-americanos de 2007).

Às vezes era possível comprar um único picolé. Um dia esse luxo me foi arrancado da mão, atingido por uma meia laranja chupada vinda da arquibancada. Então, não tive dúvida: “socorri” o tal picolé no chão e o lavei no imundo WC das Gerais do Maracanã. Depois, o saboreei até o fim.

Pra quem não sabe, a Geral é um lugar (com as entradas mais baratas) de onde se pode ver o jogona pontinha dos pés, quase só se enxergando as chuteiras dos atletas. De lá, a visibilidade do que se passa no campo só não é menor que o preço do ingresso.

Mas o filme do Pelé também me lembrou de outros craques que vi, tanto no Maracanã quanto no futebol de várzea. Eram as minhas diversões da pré-adolescência.

Eu ficava encantado quando entrava no Maracanã, apenas pela magia daquelas milhares de cores das roupas dos torcedores que eu via na arquibancada, daqui de baixo, da Geral. Eram normais públicos de 100.000 pessoas. Hoje se faz “festa” para públicos de 50.000.

O encantamento era o mesmo com o futebol que logo viria. Quase não era sofrido pra mim. Afinal, o Flu tinha belos times.

Se o “Maraca” e o futebol lá jogado enchiam os olhos, era deprimente a proximidade com o passado de então, na várzea. Foi num campo de futebol desses, em um local chamado “Prainha”, que vi Garrincha e outros, em melancólico fim de carreira, jogando em troca de alguns goles.

Na época, o rapaz aqui se abismava com aquele paradoxo entre a magia do então maior estádio do mundo e os campos de pelada, na beira de um mangue.

E tem gente por aí que, depois de discutir legítima e bravamente com o seu patrão por melhores condições de trabalho, lembra com sentimentalismo, os “velhos tempos” em que os atletas de futebol atuavam “por amor”.

Que se trabalhe por amor, no futebol e fora dele. Mas, também, que se exija profi ssionalismo e seriedade, de trabalhadores e de empregadores; de atletas e de dirigentes. Mas, que se deixe saudosismos fora de propósito.

Trabalhadores, inclusive artistas e até os do futebol, dão lucro. Devem, portanto, ser bem pagos por isso. Mas, sempre em troca de trabalho sério.

Simples, não?

 

Topo da Pagina topo da páginaO Preço

Apenas correr não adianta. É indispensável partir a tempo.
Autor desconhecido

Se o tempo
der tempo
pra conseguir o meu intento.

Se você não abusar
do direito de recuar.

Será o caso de tentar,
pelo menos uma vez,
com emoção em escassez,
crescer sem sofrer,
amar sem sonhar.

O amadurecimento é tarefa dura,
o progresso é subida longa,
no regresso a trilha é escura
sempre com muita delonga.

Se eu insisto em cobrar da vida
recompensas nem sempre justas,
é porque já aprendi
que o aprender muito me custa.

 

Topo da Pagina topo da páginaUm Luxo Só... ou Mais?

Especialistas em grife concluíram que, ao contrário dos verdadeiramente ricos, são as ditas pessoas emergentes as consumidoras da maior parte desses produtos.

É compreensível que o estilo de vida dos ricos seja uma atração por si só.

É certo que, mesmo sem ser consideradas ricas, as pessoas emergentes desfrutam de recursos inimagináveis para a grande maioria da população do mundo.

Mesmo assim, recorrem a caras grifes (seja em roupas, em carros, na escolha de bairros para viver ou de ambientes para freqüentar), possivelmente sob parcelamento em “cheques pré”, na busca de status, como totens que lhe abririam as portas para a fantasia da riqueza que ainda não conseguiram.

Nada contra. Que cada um pague o preço, se o único objetivo for o chamado glamour.

O complicado é que esses emergentes, também atraem uma outra leva de pessoas, das classes média e baixa que incorporam a infeliz idéia de que a ascensão social apenas virá pelo uso de uma grife deluxo, não mais interessando o resto.

Pobres os que alicerçam suas vidas apenas em valores materiais.

 

Topo da Pagina topo da páginaSão Paulo

Cidades violentas,
cidades afins,
elas afugentam
o melhor de mim.

Quando vejo você,
confusa, suja, triste, alegre,
chego a perguntar:
És um grande albergue?

Albergue de uns,
rejeito de outros,
quem sabe comuns?
E quem fica com o troco?

Eu vou conhecendo
as suas entranhas.
Ora surpreso,
ora conformado.
Eu sei que estou preso,
mas não condenado.

Eu amo você,
Mas não sei de que lado.

 

Topo da Pagina topo da páginaQuanto Menor Melhor

A Revista Época, de 27/12/2004, noticia que o homem começa a dominar a tal nanotecnologia, capaz de uma revolução tecnológica no mundo. Dos remédios aos carros.

Na nano, que é a bilionésima parte de um metro, está a esperança do tratamento de doenças devastadoras. Do câncer à Aids.

Entender o fenômeno de que estamos falando, só mesmo pela comparação: Uma pulga mede um centímetro, um fio de cabelo oito microns de diâmetro. Um glóbulo vermelho, sete microns.

E mais comparação, só que na chamada “escala nano”:

Uma bola de futebol (vinte e dois centímetros de diâmetro) x uma molécula de carbono 60 (zero vírgula sete nanos), ou seja, cem milhões de vezes menor do que a “gorducha”, que tanto alegra quando entra no gol adversário.

Aí a pergunta que não quer calar: Seria material ou imaterial a tal molécula de carbono 60? Ora, uma bola eu consigo ver. Uma célula não.

Mas agora já se consegue medir a célula. Então ela é algo material. Só que com muito menor densidade do que a tal bola de futebol.

É hora de revisão de conceitos. Até sobre materialidade ou imaterialidade.

Será preservada a teimosa classificação, como material, apenas daquilo que o olho humano alcança?

Ainda há gente que só acredita no que vê!

 

Topo da Pagina topo da páginaImaginação...

Ah! Se os homens de bem tivessem a imaginação dos canalhas!
Arnaldo Jabor

Toda vez que acontece um desses golpes magistrais tão comuns nos dias de hoje, especialmente na informática e na política, fico me perguntando se quase todos os problemas deixariam de existir se as pessoas ocupassem pelo menos parte da sua imaginação para conceber benefícios para a humanidade.

Parece que estou querendo muito.

A história dos povos, inclusive aquelas narradas na Bíblia, está recheada de situações tão criativas como criminosas. Em contrapartida, não são assim tão numerosos relatos sobre grandes obras, ditas do bem.

No mundo jurídico, quando se trata de dano à moral das pessoas, é comum a comparação dessa moral com um lençol limpo e puro. Assim, ao receber o primeiro ponto de sujeira, por menor que seja, a credibilidade da pessoa estará irremediavelmente comprometida.

O que alimentaria a propensão do gênero humano em valorizar a negatividade?

Não me lembro de alguma pessoa conhecida como “fofoqueira” por divulgar fatos positivos e grandes feitos das outras.

Talvez essa “magia do mal”, por assim dizer, freqüente o imaginário humano, acionando algum dispositivo que turbina a inteligência para a prática de tantas canalhices mundo afora.

Ou seria a atração humana pela tal transgressão, da qual tanto falam os psicólogos?

 

Topo da Pagina topo da páginaPré-Estréia do Fim

Esse mundo de papel,
cada vez mais gente sem valor.
Isso não pode ser o céu.
Duvido que aqui nasça uma flor.

Um emaranhado de problemas,
uma energia pesada.
Ser humano sai de cena,
só se fala no sistema,
emoção quase zerada.
E que barra tão pesada.
E que vida esbranquiçada.

Eu estou em um cartório,
aguardando uma carga.
Processos e processos, assim...
Uma gente tão amarga.
É muito drama. É muito mal.
Uma espécie de umbral.
Pré-estréia do fim.

 

Topo da Pagina topo da páginaEu ti ai love iu

Festa de aniversário de adolescente. O Bernard. Lá no Rio de Janeiro.

Como sempre, grupos formados por faixa etária. De um lado, coisas de família; lembranças; aposentadoria; remédios...

Do outro, funk; meias palavras; gírias de época; roupas bem largas. A irreverência de sempre.

Até que um garoto, digamos assim, da ala funk, puxa a Ivana pro canto, dizendo com bastante inspiração:

“Eu ti ai love iu como nunca ailoviei ninguém”.

Eu não sei como a Ivana resistiu.

 

Topo da Pagina topo da páginaPor que? Porque

Por que gostar do que todos gostam?
Por que ir na mesma direção?
Por que envolver-se com o óbvio?
Por que amar sem emoção?
Porque aderir ao óbvio é cômodo.
Porque coincidir é lucrativo.
E se aderir não for inventivo?
Quem vai pagar a conta, então?

 

Topo da Pagina topo da páginaA Chave Itinerante

Avião pousado. Peguei o paletó e vesti. Era do meu manequim, compunha um conjunto harmônico com a calça.

Já na pista, encontrei no bolso uma chave presa a um chaveiro. Ambos desconhecidos.

O chaveiro tinha o logotipo da IBM e, durante o vôo algumas pessoas conversaram animadamente entre si, sempre mencionando a empresa. Era uma viagem de negócios. Duas delas estavam ao meu lado.

Então abordei uma delas, entregando o chaveiro. Era presumível que era propriedade de um daqueles do grupo.

Logo a seguir, um cidadão me cutuca:

– Ei, desculpe. Mas, Você não estaria com o meu paletó?

Fiquei assustado com aquela pergunta incomum, mas que me fez notar que o tal paletó (colocado sobre o meu lá naquele compartimento do avião) era de um dos executivos da multinacional que, ofegante, carregava o meu.

A troca aconteceu antes mesmo de chegarmos ao terminal.

 

Topo da Pagina topo da páginaIndiferença

Se você gostar ou se não gostar,

É bom ficar sabendo que o caminho se abre e algo
nos acolhe.

E basta arriscar.

Com inteligência e prudência. Mas arriscar,
Usando tudo. O que escolhemos e o nos escolhe.

Percorrer os trajetos abertos.
Abrir mais picadas no mato.
Retirar do mundo o que é certo.
E até o que se acha insensato.

 

Topo da Pagina topo da páginaAmores Medidos e Comparados

Em uma revista semanal, um filho adulto justifica o abandono da velha mãe com o argumento de que, quando jovem, essa mulher se posicionava ao lado do pai quando este se conflitava com os filhos.

Morto o pai, agora o filho “manda a conta” pela imprensa, tornando público o abandono da mãe que, antes, não o privilegiara, “escolhendo” o amor do marido ao invés do amor do filho.

Não me reconheço autoridade para opiniões definitivas sobre nada, especialmente sobre o amor.

Mas, sempre resisti ao maniqueísmo que nos obriga a escolha entre o “bem” e o “mal”; o “baixo” e o “alto”; o “feio” e o “bonito”; o “dia” e a “noite”. E por aí afora.

Por que os amores devem ser medidos e comparados? Existiria uma “hierarquia” entre manifestações desse sentimento. Um, digamos assim, top de linha.

Ninguém “hierarquiza” aquele sentimento que está exatamente no lado oposto ao do amor. O ódio.

Estranho isso. Nunca vi ninguém dizer que odeia mais “A” do que “B”.

Conheço poucas situações mais constrangedoras do que ver alguém se esforçando para explicar amores e para medir a sua intensidade em situações diferentes.

Serão sempre mais agradáveis as relações confortáveis e plenas. Mas, há obstáculos que, mesmo não convidados, chegam de “penetra” nas nossas vidas.

O que mudará sempre será a menor ou a maior capacidade de cada um no convívio produtivo quando presentes esses “espinhos”.

Uma rápida “olhada” lá dentro de nós mesmos permitirá a clara identificação das diferentes manifestações de Amor que habitam a nossa vida. Mas, é bastante complicado o estabelecimento de uma espécie de ranking.

Será que esse cidadão, que teimou em levar para a mídia os seus conflitos emocionais, apenas faz uso da matemática na sua vida?

Esse inevitável “entrelaçamento” de sentimentos sempre deixará perplexos aqueles que insistem em ignorar o “corpo”, apenas identificando os membros que o compõem.

Se pai e mãe não tiverem a sabedoria de conjugar sentimentos e procedimentos, temperando a vaidade para oferecer à criança um “alicerce” emocional capaz de suportar os confl itos, restará enfraquecida a figura de um deles (ou de ambos) diante do filho.

A partir daí, o futuro poderá estar comprometido, porque a pequena criatura talvez não consiga construir “trilha” emocional segura, que precisará percorrer durante toda a vida.

Então, talvez lhe reste a forma mesquinha de medir e comparar sentimentos imensuráveis e incomparáveis, justificando aqui e ali a sua incapacidade de construir uma vida emocionalmente produtiva, mesmo se, para isso, for obrigado a juntar certos “cacos” dos inevitáveis erros cometidos por toda a criação humana.

 

Topo da Pagina topo da páginaO Mar da Ásia - Lições ao Homem

Ao apagar das luzes do ano de 2004 parece que, por algum tempo, a mãe natureza pegou a emprestada brutalidade da sua prole humana.

Uma grande onda, nascida do deslocamento natural de uma placa (um pedaço do planeta coberto pelo mar) ganhou uma velocidade comparável à de um jato (± 1.000 quilômetros por hora), chegando às praias com cerca de 5% dessa velocidade. O sufi ciente para produzir milhares de mortes e uma situação de calamidade geral.

Em uma espécie de escala gradual da desgraça, a TV partiu de uma estimativa de 3.000 mortos. Rapidamente o cálculo avançou para 10.000, 30.000, 60.000 mortes. Tantas que as autoridades locais pararam de contar corpos quando foi atingido o número 300 mil.

Eram ilhas com jeito de paraíso, que viraram inferno em segundos.

Mas, se a força da natureza é indomável, não é imprevisível.

Sabe-se que os países mais atingidos não integravam uma comunidade científica detentora de equipamentos e de tecnologia que prevêem esse tipo de ocorrência.

Em “compensação”, pelo menos um desses países domina tecnologia capaz de produzir uma bomba atômica, aliás, a fabrica.

Talvez o que se gastou para desenvolver uma arma com tamanha capacidade de destruição tenha faltado para esse país aderir ao grupo detentor da tal técnica de “advinhar” desgraças.

Será que as desgraças preferem países miseráveis ou os países miseráveis é que atraem desgraças com a inconseqüência de sempre?

A tragédia natural, apesar da sua gravidade, deixou alguma coisa boa. É que não morreu sequer um dos animais ditos irracionais. Um coelho sequer.

Também, uma pré-adolescente, ao notar o grande refluxo da água do mar, lembrou-se de uma aula e avisou do perigo a quem estava por perto.

Então os bichos, que o homem teima em chamar de irracionais e as crianças, muitas vezes tidas como inocentes, tiveram a capacidade de “advinhar” o desastre.

Incoerência dos homens ou lição da Natureza?

 

Topo da Pagina topo da páginaNa Sala da Justiça

Na sala da Justiça,
Há de se distribuir a própria.
Discordar, nem que eu insista.
A convivência é exigida.
E na versão original. Não se aceita cópia.

O que fazer neste lugar,
se não posso reagir?
E pra que acomodar, se não preciso harmonizar?

É densa a energia que circula,
Faz a todos afundar.
Incerteza que estimula
o ofício de pensar!

Tudo isso me assegura,
sempre haverá o imperfeito.
E a busca é sempre dura.
Quanto a isso não há jeito.

Se pouco posso mudar,
o que fazer, então?

É algo muito acima e
só tenho as minhas mãos,
mas preciso enfrentar a vida,
com alguma ternura, enfim,
buscando do lado de fora o que só está dentro de
mim.

 

Topo da Pagina topo da páginaCaminho Traçado

Sigo o caminho traçado. Sob fogo cerrado.
Quero um atalho pra sair e um amor pra sentir.

Sorrir pra vida e não ligar pra mais nada.
Amar sem despedida, sem fugir em canalhada.
Por que se fi ngir feliz? Felicidade também é soma.
Sem dá nem toma. Nem viver por um triz.

Porque viver é premissa, pra crescer em tudo.
Tudo com justiça. Sem amor mudo.

Amor mudo que grita. Calor que a tudo agita.
Se você quer, medita. Vem chegando e habita.
Habita este peito doído. Usa esse amor escondido.
Sem carinho medido.
Cresce junto comigo.

 

Topo da Pagina topo da páginaDegraus de uma Longa Escada

Direito acompanha a vida do homem desde a concepção até depois da morte.

No meu caso, a coisa foi além porque também optei pelo Direito, não somente para o exercício de uma profi ssão, mas para me confundir com ela, a ponto de agir diariamente para que os meus caminhos jamais se afastem da advocacia.

Na minha vida, esse caminho que fez toda diferença, na estrada da indigência para a dignidade; da violência para o exercício da cidadania; da reação despropositada (rude, até) para algo mais ponderado, mesmo longe do ideal.

Ah! a Justiça. Tão indispensável e tão distante daqueles que dela mais precisam. Esse distanciamento, penso, é um dos maiores motivos para o caos social em que estamos metidos nos tempos atuais.

Já na primeira infância participei da angústia da minha família, na iminência de ser despejada por falta de pagamento de aluguéis, porque o trabalho do meu pai era impedido por uma crise de ácido úrico.

Felizmente um juiz, que aceitou conversar com uma pessoa comum, ouviu as razões do meu pai, um pobre e enrolado autônomo que lhe pedia um prazo maior para o pagamento dos aluguéis atrasados, mostrando-lhe as mãos em feridas.

Então o julgador, certamente nas brechas da burocracia cartorária, conseguiu um prazo maior para que a dívida fosse quitada (com o produto do intenso trabalho adicional de toda a família) e o despejo evitado, preservando a nossa moradia em troca de um aluguel defasado, o que era muito porque, então, não era fácil (nem barato) se conseguir um imóvel para alugar.

Eu observava uma discreta oposição paterna à minha simpatia pela idéia de ser advogado, talvez vinda da figura do Dr. Abel, um cliente do meu pai, sério, de óculos, que sempre encomendava ternos escuros e pagava religiosamente o combinado, exigindo o cumprimento do prazo de entrega, o que era tormentoso para o Seu Cleto, na sua clássica irreverência.

Mas, já era mágica a minha ligação com o Direito, talvez porque me descreviam o advogado como alguém com poderes, por assim dizer, inexplicáveis, uma espécie de bruxo moderno, conhecedor de fórmulas secretas não acessíveis a outros seres humanos.

O que me motivava, depois descobri, era exatamente essa magia que permite, pelo caminho do conhecimento e pela força da Justiça, que uma pessoa humilde possa ser considerada como alguém com direitos, além de deveres.

Eu fazia tudo para me aproximar da advocacia, até que consegui ser uma espécie de “estagiário”, quando sequer cursava uma Faculdade de Direito. Na verdade eu era um mensageiro exclusivo do Departamento Jurídico, um certo “boy de luxo”. Nessa condição, eu estava sempre no Fórum, assistindo a julgamentos, enfim, no caminho que viria a percorrer.

Daí foi um pulo para o vestibular, a faculdade, o verdadeiro estágio e a conclusão do curso, a pósgraduação e até o magistério.

Convivi com profissionais dos quais herdei o que pude, até porque não são pequenas as minhas limitações.

Nesse “time” estão Plínio Pinheiro Guimarães, Luiz Hidalgo Barros, Luiz Eduardo Nascimento, José Teixeira Correa, Jorge Neves de Oliveira, Raul Tonoli, Roberto Arruda, Carlos Leduar Lopes, Miguel Reale Jr., José Manoel e Theresa Arruda Alvim, Donaldo Armelin e Maria Helena Diniz.

Mas, ainda saboreio, como uma das maiores emoções da vida, a localização do meu nome na lista de aprovados, para o então chamado “vestibular unificado”, publicada em um jornal, pendurado em um jornaleiro da Rua da Alfândega, no Rio de Janeiro.

 

Topo da Pagina topo da páginaPassado / Futuro

O Passado e o Futuro sempre a desafi ar.
Tão óbvio, um. Tão imprevisível, outro.
De repente, é fácil notar:
Coisas em comum, algo de louco.

Passado e Futuro. Entre os dois o momento.
Um passado pra olhar. Um futuro pra seguir.
Taí a magia, às vezes acompanhada de alegria.

Um tipo de bruxedo somado a um bocado de medo
e, quem sabe, a algum amargor do Passado,
do cotidiano duro, diariamente formado
pela força dos momentos, que ficam estocados, bem
entre o Passado e o Futuro.
Perto de lugar nenhum.

É ali, sem nada muito especial,
que se decide a vida.
Feliz ou sentida. Partilhada ou abandonada.
E momentos mal vividos somam vida desbotada.
E a tal magia do momento, que se apresenta agora,
senhora.

Acorda pra vida. Até pro sofrimento.
Não interessa, serão emoções sutis, talvez
desengonçadas,
que farão o crescimento ou a grande derrocada.

 

Topo da Pagina topo da páginaLinha Direta... Com Deus

Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro. O ano de 2005 mal tinha começado. Movimento morno, próprio da época.

Uma moça bem falante, não chegava a ser bonita, mas era, por assim dizer, vistosa, transitava com desenvoltura, sempre falando ao celular, demonstrando querer chamar a atenção, atrair olhares.

Depois sumiu. Só reapareceu na sala de espera para o embarque. Falava alto, não disfarçando a intenção de ser ouvida pelo maior número possível de pessoas.

Ainda ao telefone (haveria realmente algum interlocutor?), continuava ela:

– Lá na piscina do Intercontinental (um luxuoso hotel local) eu avisei várias vezes:

“Quem oferecer flores pra Iemanjá, fica sabendo que estará mal com Deus”

E ameaçava:

– Eu não oro pra nenhum deles.

Não bastava falar que estivera bem hospedada. Era preciso divulgar o nome (e o padrão, naturalmente) do hotel.

Fiquei com a sensação de que estava diante de uma portadora da “senha” de acesso a Deus. Um ser especial acima dos demais mortais, escolhida, ungida pelo Criador.

Já na escada do avião, sem reduzir o tom da fala, agora em conversa com uma acompanhante (afinal, ali não era mais possível o uso do celular), ela avisava com um ar preocupado, ainda como que buscando a aprovação de quem estava por perto:

- E já avisei... ninguém deve deixar que lhe roubem a benção que recebeu de Deus, porque aí, Deus fica irado e tudo passa a dar errado na vida.

Torci pra ficar perto dela e acompanhar aquele “desempenho” durante o vôo. Mas não consegui.

Já em São Paulo, ela continuava com a sua “pregação”, agora acompanhada de perto de mais um “ouvinte acidental”, certamente mais interessado no que via do que no que ouvia.

E aí começaram as minhas silenciosas perguntas sem respostas:

Que “Deus” é esse que:

– nomeia “procuradores” na Terra, a quem franquia “senhas de acesso”, cujas orações são dotadas de poder, “especialmente diferenciado” pra dizer o que é certo e o que é errado e até pra patrulhar a fé alheia?

– premia “certas pessoas” com “certas bênçãos” que podem ser roubadas e, então, “usadas” pelo ladrão?

– fica “irado” e castiga com desgraça aquele “descuidado” que se deixa enganar por alguém tão mais esperto a ponto de lhe roubar a tal benção?

O que estão fazendo com a fonte de perfeição que alguns chamam de Grande Arquiteto do Universo? O que querem? O que pretendem?

 

Topo da Pagina topo da páginaEm Paixão não há Medida

A busca da reta verdade
passa por caminhos tortos.
Esbarrando na insanidade, na busca do equilíbrio,
vivendo das marés, muito longe dos portos.

O barco em alto mar.
A âncora lá no fundo.
Só a vida a movimentar, enfim,
todo o resto do mundo.

Se eu não me inquietar,
vou morrer de solidão.
É sair a procurar,
pela tal desilusão.

Se certeza não se acha,
pra que então procurar?
Se ela é tão chata,
mas pode mesmo até pode matar?

É da dúvida que eu tiro a vida,
e até assumo a dívida.
A viagem continua
e o fi m não se situa.
Em paixão não há medida.

 

Topo da Pagina topo da páginaTempos de Criança

Há histórias e estórias de criança que nada têm de infantis.

Eu pouco tinha passado de 12 anos e já trabalhava no comércio. Aliás, a Previdência Social nunca acreditou nisso na hora de me “premiar” com aqueles proventos espetaculares.

Ficava eu ali na porta, esperando pelo freguês (sim, era assim que, na época, se chamava o cliente, o consumidor). Enquanto isso, “fiscalizava” o movimento da rua. Da vida alheia, melhor dizendo.

Então, uma moça bonita, morena, cheirosa sempre aparecia no ponto de ônibus, mas sempre embarcava em carros de passeio. A cada dia um diferente. Guiado por pessoas diferentes. Às vezes a cena se repetida no mesmo dia.

Lá ia ela para mais um passeio, deixando a cabeça do moleque aquecida pela fantasia.

Com suas roupas bonitas, a tal moça sobressaía naquela comunidade pobre.

Não eram poucos os comentários sobre a espécie de trabalho dela. Mas o certo é que ela era admirada pelos homens (especialmente pelos garotos),enquanto que as mulheres, com certa dose de ironia, especulavam sobre as suas práticas. Mas, ninguém tinha coragem de dizer algo de positivo sobre ela, a não ser quanto aos seus dotes físicos especiais.

Fico imaginando aquela moça. Hoje, claro, uma senhora. Talvez respeitável avó.

Mas, se a sua juventude, as suas cores, o seu perfume e a sua ousadia de então pudessem, em um passe de mágica, ser trazidos para os dias atuais, ela certamente ocuparia um lugar bem mais nobre na escala social e na mídia.

 

Topo da Pagina topo da páginaSerá Sempre Justo o Exame da Ordem? (*)

Pela Lei, apesar da conclusão do curso bacharelado de Direito, ninguém será advogado no Brasil sem a aprovação no chamado “Exame da Ordem”, produto da legítima inquietude da Ordem dos Advogados do Brasil com o baixo nível dos nossos cursos de Direito.

Sem essa prática a situação estaria pior, até porque as nossas autoridades constituídas ainda não se ocuparam de melhorar o nível de ensino de toda a população. É que o enfrentamento das causas do problema é muito “trabalhoso”. Então, apenas se cuida dos efeitos. Aliás, como é da nossa triste tradição “tapa-buracos”.

Hoje, com raríssimas exceções, as nossas escolas públicas de nível fundamental e médio ensinam pouco e mal. Diferente do que acontece em boa parte das escolas particulares, estas para alguns.

Já as universidades públicas (também para “alguns”) quase sempre conseguem manter um bom padrão. Ao contrário do que acontece com a grande maioria das instituições particulares de ensino superior, para onde vão os menos afortunados, por assim dizer, lá permanecendo segregados até a conclusão do curso, em estruturas quase sempre descomprometidas com a qualidade do que estão ensinando.

As universidades consideradas de “primeira linha” (públicas, em sua maioria) estão lotadas de pessoas de bom poder aquisitivo. E nada há de errado nisso. Mas, a todos deveria ser dada a oportunidade de ingresso nesses “olimpos”, pela via do conhecimento.

Concluído o curso de bacharelado em Direito, esse contingente passa a freqüentar assiduamente a lista de reprovados no Exame da Ordem dos Advogados do Brasil, engrossando as estatísticas de sempre.

Como ainda não se descobriu a “cura” para essa grave doença chamada descaso do Estado (a educação e a saúde são as duas chagas mais conhecidas desse mal), legitimamente a sociedade civil reage, criando as suas defesas, como fez a Ordem dos Advogados, com o seu exame de “admissão”.

Enquanto isso, com justiça, algumas instituições de ensino, públicas, em sua maioria, continuam se destacando no ranking de aprovação dos Exames da OAB.

Mas, vem por aí um nivelamento “por baixo” com o propalado “sistema de cotas”, pelo qual o Estado, reconhecendo a defi ciência do ensino fundamental e médio que ministra para o segmento mais pobre e numeroso da população, oferece uma espécie de ”consolo”, abrindo certas “janelas” de acesso para a universidade pública, escancarando as carências de formação dessa massa, que ficará exposta a constrangimentos de toda ordem, por haver entrado na universidade não pela conquista, mas por uma odiosa esmola chamada “Sistema de Cotas”, que lhe aviltará ainda mais.

Voltando ao nosso tema, concluído o curso de Direito e experimentado o primeiro revés no Exame da Ordem, aqueles mesmos desavisados continuarão desembolsando boa parte dos seus minguados orçamentos nas mensalidades dos chamados “cursos preparatórios”.

A realidade é mesmo caótica. Mas, também é indiscutível o sofrimento desses bacharéis, a maior parte marcada, desde a infância, pela iniqüidade.

Tenho tentado contribuir, dentro das minhas limitações, com alguns próximos que estão às voltas com o “Exame da Ordem”, seja em estudos de última hora, seja depois do exame.

Já encontrei questões impropriamente formuladas; casos em que a resposta certa foi considerada errada ou vice-versa. Nessas situações, apenas recentemente, e de forma tímida, a OAB, Secção São Paulo, tem admitido o convívio, não raro em Direito, de duas alternativas certas no mesmo rol.

Então, costumo orientar o “desesperado” candidato a apresentar recurso à Comissão que cuida do certame.

De uma forma geral, o pessoal da Comissão de Exame da Ordem dos Advogados expressa, de imediato, a certeza do insucesso coletivo de todos os recursos. É fato que já aconteceu rejeição generalizada de até cinco mil pedidos de revisão.

Fica a impressão de que esses recursos são examinados pelos mesmos profi ssionais que, antes, elaboraram as questões. Pode ser essa a causa da sistemática rejeição de recursos, até mesmo pelo compreensível instinto de preservação das convicções projetadas na redação da prova.

Em uma dessas oportunidades, levei o caso à Justiça, apontando o que entendia como equivocado na formulação de algumas questões e/ou na elaboração do gabarito.

E o Judiciário concedeu a liminar para que o candidato fosse admitido na segunda fase do concurso. Depois, a sentença julgou procedente a ação, aumentando a minha dúvida quanto à completa justiça do chamado “Exame da Ordem”.

Não se pode exigir a perfeição em evento dessa dimensão, apesar de repetido ao longo dos anos.

Mas também é incômodo o convívio pacífico com fatos como esse.

Estou seguro de que a OAB, que tanto lutou – e luta – pelo Estado de Direito neste País, não fomenta sistematicamente injustiças.

Então, sejam quais forem as iniciativas para a melhoria no nível do ensino jurídico no Brasil, nada justificará que a Ordem dos Advogados do Brasil não diligencie para evitar impropriedades nesse certame tão traumático para quem, ao longo do tempo, sempre faltaram oportunidades.

Um caminho seria a formação de um grupo revisor de gabaritos, com profi ssionais não participantes do trabalho de elaboração de provas. A revisão aconteceria imediatamente após cada exame, antes da divulgação dos gabaritos, que até poderiam ser modifi cados se alguma impropriedade fosse encontrada, naturalmente influenciando o processo de correção, antes mesmo dos recursos, que seriam reduzidos, o mesmo acontecendo com a possibilidade de alguém experimentar o gosto amargo da injustiça, no ambiente da Ordem dos Advogados.

Não se pode esquecer de que o exame é organizado em duas fases. A primeira de múltipla escolha e a segunda de questões descritivas. Se o candidato, aprovado na primeira fase, não for bem na segunda, voltará à chamada “estaca zero”, ou seja, será obrigado a refazer a primeira fase.

Tem-se falado no aproveitamento dessa primeira fase, situação em que o candidato apenas passaria a concentrar esforços na segunda etapa se, uma vez já ultrapassa a primeira.

Seja qualquer for o motivo desse impróprio tratamento de um grave problema social que, sem dúvida, não foi criado pela Ordem dos Advogados, um certo alívio poderia vir de uma dose maior de sensibilidade.

Essas e outras distorções estão exigindo um amplo debate. O que não se pode admitir é o conformismo.

* ADAPTAÇÃO DE MATÉRIA PUBLICADA NO JORNAL
“TRIBUNA DO DIREITO” SP, FEVEREIRO DE 2005

 

Topo da Pagina topo da páginaInvolução

É como estar sem querer, nascer sem viver.
É como amar sem prazer, viver pra morrer.

É como querer sem saber. Mirar e tremer.
É como matar sem sofrer. Beber e esquecer.

É assim, de qualquer jeito. Pra que fazer direito?
Fazer direito a vida. Vivê-la menos sofrida.
Jamais fechar a saída.

Vida simples, sem rompantes.
O bicho homem, com nada de simples,
é que tem provado estar, sempre,
bem pior do que antes.

 

Topo da Pagina topo da páginaNos Outros está o Erro

Há pouco mais de dois anos, a esperança venceu o medo. Hoje, a realidade está vencendo a esperança. De todos os lados aparecem denúncias e mais denúncias. Muitas confirmadas.

É evidente que, em uma sociedade pluralista, haverá sempre os que gostam e os que não gostam. Mas, o que impressionará mais: aqueles que, hoje, desqualificam denúncias e, ontem, se empenhavam na investigação de qualquer fumaça de erro ou aqueles que, hoje, gritam por apurações e, ontem, eram especialistas em “operação-abafa”?

Tudo deixa, para os cidadãos comuns, a amarga certeza de que, se não são novas as tristes práticas que estão sendo descobertas, a camarilha que foi pega com a mão na “massa” não tem o direito de justificar os seus crimes com ideologia ou com mazelas do passado.

O que dói é que os mais recentes salteadores do dinheiro público eram como puritanos que, de um lado da Praça Brasil, viviam praguejando o bordel que funcionava do outro lado.

Até o dia em que essas pessoas, ditas ”do bem”, atravessaram a praça, entraram no tal prostíbulo. Rapidamente gostaram das práticas de lá, sendo muito bem aceitos na nova “casa”.

Agora, flagrados, ao invés de fazer uma certa faxina moral, própria daqueles que, mesmo tendo errado, não têm compromisso com erros, os protagonistas da mais recente “festa dos horrores” preferem “varrer o lixo para debaixo do tapete”, adotando um “olhar de paisagem” diante de tudo o que está acontecendo, comodamente debitando os seus erros a uma “elite” só enxergada de dentro pra fora. Nunca de fora pra dentro.

Na verdade, esses desprezíveis personagens estão criando um caldo de cultura para que certos vermes, vindos das fossas mais mal-cheirosas do atraso, comecem a fomentar movimentos para pretenso “restabelecimento das instituições” e de fantasmagóricas “juntas governativas”.

Como se essa loucura garantisse que outros criminosos não mais venham a aportar nos governos que administram o dinheiro público. Farto, para alguns, e minguado, para a maioria.

 

Topo da Pagina topo da páginaSonhar

“Nada supera a sensação de sonhar”
Nostradamus

Sonhar.
Vivência sentida, bem ao lado da vida.
Posso até flutuar.

Sonhar pra você, dono da verdade,
só pra ter objetivo, já que em nada acha motivo
não há jeito de amar.

Sonhar.
A imaginação não tem limites.
Aproximação sem convites.
Sei, posso. É só tentar.

Sonhar. Pobres e ricos,
Prazer igual. Viver em alto astral
Esse momento bendito
de se aprimorar.

Sonhar.

Vivenciar meios, não viver pelos fins.
A natureza tem seios, que alimentam a todos, até
nos confins.

Sonhar.
Por que tanto medo da aproximação. Da
descoberta.
Você sabe que, na certa,
é preciso partilhar.

Sonhar. Aonde quer que estejamos,
Já ensinou Nostradamus,
Nada supera a sensação, não tem jeito não,
a sensação de sonhar.

 

Topo da Pagina topo da páginaNegro (Tributo a toda uma Raça)

Hoje é centenária a tua liberdade
Liberdade real? Não sei!
Hoje é centenária a tua ambigüidade
Liberdade formal, na lei
Negro pisado, negro doído
Povo enganado, povo sofrido

Vejo em você o retrato de toda a minha gente
Horizontes deprimentes
Um dia, profi ssão esperança
Mas, e a dignidade, Nunca alcança?

Pelo aniversário da tua liberdade, mesmo que
formal, parabéns
Pela inconsciência das tuas dificuldades, vem o mal
e os desdéns

Negro energia
Negro folia
Não é longe o tempo
Terás mais que um dia

Mais que um dia em cem anos
Adeus aos desenganos
Desfazimento de nós, será o jeito
Vocês não fi carão sós, ante o preconceito
Pré-conceito maltrata
Preconceito que mata

Por que não se tem pudor
Do assassinato do Amor?

 

Topo da Pagina topo da páginaMercado Aberto / Lei da Gravidade

Quem vai querer comprar uma alma?
Quem vai, sem tremer, matar com calma?
São muitos! Façam fila senhores!
Um de cada vez! É o leilão dos horrores!

São os horrores da fome que mata.
Nem o tremor da vergonha aplaca.

E pra onde vai essa legião de famintos?
Quem dará o último empurrão? Logo sinto!
Sabe o que eu acho? Não deve dar dó.
Meio caminho andado. É assim, oh!

Sem alarde, empurrá-los pela ribanceira da miséria.
Esperar o efeito da lei da gravidade.

 

Topo da Pagina topo da páginaAlegria, Alegria

No Brasil, a alegria coletiva será sempre com data marcada. Reconhecimento espontâneo? Nem pensar.

Raro algo que se vê no carnaval, passagem de ano ou quando vencemos uma Copa do Mundo. Fora dos mitos produzidos por certa mídia, não é comum que algum “brazuca” seja espontaneamente reconhecido por sua alegria de viver.

Ainda assim, o mundo todo olha o brasileiro comum como um povo alegre, que canta, dança e festeja, apesar da miséria humana que o massacra, pela via da interminável injustiça.

Em verdade, não temos tido grandes motivos para festejos. Mas, não precisamos exagerar. Temos, realmente, motivos de orgulho, que são sistematicamente ignorados pela maioria do nosso povo.

O álcool, uma respeitável fonte de energia, renovável e alternativa ao petróleo, nos privilegia diante de outros povos. Livre de confl itos étnicos e religiosos, os nossos problemas de segurança até parecem pequenos diante dos dramas do terrorismo vividos em outros Países.

Parece paradoxal, mas o Brasil tem feito bonito no combate a uma grave doença. Recentemente, durante um congresso médico na Espanha, ativistas locais exigiam a substituição das práticas locais por aquelas adotadas no Brasil.

É que temos um dos mais aprimorados sistemas de combate à Aids do mundo.

Quando li isso, fi quei, por assim dizer, com um gostinho especial de viver em um país que, em alguma “modalidade”, se destaca positivamente, a ponto de despertar inveja mundo afora.

Mas, ao elogio barato, muitos preferem o escárnio. Não gostamos de reconhecer qualidades nos nossos patrícios ou em algo que simplesmente nos lembre Brasil. Mas, quando tratamos de qualquer feito dos outros países, especialmente aqueles de PIB mais robusto do que o nosso, logo vem o tal complexo de inferioridade: ISSO É COISA DE PRIMEIRO MUNDO.

Esquisita essa atração do brasileiro pela bajulação barata e, por outro lado, essa aversão pelo justo reconhecimento.

O privilégio do aplauso parece estar reservado aos de outras terras, até porque os nossos avós nos ensinaram que “santo de casa não faz milagre”.

 

Topo da Pagina topo da páginaLucidez / Loucura

Por todo o tempo enxerguei algo de lúcido na
loucura.
Por todo o tempo exigi algo de louco na lucidez.

Era meu intento ir além dos limites da objetividade.
Não é meu o invento da busca de estações além da
realidade.

Mas, quando se vê seres, ditos humanos, a espancar
indefesos,
sejam inocentes ou culpados.
A matar gente, com certa dose de prazer, que
horror!
Dá uma dúvida danada:
Será que esses mundanos
são gente ou desprezível matéria
vivificada por “descuido” do Criador?

 

Topo da Pagina topo da páginaA Saúde da Pesquisa

Uma revista especializada em ciência publicou um estudo decretando que a homeopatia tem o mesmo efeito terapêutico de uma prosaica mistura de água com açúcar, qual seja: nenhum.

Seria o chamado efeito placebo. Quando se quer saber se um remédio funciona mesmo, os cientistas selecionam um grupo pessoas portadoras de determinada enfermidade. Uma parte desse grupo é medicada com o medicamento estudado, a outra, com um remédio de “mentirinha”, farinha com água, normalmente. Um placebo, enfim. Os comprimidos são iguais e nenhum dos pacientes sabe o que está tomando.

Ao final da pesquisa, o grupo é avaliado e algumas das pessoas melhoram, apesar de haverem tomado “remédio” que não é remédio.

A conclusão é que, pensando que está sendo medicado, o paciente pode ser emocionalmente influenciado de uma tal maneira que se convença da cura, que pode acontecer por um mecanismo da mente ainda não totalmente conhecido.

Para o tal estudo, o mesmo aconteceria com a homeopatia.

E não tenho autoridade para falar nada a favor ou contra essa conclusão.

Mas, na minha condição de consumidor, eu não tenho meios de confiar nesses estudos, que ora concluem que fazem bem, ora que fazem mal: chocolate, amendoim, whisky, vinho, sono, exercícios, sexo, de mais ou de menos... Ufa!

Agora, a “bola da vez” é a homeopatia.

É muita gente a falar bem e a falar mal. E nós, os pobres mortais, ficamos na mesma.

Eu só queria saber:

– Quanto tempo durará a “conclusão definitiva” de mais esse estudo?

– Como pode ser emocionalmente influenciado um recém-nascido ou um cachorro, que melhoram quando medicados com a tal “água com açúcar”?

– A quem aproveita um debate desses?

 

Topo da Pagina topo da páginaAssassinato

Terra Amiga
Alimenta e dá a Vida
Guarda a dor da morte
És uma mãe sem sorte

Teus fi lhos te desrespeitam
Teus frutos te espreitam
São venenos todo dia
Até quando? Quem diria...

Incrível mãe, que capacidade de perdoar
Até quando, com insensibilidade vão te envenenar?
Eu fi co aqui pensando
Eu sei que choras. Até quando?

Mãe terra
Terra mãe amiga, torturada, queimada
Se o homem sempre erra
Quando serás poupada?

 

Topo da Pagina topo da páginaO Estupro da Inocência

Cidade de São Paulo, sexta-feira, final de expediente.

Na praça Dom José Gaspar rodas de samba em quase todos os bares. Muita alegria para comemorar o fim de mais uma semana de trabalho. Hora de preencher o coração com amor ou com um simples aconchego. Afinal, ninguém é de ferro.

Mas, bem na porta dessas “usinas de alegria” estava uma dura realidade: Crianças (não poucas) maltrapilhas cheiravam cola. Sorrisos torpes de angústia eram expressos naqueles rostinhos, muitos com menos de dez anos de idade.

Eles brincavam entre si, ostentando a miséria das suas vidas. Alguns até com brinquedos quebrados. Outros, irritavam adultos, tentando deles receber algum dinheiro que pudesse alimentar a miséria da droga que já tomou conta de suas curtas vidas.

É complicado o convívio natural com crianças, mal saídas das fraudas, cheirando cola, roubando, dormindo nas ruas.

Estudos provam que, em São Paulo, não chega a três mil o número de crianças em real situação de abandono.

Algo pode ser feito pelas autoridades e por cada um de nós.

 

Topo da Pagina topo da páginaPlaneta Azul

O meu planeta é azul
Muitos já viram
É bonito!
É bendito!
Poucos assim sentiram

O meu planeta é azul
Por que o maltratam?
É só um retiro?
Então eu sugiro:
Por que não o respeitam?

O meu planeta é azul
É preciso explorar
É preciso integrar
Mas, pra que destruir?
Será esse o caminho?
Eu vou insistir:

O meu planeta é azul
Opção poluir
Árvores extinguir
Pra que bichos por aqui?
Assim não dá não
E tome civilização!

O meu planeta é azul
O que você quer, meu irmão?
Quanta insensibilidade
Aonde nos levará esse turbilhão?
Quais as nossas possibilidades?

O meu planeta é azul
Poluir o ar
queimar as matas
os rios e o mar
A tudo arrasar?

O meu planeta é azul
Sociedade de consumo
a tudo descarta
A natureza é instrumento, é insumo
É o homem quem mata

O meu planeta era azul
Ao homem assassino, a morte
Aos demais, a mesma sorte
Destruidor é o homem sem sentido
Só se tem degradação
É o mundo destruído
O meu planeta era ao Sul...

 

Topo da Pagina topo da páginaEnfrentamentos

Há um partido político no poder, filho de um sonho de décadas.

Até mesmo àqueles que lhe torciam o nariz, esse partido se impôs como o que parecia ser a única estrutura partidária verdadeira do Brasil.

A chegada ao poder produziu aquela maldita certeza de que tudo pode aquele que está no topo, inclusive usar a mentira para enganar incautos.

Esse fenômeno produziu um monstro, irmão daquela outra certeza, a de que os fins justificam os meios.

E a história da humanidade prova exatamente o contrário. Por mais nobres que sejam os fins, ferramentas sujas acabarão sujando a obra.

Do outro lado dessa miséria social estão outros partidos, agora fora do poder, que já começaram a apontar suas soluções mágicas, como se não fossem compostos de homens, todos sujeitos a essa doença que licencia os seus “enfermos” à prática de crimes, sempre sob o manto (falso ou verdadeiro) do grande ideal.

Toda essa confusão já chega a inspirar alguns iluminados, de fora e, até, de dentro do poder, a soluções antidemocráticas.

Esses enfrentamentos precisam ser feitos dentro de cada um de nós, ou não teremos futuro.

Não terá chegado a hora de criarmos juízo e cuidado com essa nossa tenra democracia?

Afinal, tudo está sendo descoberto porque estamos em um ambiente livre.

 

Topo da Pagina topo da páginaFelicidade nos Meios

Remuneração por si só
tributo sem dó
persistência é dádiva
indiferença é mórbida

Felicidade
Procurando? Então vamos saindo
Ignorando? Então vamos fugindo
Fingir que não a quer
Será que é sincero?
Desespero é descobrir a impossibilidade do que se
procura. Gente aflita
Crescimento é persistir na remota possibilidade da
doçura. Coisa mais bonita

Se é impossível o que se procura
Apenas atingível a amargura
Por que não buscar, na essência,
A felicidade da persistência?
Persistência, mas disfarçada
Como quem não quer nada

Não precisa pressa
Pra se chegar à sedução
A sedução do caminho
Esgarçando tecidos
Assim, devagarinho.

 

Topo da Pagina topo da páginaCirco dos Horrores

Ouvi no rádio que uma pesquisadora está estudando o comportamento de pessoas que jogam lixo pela janela de seus carros (luxuosos, muitas vezes), varrem lixo para as ruas, danificam praças e outros equipamentos públicos, corrompem, são corrompidos. Enfim, poluem o meio-ambiente e as suas mentes.

A estudiosa está confusa com o que parece ser um traço em comum entre as pessoas analisadas. Notou uma espécie de desprezo por tudo aquilo que escapa das vistas no primeiro momento. Como se o mundo se limitasse ao meu carro; minha casa; ambiente em que estou agora, às pessoas mais próximas.

Os fatos políticos que enchem o noticiário traduzem um sentimento comum: Egoísmo. Essa falta de generosidade se expressa, inclusive, quando votamos de acordo com os nossos interesses exclusivamente pessoais. Depois, da mesma forma, aqueles que elegemos também atuarão em benéfico próprio. E tudo continuará igual.

Há um certo sentimento coletivo de desprezo pelo outro, inclusive quando estão em jogo condições mínimas de sobrevivência humana.

Cada um está descartando o que não lhe interessa naquele momento e lançando mão, mesmo de forma ilegal, daquilo que lhe atrai. Afinal, interessa apenas o imediato bem-estar pessoal. É um salve-se quem puder!

Já vai longe o tempo em que a felicidade pessoal convivia com a derrocada do outro.

Não somos mais uma ilha de paz em meio a um mundo conturbado, como quiseram ufanistas do passado. Para preservar os seus próprios interesses, eles propagavam que o Brasil era um paraíso cercado por tudo o que acontecia de ruim no resto do mundo.

O nosso país era cantado em verso e prosa como um lugar abençoado, de natureza pródiga e com um povo alegre e cordial.

Hoje, a natureza tem “mandado a conta” das agressões sofridas e considerável parte da nossa população está revoltada com as injustiças que sofrem desde que vêm ao mundo, situação que lhes nega sistematicamente oportunidades mínimas de vida digna.

Nesse ambiente, brotam os oportunistas de sempre, apresentando o assistencialismo, a concessão de direitos que deveriam ser objeto de conquista ou acenando com uma “vaga no céu”, como uma forma de compensação pela vida miserável que, na maioria das vezes, lhes é imposta pela iniqüidade.


E, pior, boa parte desse contingente de desesperados não se organizou para conquistar de direitos. Enveredou pelo caminho do crime ou concordou em se beneficiar dele, produzindo um dos mais graves dramas desse início de século XXI.


Se olharmos para fora das nossas fronteiras, a situação não será diferente. Só que, em alguns lugares, essa explosão de violência tem o sinistro nome de terrorismo. Os tempos atuais provam que a fartura cercada de miséria tem data marcada para morrer. Se for preservada a prática de se “olhar para o próprio umbigo”, apenas a miséria sobreviverá.

Nesse caos, não haverá vencedores. Ninguém será poupado.

 

Topo da Pagina topo da páginaTer Razão ou Ser Feliz?

Sabe aquela sensação estranha de que algo deve ser feito pela relação, mas que esta tarefa é exclusiva do outro?

A omissão será sempre mais cômoda. Não faz barulho. É sutil, mas nada resolve e tudo vai se deteriorando... lenta e elegantemente. Nesse marasmo não haverá inocentes.

Para que problemas sejam resolvidos, ainda não se descobriu nada melhor que a sincera divisão de responsabilidades, seguida do compromisso de esforços mútuos.

É que o quadro se complica se o “barco” de um dos protagonistas nunca sai do “cais”. Fica sempre lá, limpinho, livre das tempestades e dos piratas, mas sem cumprir o “destino das embarcações”, como diria o Ivan Lins.

Enquanto isso, o outro “barco” que vai para o mar de qualquer maneira, fica sujo e meio arrebentado pelas tempestades. Mesmo atrapalhado, continuará navegando, correndo riscos, acertando e errando na escolha dos “portos”. Enfim, vivendo intensamente, mas da forma mais arriscada.

Sempre existirá a opção entre se lançar ao mar de forma precipitada e permanecer comodamente no ancoradouro, reclamando da falta de vento, que impossibilitará a navegação, ou da tempestade, que poderá danifi car o barco.

De pouco adiantará repetir teorias como no exemplo da médica elegante e bem formada, cabelo sempre bem penteado, que permanece o tempo todo dentro de uma UTI, apenas reclamando e se isentando elegantemente pela falta de recursos materiais maiores. Enquanto o paciente agoniza.

Enfim, para não se correr os riscos do desgaste, muitas vezes se prefere uma enganosa paz, que gradualmente acaba com sentimentos bons. É um assassinato assim disfarçado, discreto, com pequenas doses de veneno. Silencioso. Mas que, igualmente, produz cadáver.

Se, nas pessoas, o açodamento deixa arranhões, hematomas e até fraturas, a omissão produz obsessões e rancores, que resistem por séculos até.

Um dos maiores inimigos das relações humanas, emocionais ou não, é a disputa pelo “troféu” da razão, que só contribui para alimentar a vaidade de uma delas. Ou de ambas. Jamais para que elas se entendam.

Afi nal, a postura de “Professor de Deus” em nada ajuda na solução de conflitos.

Quando se pauta a vida por uma espécie de “contabilidade” emocional, aquele que menos investe é o que mais cobra, deixando ao outro a incômoda situação do descontrolado correntista do cheque especial, que vê aumentar o seu ”saldo devedor” a cada da dia, seja qual for a carga de esforços que se propõe a investir na relação.

Entre ter razão e ser feliz, seria melhor que ambas as partes renunciassem à razão absoluta, dando chances à felicidade, sem lugar para vencedores e vencidos.

Mas, além de trabalhosa, essa soma de esforços também exige paciência e humildade.

 

Topo da Pagina topo da páginaCantiga de Criança. De criança?

Serra, serra, serrador
Serra madeira pro seu senhor

Serra, serra, serrador
Quantas toras já serrou?

Serra, serra, serrador
Quantas árvores já matou?

Serra, serra, serrador
A natureza sente dor
Serra, serra, serrador
Acabar com a vida em flor
Serra, serra, serrador
Ô trabalho aterrador

Serra, serra, serrador
Até quando esse torpor?

Serra, serra, serrador
Alguma coisa já plantou?

Serra, serra, serrador
Cadeia pro seu senhor

 

Topo da Pagina topo da páginaE Precisa Mais?

“... é absurda a idéia que entende que alguém, quanto mais vive, mais velho fica. Para que alguém, quanto mais vivesse mais velho se tornasse, teríamos que ter nascido prontos e irmos nos gastando.

Ora, isso acontece com carros, fogões e sapatos. Com humanos e humanas, não. Nascemos não prontos e vamos nos fazendo. Eu, neste momento, sou o mais novo de mim, minha mais nova edição “revista e ampliada”.

Se o critério para a velhice é o tempo, o mais velho de mim está no passado ...”
(Mário Sérgio Cortella, A Escola e o Conhecimento, Cortez Editora, 6a edição, S.Paulo, SP, 2002).

O contato com um texto como o daí de cima, apenas nos deixa a pergunta: E precisa mais?

Nem a ternura que um recém-nascido inspira é suficiente para desmentir que aquele bebê é uma obra inacabada.

Aliás, como disse o Nizan Guanaes, a natureza libera para o nosso convívio um ser sem dentes, com a caixa craniana aberta, apenas coberta por uma fina pele. Este ser faz cocô e xixi sem controle e berra quando tem fome porque não sabe falar.

Ainda assim, esse produto é espetacular e encanta.

Segundo esse publicitário, essa prática da natureza nos absolve da angústia de não conseguirmos fazer nada perfeito.

Isso não significa que devamos nos contentar com o que está aí ou com os nossos limites.

A necessidade de nos esforçarmos começa lá na nossa gestação. A própria natureza nos exige esforços diários de melhoria, não incentivando compromissos com o erro. As imperfeições estarão sempre por perto porque são inevitáveis para o processo de burilamento humano.

Não se conhece jóia que não tenha passado por lapidação, trabalho no qual a aspereza é indispensável.

Realmente, a caminhada humana passa bem longe da perfeição.

 

Topo da Pagina topo da páginaInversão de Valores

“As pessoas estão esperando que o casamento dê certo para que sejam felizes, sem compreender que é preciso que sejam felizes para que o casamento dê certo.
(Richard Simonetti).

Uma vez, em um grupo do qual participava, o condutor da reunião pediu que cada um escrevesse sobre si.

Olhei pra dentro de mim e sinceramente vi muitos defeitos. Preferi escrever sobre eles, até porque, naquele ambiente, estávamos empenhados na busca de uma autêntica reforma íntima.

Nessa busca, éramos desaconselhados a fazer comparações com a média da realidade que nos cerca no mundo (infelizmente bem distante do razoável) ou nunca conseguiríamos melhorar o nosso padrão. É só olhar para as desigualdades sociais e para o que o homem está fazendo com a natureza.

Então, fiquei surpreso com a quantidade de elogios que a maioria das pessoas despejou sobre si.

Por coincidência, fui um dos últimos a ler a tal auto-avaliação. E ela não foi das melhores. De certa forma, as pessoas se divertiram com a forma bem humorada pela qual tratei as minhas mazelas.

Mas, não deixei de estranhar que, naquele grupo comprometido com um trabalho de aprimoramento, as pessoas tivessem sido tão generosas consigo mesmas.

Desnecessário dizer que muito pouco tempo depois fui “desconvidado” a participar dos próximos trabalhos do grupo.

De tudo, a certeza de que somos bastante generosos com nossos próprios direitos ou com aquilo que pensamos sê-lo. Mas, somos contidos quando somos chamados a dar a nossa cota de colaboração para a melhoria de algo, mesmo quando se trata do progresso moral ou da preservação de uma relação importante para a vida.

Afinal, o defeito estará sempre no outro.

 

Topo da Pagina topo da páginaViolência Banalizada

A pior violência é o acostumamendo com a violência.
(Arnaldo Jabor)

Impressiona a naturalidade com que certas sociedades convivem com atrocidades.

A chamada máquina humana foi tão bem projetada que parece ter sido dotada de algum mecanismo que a entorpece quando o sujeito é submetido a situações extremas, degradantes.

Cenas de dois filmes me vêm à cabeça:

Em um deles, bem antigo, de nome Corações e Mentes, se eu não estiver enganado, quando os americanos se retiravam da capital vietnamita, então Hanói, ao ver que não conseguiria embarcar em um dos últimos helicópteros utilizados para desocupação da Embaixada Americana, uma mãe oferecia naturalmente o seu filho a quem já estava a bordo, repetindo insistentemente: “Pegue o meu bebê, pegue o meu bebê”. Era a renúncia do convívio com o filho na esperança de que pelo menos a criança fosse poupada.

Já em 2005, no filme Hotel Ruanda, duas etnias (ambas negras) antes artifi cialmente concebidas pelos belgas que, para preservar a colonização, fomentaram o preconceito entre elas. Eram os tutsis e os hutus.

De hostilidade em hostilidade ficou pronto o cenário para uma das maiores carnificinas de que se tem notícia no mundo moderno, a partir do fanatismo alimentado por mercenários de um odioso comércio de armas.

Então, em plena matança, os governantes de boa parte do mundo viraram as costas para a tragédia, tratando, com indiferença e dentro da “normalidade” dos interesses comerciais, uma das maiores tragédias da história da humanidade que, emblematicamente, resultou na “cobertura”, por corpos humanos, do grande lago da capital do país.

Já passa da hora de começarmos a nos inquietar com a violência.

E o que vemos são os demagogos de plantão a vociferar apenas contra uma das suas formas, a violência urbana que, sem dúvida, deve ser combatida por todos os flancos, inclusive o policial. Mas, também inaceitável o convívio com escolas públicas que não ensinam, hospitais públicos que não tratam, justiça que não produz justiça, polícia e políticos que não dão exemplos de integridade, trabalhadores que não trabalham, empregadores que exploram e toda a gama de inconseqüentes, inclusive aqueles que poluem.

Todo esse caldo de cultura entorpece as pessoas, que passam a encarar o mal como normal, ao invés de rejeitá-lo teimosamente, até que esses agentes das trevas do atraso social desistam do pior e permitam que o mundo seja mais justo, especialmente em oportunidades iguais para todos.

A banalização da violência é fruto da alienação que escraviza a maioria pela demagogia (inclusive do Estado), sempre a serviço dos mesmos segmentos que produzem a guerra e a fome.

 

Topo da Pagina topo da páginaPaís Cotidiano (Ou Apatia e Desengano)

País que foi a beleza pela beleza
e a angústia aumenta
País que é a pobreza pela pobreza
E como esse povo agüenta?

Assusta, eu juro
De repente, eu paro
Tudo é caro. Preço
Tudo é raro. Apreço

Esse povo não é mais puro
Mas, nunca vai ficar maduro?
Já foi do futebol a terra
Hoje um besteirol encerra

Opção pela aparência
Não saber o que é consciência
Opção pela opulência
A Caminho da falência?

O que aconteceu?

Esse povo bem que merece
Coletivo ambíguo
Indefi nido indivíduo
Quem perdeu?
Não interessa
Cada um quer salvar o seu
E com pressa
Apatia geral
Agonia em espiral

Se está doente o organismo
Por que não remediá-lo
Vamos ao cinismo?
Esperar o cataclismo
Cura, Remédio? É melhor adiá-los
Oh! Tédio
Avante, senhores vassalos

 

Topo da Pagina topo da páginaTrinta Anos Esperando

Estava vendo os shows que o Paul McCartney fez na Rússia, em 2003. Além da boa música que ele faz desde os Beatles, estava muito interessado na reação da sociedade russa, diante de um artista que, quando beatle, representava um risco para a então União Soviética, por ser considerado um ícone capitalista que prejudicaria o comunismo.

Sabe-se que o regime soviético de então era fechado para o mundo ocidental, o que obrigava a compra de discos dos Beatles no mercado negro, como uma efetiva prática criminosa.

O cidadão soviético de então chegava a gastar metade de um salário mensal para comprar, no mercado paralelo, um único LP dos então chamados rapazes de Liverpool.

Para reproduzir os tais discos, outros chegavam a fazer cópias a partir da reciclagem de restos de radiografi as, obtidos em lixos hospitalares.

Então, a apresentação de Paul em duas cidades da Rússia tinha um apelo muito especial para mim, o que acabou se confi rmando na emoção expressa nos olhos dos russos encantados durante o show que, pasmem, teve a presença do presidente Putin. Ele, inclusive, recebeu o ex-beatle em audiência.

No meio da multidão que lotava a bela Praça Vermelha, havia um Cartaz no qual estava escrito: Trinta Anos Esperando Você.

Estava tudo expresso ali. Era como um grito de liberdade em reação a todos os efeitos negativos de um regime duro (o que não é privilégio do velho comunismo) que massacra as pessoas em favor de valores absolutamente estranhos a tudo o que pode ser considerado razoável, a não ser na cabeça das pessoas que concebem esses absurdos.

Como se uma estrutura, seja ela qual for, tenha o direito de escravizar humanos para a preservação de ideologias, religiões, etc.

As lágrimas nos olhos dos russos que estiveram na Praça Vermelha e em São Petesburgo nos alertam para o perigo de certas soluções enganosas, na medida que se apresentam como panacéias, ou sejam, remédios para todos os males.

 

Topo da Pagina topo da páginaSobrevivência

Perdi a vida por delicadeza.
Rimbaud

Especialmente na primeira fase da vida, nos ensinam deveres de cortesia e de respeito.

Depois, a adolescência nos empurra a reagir contra tudo que impeça ou dificulte as rupturas que somos obrigados a fazer, até mesmo para nos posicionar diante de mundo (duro, até cruel) que existe fora da casa dos nossos pais. Esses enfrentamentos costumam doer.

Mais adiante, por convenções sociais e por interesses outros de sobrevivência, levamos adiante certas ações e, especialmente, omissões, que nunca deixam de nos acusar quando avaliamos minimamente a nossa qualidade de vida, normalmente em épocas de balanço, como no fim-de-ano ou quando sofremos uma grande perda, especialmente de um ente querido.

Então nos perguntamos: Por que tenho que ser gentil com todos, algumas vezes sonegando a verdade que deveria dizer, até porque alguns merecem ouvir?

Ou, então, só porque me autorizei a falar tudo o que penso do mundo, por que machucar as pessoas dizendo-lhes coisas que elas não querem ouvir, até porque não querem fazer progressos a partir de vivências alheias?

Afi nal, não é novo o ditado de que cada um cresce exclusivamente das suas próprias experiências. Já vivo a época de refl etir sobre a minha vida, de lamentar não ter vivido emoções simples porque estava ocupado dos grandes eventos, que quase sempre se esgotam em si, não deixando qualquer marca importante.

Verdadeiramente, não dá para se viver com estrita observância das regras de delicadeza com o meu semelhante, se eu estiver me destruindo por isso.

Mas, também não gosto de mim quando me autorizo a dizer para os outros exatamente tudo aquilo o que penso deles, até porque não gostaria de saber tudo aquilo que pensam de mim todas as pessoas que conheço.

Como sempre os poetas nos socorrem: O ato de viajar vale muito mais do que a própria viagem.

 

Topo da Pagina topo da páginaLinha Tênue

A vida é uma linha tênue. Algo provisório entre o passado e o presente. Ali pendurada, balançando de um lado para o outro, muitas vezes aguardando a nossa atitude, mas sempre ao sabor das brisas ou das tempestades.

É certo que a vontade da gente pode simplificar ou complicar as coisas aqui ou ali. Mas há algo imponderável pronto a nos afrontar, sempre nos lembrando a nossa impotência de mudar tudo.

No dia 07 de março de 2006, eu vivi intensamente essa sensação de incapacidade diante de um poder que mais alto que se alevantou, parodiando Fernando Pessoa.

Era algo como 17h50min. Eu ao telefone com o meu amigo Brandão. Falamos alegremente de pessoas, de valores comuns e da sua saúde, que andou frágil por falta de cuidados, mas que apresentou grandes melhoras por conta de cuidados antes incomuns, a ponto de o amigo conquistar nota 10 no último check-up, cujos resultados soube horas antes.

Também comentamos de um outro amigo, de convívio cotidiano dele, que sobrevivera a um chamado seqüestro-relâmpago, apenas perdendo bens materiais. Ironicamente nos alegramos com o saldo de uma violência dessas porque as perdas foram apenas materiais.

A conversa durou algo como quinze minutos.

Retomei ao trabalho que, como é sabido, rende muito mais, entre 18:00 e 20:00, quando as naturais interrupções já não acontecem.

Só que uns vinte minutos mais tarde, aconteceu a pior das interrupções. Um outro amigo comum perguntava se eu sabia o que acontecera com o Brandão. Estranhei, mas comentei sobre a pessoa que havia sofrido o seqüestro relâmpago.

Ofegante, Marcos me interrompeu para dizer que Brandão acabara de ser baleado, ao sair do seu trabalho, diante da esposa.

Mais dez minutos, outro telefonema. Brandão acabara de morrer.

Fiquei atônito. A voz do amigo ainda soava alegre no meu ouvido, no que imagino ter sido o último telefonema que ele fez antes dos tiros.

No velório, pessoas queridas. Até o médico que dera as boas notícias do check up.

Como não pensar na Rachel de Queiroz ? Para ela, a morte é velha amiga que vem de viagem e de qualquer ponto manda um postal para indicar que já embarcou.

 

Topo da Pagina topo da páginaMachu Picchu

Uma semana em Machu Picchu (velha montanha na língua do povo inca), no Peru, é suficiente para um verdadeiro banho de cultura nos que vivem em um tempo em que os valores do ter pesam muito mais que os valores do ser.

Em uma cadeia de montanhas a 2.350 metros de altura, acredita-se que a cidade tenha sido construída por Inka Pachacuti (ou Pachakuteq), que governou o Império entre 1438 e 1471.

Redescoberta pelo historiador americano Hiram Bingham, em 1911, a cidade permaneceu perdida por quase quinhentos anos e foi habitada por um povo que adorava a natureza, especialmente o sol.

Impressiona que, há tanto tempo, a cultura inca, a exemplo de outras culturas antigas, dominasse técnicas de construção com blocos polidos; de agricultura; de astronomia; de cuidados com a natureza. Até mesmo de rudimentos meteorológicos e das estações do ano.

Esse povo tinha apenas armas rústicas e nutria pavor de cavalos, o que representou uma grande vantagem ao conquistador espanhol.

Em um terreno bem acidentado, os incas plantavam em canteiros , estrategicamente organizados, de maneira que a produção agrícola não fosse diretamente atingida pelo forte vento, comum na região.

As construções daqueles “selvagens” até hoje resistem ao tempo e aos terremotos, não raros por lá. O sistema de irrigação da cidade ainda funciona normalmente.

O passeio é culturalmente encantador. Mas também faz pensar: como um povo com essas características foi dizimado pelo conquistador, que pilhou o seu ouro; cobriu de terra os seus monumentos pagãos, impôs-lhe uma religião cheia de culpas, dando-lhe em troca doenças diversas e tristeza moral?

O conquistador europeu levou-lhe muito mais que tesouros. Acabou com a sua auto-estima e com a sua dignidade, deixando aos descendentes do povo inca pouco além do idioma quíchua falado no país, além do espanhol.

A região é hoje habitada por um povo pobre e de poucas perspectivas a médio prazo, agora pela insensatez dos seus governantes e dos países dito de primeiro mundo.

O Peru é uma importante oportunidade de refl exão para aqueles que sistematicamente acham melhor tudo o que vem de fora.

 

Topo da Pagina topo da páginaPonte Informática

Visitar uma livraria continua a ser um dos programas mais interessantes e prazerosos.

Lá se acredita que o conhecimento seja o principal meio de resgate da dignidade das pessoas.

A FNAC, da Av. Pedroso de Morais, São Paulo, é muito bem instalada, em um prédio moderno, em frente a uma praça bonita, em que se expõem obras de arte nos fins-de-semana.

No térreo, há uma sessão de eletrônicos. Fui atraído por uma dessas maravilhas que a tecnologia nos apresenta hoje como novidade e, muito pouco tempo depois, nos comunica que temos mais uma peça de museu.

A atração era um chamado palm top minúsculo, com muitas funções. Ensaiei umas cutucadas na novidade, logo desistindo, rendido por incontornável inabilidade.

Sem notar, era observado por um garoto maltrapilho, com aquele aspecto carente de tudo, especialmente de carinho e de afeto, não raro para boa parte das nossas crianças, moradoras de rua ou não.

Apesar de tudo, o garoto sorria, feliz por não ter sido notado pela segurança da loja. Com desenvoltura ele mexia seguidamente naquelas maravilhas, o que não o impedia de notar a minha inabilidade.

Então disse alegre: Tio, faça assim, assim, ...

Olha, eu sei tirar uma foto sua.

E tirou.

Eu fiquei surpreso com a sua habilidade com os mais diversos aparelhos expostos na loja. Começamos a conversar e eu retribui a gentileza tirando uma foto sua no meu celular.

Nos despedimos alegremente e eu levei comigo a certeza de que com um mínimo de oportunidade, as nossas crianças, especialmente as carentes, descobrirão o maravilhoso mundo da tecnologia, que poderá resgatar dignidades.

Sai convicto de que não é necessário muito recurso para que acabemos com o fosso social que macula a história recente do Brasil. A informática poderá ser uma ponte para que importante número de nossos jovens deixem a indigência, que está a um passo da criminalidade.

E cada um pode fazer um pouco.

 

Topo da Pagina topo da páginaSocorro ao Macho

Ainda hoje, em pleno Século XXI, aqui e em boa parte do mundo, ainda se atribui ao homem uma “superioridade” que, pelo menos na infância, ele nunca pediu.

É fato que o ser humano do sexo masculino tem pulmões maiores que o das mulheres, pelo fato de a estrutura reprodutora feminina precisar de espaço adicional que, nelas, é tomado desses órgãos.

E a vantagem do macho fica limitada à maior força física. Ainda assim, garante privilégios sociais, mesmo perdendo sensibilidade com o empobrecimento de suas vidas.

Em ambientes culturalmente menos injustos, essas aspas têm razão de ser porque a tal vantagem simplesmente se esvai diante da maior sensibilidade preservada na mulher, que já é aquinhoada pela a capacidade da geração da vida.

Então, o homem volta-se aos aspectos mais práticos, atrofiando a capacidade de olhar tudo em volta de uma forma mais terna, amena, mais humana até.

A imprensa tem mostrado que, na Suécia, desde o pré-primário, cuida-se para que os professores não pratiquem ou não incentivem os chamados preconceitos do gênero, termo politicamente correto para identificar aquelas situações em que seres humanos são tratados de forma diferente, em situações iguais, apenas por serem meninos, ou meninas.

A partir da tomada de consciência do governo daquele país, os educadores começaram a observar (e a se surpreender) com as suas próprias atitudes, quando, já no primeiro dia de aula, diante dos obstáculos próprios dessa fase, tratam de forma diferente os pequenos e as pequenas, na natural resistência das crianças à entrada na escola, quando se agarram nos pais e choram.

Se for garoto, a professora pega na sua mão e diz: Vamos, vai ser legal, você vai brincar bastante e fazer novos amigos. A atitude será diferente com uma menina, quando a mesma professora a põe no colo, a afaga e lhe diz baixinho, que está tudo bem, que não precisa ter medo.

Já começa tudo errado, diz a educadora.

Os chamados preconceitos do gênero acabam se espalhando por toda a rotina escolar e, naturalmente, pela vida afora, quando se patrulha o macho para que não tema nada, seja forte, destemido. Afinal, “homem não chora”.

E, de forma quase imperceptível, comportamentos diários vão reforçando o problema, aprofundando o fosso social entre a mulher e o homem e negando ao macho o supremo direito à fragilidade, à ternura, ao medo, à sensibilidade, enfim, à possibilidade de ser um ser humano mais feliz, que convive com as suas fragilidades pelos enfrentamentos da vida, o que é bem diferente de um desses xaxins emocionalmente desidratados, que perambulam pelas suas existências, encurtando as suas vidas artificiais.

Alguém poderá dizer que este texto é uma apologia à figura do macho-vítima.

De imediato, respondo: Alguém conhece um machão que não tenha sido gerado em uma mulher?

A licença da emoção ainda vai colaborar para se desvendar o mecanismo que garante maior tempo (e qualidade) de vida à mulher. É só olhar em volta e notar que a quantidade de viúvas é sempre maior que a de viúvos, seja qual for a classe social a que pertençam.

A expressão de sentimentos jamais ameaçará a masculinidade de ninguém, mas contribuirá para melhorar a qualidade de vida dos seres. Fêmeas ou machos.

 

Topo da Pagina topo da páginaAlvorada Instituição de Promoção Humana

A Alvorada trabalhará no incentivo ao desenvolvimento humano, com atividades didáticas voltadasà formação profissional, à prevenção de doenças, à melhoria no nível de aprendizado e do padrão de alimentação.

No encerramento de cada atividade, os participantes receberão um incentivo pela presença, por exemplo, alimentos, ferramentas, material escolar, sempre dentro do princípio da valorização do homem, que será incentivado à conquista dos seus ideais e não a ser passivamente provido por caridade.

O projeto está estruturado para ser sustentado por pessoas sensíveis ao problema social vivido no Brasil, mediante contribuições contínuas que sustentem o trabalho e não permitam interrupções por falta de recursos, ou que o submetam exclusivamente à ajuda eventual, em épocas especiais.

Sem orientação ideológica, política ou religiosa, até para merecer o apoio de qualquer corrente de pensamento, o trabalho engajará qualquer pessoa comprometida com o bem do próximo.

Os registros da entidade (especialmente o seu patrimônio, movimento fi nanceiro, etc.) serão sempre públicos. Alguns dados já estão disponibilizados em site na Internet. (www.alvorada.org.br)

A fase de organização legal foi iniciada após o que será formalizada a recepção de um terreno situado no Bairro de Guaianases, São Paulo, próximo à Estação do Expresso Leste (Rua Padre Luiz Gonzaga no 15) imóvel este já oficialmente destinado à obra pelo seu proprietário.

 

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