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Eça de Queiroz

"A Cidade e as Serras"*, versão pdf gratuita 1 e "A Cidade e as Serras"*, versão pdf gratuita 2.

Diplomata e escritor muito apreciado em todo o mundo e considerado um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, Eça de Queirós nasceu José Maria Eça de Queirós, em Póvoa de Varzim-Portugal, no dia 25 de Novembro de 1845. Seu nome muitas vezes tem sido, de forma equivocada, grafado como "Eça de Queiroz". Eça de Queirós morreu em Paris-França, no dia 16 de Agosto de 1900 (Funeral em Lisboa - 17 de Agosto). Era filho do Dr. José Maria Teixeira de Queirós, juiz do Supremo Tribunal de Justiça, e de sua mulher, D. Carolina de Eça. Depois de ter estudado nalguns colégios do Porto matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, completando a sua formatura em 1866. Foi depois para Leiria redigir um jornal político, mas não tardou que viesse para Lisboa, onde residia seu pai, e em 1867 estabeleceu-se como advogado, profissão que exerceu algum tempo, mas que abandonou pouco depois, por não lhe parecer que pudesse alcançar um futuro lisonjeiro. Era amigo íntimo de Antero de Quental, com quem viveu fraternalmente, e com ele e outros formou uma ligação seleta e verdadeira agremiação literária para controvérsias humorísticas e instrutivas. Nessas assembléias entraram Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Salomão Saraga e Lobo de Moura.

Eça de Queirós, irônico e pontual, retrata, pelo caminho da literatura, aquilo que Epicuro, Rousseau e tantos outros grandes pensadores elaboraram em suas filosofias.

Romance narrado em primeira pessoa pelo narrador-personagem José Fernandes, na voz de Paulo Vinicios. O autor faz uma crítica a ultra civilização e a nova Portugal, um local que pode se modernizar sem perder suas tradições e particularidades nacionais.Escute em A Cidade e as Serras em a grande novela de Eça de Queirós. Ouça a história de Jacinto de Tormes, ele mora em Paris um homem extremamente civilizado, gosta de festas e do progresso tecnológico, insatisfeito com a artificialidade da cidade, resolve se mudar para o campo.Seu amigo Zé Fernandes narra sua saga, detalhando a metamorfose de Jacinto que ao se mudar sente o prazer em acordar e ter como vista uma serra de Tormes. Quer saber o que irá acontecer com Jacinto? Será que um homem da cidade irá se adaptar a natureza a tranqüilidade do campo?Ouça agora e descubra como irá terminar essa história!

A Cidade e as Serras, um expoente do realismo português, discute o paradoxo da modernidade: o homem tem tudo ao alcance das mãos, mas há algo que lhe escapa, que não sabe mensurar.

Jacinto de Tormes é o burguês típico: acompanha os avanços tecnológicos de sua época, dá festas chiques, come em restaurantes caros, lê e discute filosofia; desfruta, enfim, de todos os bens inventados pelo civilização. Ele dizia que “o homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. Não obstante, Jacinto, de absolutamente orgulhoso e esbanjador, vai arqueando; torna-se pessimista.

No auge de sua depressão, cita Schopenhauer: “viver é sofrer”. Nada basta e tudo enfastia. Depara-se com as insuficiências do ser, com o absurdo da vida e, diante de toda a ventania das informações, das descobertas e das edificantes elucubrações, sente tédio.

Zé Fernandes, o narrador da história, seu amigo, surpreende-se, certo dia, com a intenção de Jacinto de ir às serras de Portugal a fim de reconstruir a capela de seus ancestrais. É lá, em contato direto com a natureza, distante de qualquer adorno da cidade, que Jacinto vigora-se e descobre a beleza da simplicidade, o contato com a terra e a boa comida. Satisfaz-se, tornando-se radiante.

Eça de Queirós, irônico e pontual, retrata, pelo caminho da literatura, aquilo que Epicuro, Rousseau e tantos outros grandes pensadores elaboraram em suas filosofias.

 

 

Resumo 1 A Cidade e as Serras

A Cidade e as Serras

A Cidade e as Serras é um romance de Eça de Queirós, autor do Realismo português, e pertence à terceira e última fase de sua obra.
Publicada em 1901 - no ano seguinte à morte do seu autor - o romance que tem 16 capítulos é uma crítica à vida urbana, à tecnologia e à revolução industrial.
Nessa obra, cidade versus campo é a principal temática em cena, que tem como ambiente temporal o século XIX.
Personagens de A Cidade e as Serras

Jacinto: protagonista, chamado pelo narrador de "o Príncipe da Grã-Ventura".

José Fernandes (Zé Fernandes): narrador e amigo de Jacinto

Dom Jacinto Galião: avô de Jacinto

Cintinho (apelido de Jacinto): pai de Jacinto

Grilo: criado de Jacinto em Paris

Joaninha: prima de José Fernandes que se casa com Jacinto

Tia Vicência: tia de José Fernandes

 

Resumo da obra A Cidade e as Serras
O romance é narrado por José Fernandes, amigo do nosso protagonista Jacinto.
A narração tem início com a apresentação de Jacinto e sua família. De origem portuguesa, Jacinto vive em Paris.
Seu avô (Jacinto Galião) havia deixado Portugal para viver na França quando D. Miguel (irmão de D. Pedro I) mudou-se para a França.
O avô de Jacinto tinha grande gratidão por D. Miguel pelo fato de ele o ter ajudado.
Cintinho, o pai de Jacinto (que também se chamava Jacinto), tinha sido uma criança doente e triste. Morreu jovem, antes de Jacinto nascer.
Jacinto foi uma criança feliz e tudo lhe corria bem. Por esse motivo, seu amigo José Fernandes o tinha apelidado de “O Príncipe da Grã-Ventura”.
José Fernandes tinha sido expulso da Universidade em Portugal e foi para a França. Tempos depois ele recebe uma carta de um tio pedindo que ele regresse a Portugal para cuidar das terras da família, pois o tio não tinha mais condições de o fazer.
José Fernandes vai e, sete anos depois, volta para Paris, onde encontra seu amigo rodeado de inovações tecnológicas: telégrafo, elevador, aquecedor, entre outros.
Ao longo do romance, são narrados episódios em que acontecem falhas nos equipamentos modernos de Jacinto na mansão onde vive, no n.º 202 dos Campos Elísios: falta de luz, problemas no elevador e no encanamento.
"-Meus amigos, há uma desgraça...
Dornan pulou na cadeira:
-Fogo? -Não, não era fogo. Fora o elevador dos pratos que inesperadamente, ao subir o peixe de S. Alteza, se desarranjara, e não se movia encalhado!
O Grão duque arremessou o guardanapo. Toda a sua polidez estalava como um esmalte mal posto: -Essa é forte!... Pois um peixe que me deu tanto trabalho! Para que estamos nós aqui então a cear? Que estupidez! E pôr que o não trouxeram à mão, simplesmente? Encalhado... Quero ver! Onde é a copa?"
Deste modo, Jacinto, que tinha crescido tão feliz, saudável, inteligente e rodeado de inovações, começa a se desiludir com a sua vida.
Então, o amigo aconselha que ele vá viver para o campo para descansar dos ares citadinos. Jacinto recusa de forma imediata.
Nesse ínterim, José Fernandes vai viajar por inúmeros lugares na Europa e sente a importância que dá às suas origens.
Por essa altura, Jacinto não tinha mais paciência com aquilo que outrora teria sido o seu prazer: festas, luxos, equipamentos modernos.
"... o 202 estourava de confortos; nenhuma amargura de coração o atormentava; - e todavia era um Triste. Pôr que?... E daqui saltava, com certeza fulgurante, à conclusão de que a sua tristeza, esse cinzento burel em que a sua alma andava amortalhada, não provinha da sua individualidade de Jacinto – mas da Vida, do lamentável, do desastroso fato de Viver! E assim o saudável, intelectual, riquíssimo, bem acolhido Jacinto tombara no Pessimismo."
Um dia, Jacinto recebe a notícia de que a igrejinha onde os restos mortais dos seus antepassados estavam tinha sido soterrada.
Dá ordens para que seja gasto o dinheiro necessário para a sua reconstrução. Quando é avisado de que a obra foi concluída resolve ir para Portugal.
Sua ida para Portugal foi preparada com três meses de antecedência. Jacinto enviou todo o mobiliário de Paris para Portugal porque queria encontrar lá o mesmo ambiente da mansão em que vivia na França.
Quando chega a Tormes (Portugal), a mudança ainda não havia chegado e ele tem de passar dias dormindo em um colchão de palha e comendo modestamente.
Desconfortável, Jacinto decide que deve passar uns tempos em Lisboa, mas ele gosta da paisagem e isso faz com que ele permaneça no campo.
Ao regressar da cidade onde tinha ido visitar sua tia, Zé Fernandes encontra o amigo bem disposto e alojado em Tormes.
O amigo não se preocupava mais com a mudança que nunca tinha chegado, pois tinha sido enviada para Tormes, na Espanha.
Um dia, Jacinto encontra uma criança pobre e a acompanha até a sua casa. A família da criança é empregada de Jacinto e ele se impressiona com a situação de miséria em que eles vivem.
Jacinto resolve ajudar e promete melhorar as condições dos seus empregados com aumento de salários e construção de infraestruturas. As pessoas se encantam e passam a expressar uma certa devoção a Jacinto.
Finalmente, Jacinto conhece uma moça chamada Joaninha, com quem se casa tempos depois.
Nessa altura, a mobília e equipamentos enviados de Paris chegam a Portugal. Com exceção de algumas coisas (o telefone, por exemplo), a maior parte é guardada no sótão.
"...uma tarde, entrou pela avenida de plátanos uma chiante e longa fila de carros, requisitados pôr toda a freguesia, e acuculados de caixotes. Eram os famosos caixotes, pôr tanto tempo encalhados em Alba de Tormes, e que chegavam, para despejar a Cidade sobre a Serra. Eu pensei: - Mau! o meu pobre Jacinto teve uma recaída! Mas os confortos mais complicados, que continha aquela caixotaria temerosa, foram, com surpresa minha, desviados para os sótãos imensos, para o pó da inutilidade; e o velho solar apenas se regalou com alguns tapetes sobre os seus soalhos, cortinas pelas janelas desabrigadas, e fundas poltronas, fundos sofás, para que os repousos, pôr que ele suspirara, fossem mais lentos e suaves. Atribuí esta moderação a minha prima Joaninha, que amava Tormes na sua nudez rude. Ela jurou que assim o ordenara o seu Jacinto. Mas, decorridas semanas, tremi. Aparecera, vindo de Lisboa, um contramestre, com operários, e mais caixotes, para instalar um telefone!"
Análise da Obra A Cidade e as Serras
O romance trata de uma análise à vida rural e à vida urbana. José Fernandes apoia a primeira, enquanto Jacinto, a segunda.
Jacinto não consegue se imaginar sem as modernices dos equipamentos e deseja tudo o que há de mais moderno.
Ele, que vive em Paris - considerada o centro do mundo naquela época - acredita que a felicidade do homem está na modernidade. Ao mesmo tempo, porém, ele considera-se um dependente dessa situação, o que o incomoda.
Seu regresso às origens, em Portugal - que nesse momento não progredia - faz com que Jacinto passe a valorizar a natureza e abrir mão das tecnologias.
Critica a ânsia pela modernidade, embora reconheça a sua importância. Fato que se revela quando mantém o aparelho de telefone em sua casa, na casa de seus sogros, de José Fernandes e do médico.
Exercícios
1. (Fuvest/2014) Ora nesse tempo Jacinto concebera uma ideia... Este Príncipe concebera a ideia de que o “homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado”. E por homem civilizado o meu camarada entendia aquele que, robustecendo a sua força pensante com todas as noções adquiridas desde Aristóteles, e multiplicando a potência corporal dos seus órgãos com todos os mecanismos inventados desde Teramenes, criador da roda, se torna um magnífico Adão, quase onipotente, quase onisciente, e apto portanto a recolher[...] todos os gozos e todos os proveitos que resultam de Saber e Poder...[...]
Este conceito de Jacinto impressionara os nossos camaradas de cenáculo, que[...] estavam largamente preparados a acreditar que a felicidade dos indivíduos, como a das nações, se realiza pelo ilimitado desenvolvimento da Mecânica e da erudição. Um desses moços[...] reduzira a teoria de Jacinto[...] a uma forma algébrica: Suma ciência x Suma potência = Suma felicidade
E durante dias, do Odeon à Sorbona, foi louvada pela mocidade positiva a Equação Metafísica de Jacinto.
Eça de Queirós, A cidade e as serras.
O texto refere-se ao período em que, morando em Paris, Jacinto entusiasmava-se com o progresso técnico e a acumulação de conhecimentos. Considerada do ponto de vista dos valores que se consolidam na parte final do romance, a “forma algébrica” mencionada no texto passaria a ter, como termo conclusivo, não mais “Suma felicidade”, mas, sim, Suma
a) simplicidade.
b) abnegação.
c) virtude.
d) despreocupação.
e) servidão.
Resposta
Alternativa e: servidão.
Jacinto adquiria tudo o que existia de mais moderno no seu tempo porque a sua teoria era que a felicidade vinha da potência e da ciência. Mas apesar de não lhe faltar nada, Jacinto não era feliz e obrigava-se a usar tudo o quanto adquiria:
"-Ó Jacinto, para que servem todos estes instrumentozinhos? Houve já aí um desavergonhado que me picou. Parecem perversos... São úteis?
Jacinto esboçou, com languidez, um gesto que os sublimava. -Providenciais, meu filho, absolutamente providenciais, pela simplificação que dão ao trabalho! Assim... e apontou. Este arrancava as penas velhas, o outro numerava rapidamente as ´páginas dum manuscrito; aqueloutro, além, raspava emendas... E ainda os havia para colar estampilhas, imprimir datas, derreter lacres, cintar documentos...
-Mas com efeito, acrescentou, é uma seca... Com as molas, com os bicos, às vezes magoam, ferem... Já me sucedeu inutilizar cartas pôr as Ter sujado com dedadas de sangue. É uma maçada!"
2. (Albert Einstein/2017) Jacinto, personagem do romance A cidade e as serras, de Eça de Queirós, apaixonado pela cidade de Paris e pelo conforto da vida urbana, resolve, em um determinado momento, viajar para Portugal, à cidade de Tormes. Tal decisão se dá porque
a) sente uma efusão patriótica por Tormes, sua terra natal, de onde lhe provêm as rendas para seu sustento.
b) está plenamente convencido de que apenas no contato com a natureza e com o clima das serras poderá encontrar a felicidade.
c) vê-se compelido a acompanhar a reforma de sua casa em terras portuguesas, bem como assistir à trasladação dos restos mortais dos avós, particularmente os do avô Galeão.
d) está farto da vida elegante e tecnológica de Paris e, por isso, prazerosamente, busca uma experiência nova que, infelizmente lhe resulta frustrante.
Resposta
Alternativa c: vê-se compelido a acompanhar a reforma de sua casa em terras portuguesas, bem como assistir à trasladação dos restos mortais dos avós, particularmente os do avô Galeão.
O avô Galião era muito rico e, portanto, o responsável por todo o luxo de que Jacinto desfrutava na sua mansão em Paris:
"-Pois não te parece, Zé Fernandes? Não é pôr causa dos outros avós, que são vagos, e que eu não conheci. É pôr causa do avô Galião... Também não o conheci. Mas este 202 está cheio dele; tu estás deitado na cama dele; eu ainda uso o relógio dele. Não posso abandonar ao Silvério e aos caseiros o cuidado de o instalarem no seu jazigo novo. Há aqui um escrúpulo de decência, de elegância moral... Enfim, decidi. Apertei os punhos na cabeça, e gritei – vou a Tormes! E vou!... E tu vens!"
3. (PUC-SP/2016) O romance A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, é o desenvolvimento de um conto chamado “Civilização”. Faz a oposição entre a cidade cosmopolita e a vida do campo, além de, também
a) ambientar a ação dos personagens apenas nas cidades de Tormes, aldeia portuguesa, e na civilizada Lisboa do final do século XIX.
b) narrar a história de Jacinto, um jovem muito rico, que alcança a felicidade porque tem por objetivo apenas ser o mais possível contemporâneo ao próprio tempo.
c) apresentar desde o início um narrador que tem um ponto de vista firme, qual seja, o de depreciar a civilização da cidade e de exaltar a vida natural.
d) caracterizar a vida do protagonista somente na cidade de Paris, rodeado de muita tecnologia e conhecimento e com uma vida social muito ativa e feliz.
Resposta:
Alternativa c: apresentar desde o início um narrador que tem um ponto de vista firme, qual seja, o de depreciar a civilização da cidade e de exaltar a vida natural.
Ao longo da narrativa, Zé Fernandes questiona a forma de vida que o seu amigo considera ser a chave da felicidade:
"-Jacinto anda tão murcho, tão corcunda... Que será, Grilo?
O venerando preto declarou com uma certeza imensa:
-S. Exª. sofre de fartura. Era fartura! O meu Príncipe sentia abafadamente a fartura de Paris: - e na Cidade, na simbólica Cidade, fora de cuja vida culta e forte (como ele outrora gritava, iluminado) o homem do século XIX nunca poderia saborear plenamente a “delícia de viver”, ele não encontrava agora forma de vida, espiritual ou social, que o interessasse, lhe valesse o esforço duma corrida curta numa tipóia fácil."

 

Resumo 2 A Cidade e as Serras

A Cidade e as Serras

Resumo
O narrador Zé Fernandes pretende demonstrar ao leitor a tese segundo a qual a vida no campo é superior à vida urbana. Para comprová-la, relata a trajetória de seu amigo, Jacinto. Herdeiro de grande fortuna obtida através da exploração de propriedades agrícolas de Portugal, Jacinto nasceu em Paris e adorava a cidade. Segundo ele, a capital francesa era o exemplo perfeito de civilização, o único espaço em que o ser humano poderia ser plenamente feliz. Chegou a criar uma fórmula, que mostrava que a “Suma Ciência” (tecnologia e erudição) multiplicada a “Suma Potência” (capacidade humana), conduzia à “Suma Felicidade”.
Jacinto e Zé Fernandes se conheceram na Universidade em Paris, mas este último teve que retornar a Portugal por motivos familiares e eles se separaram. Durante sete anos, Zé se dedicou à administração da propriedade rural de sua família em Guiães, nas serras portuguesas. Resolvido a tirar um tempo para descansar, foi a Paris rever o amigo. Encontrou-o entristecido e corcunda, muito distante da vivacidade da juventude. Seu estado de espírito causava espanto, porque Jacinto tinha transformado seu palacete, no número 202 da Avenida dos Campos Elísios, em uma verdadeira demonstração de sua fórmula juvenil, dotando-o dos maiores avanços tecnológicos da época e de uma vasta biblioteca. 

A despeito dessa maquinaria do conforto, Jacinto era infeliz. As amizades eram falsas e superficiais, a tecnologia de que se cercava não funcionava a contento e, por fim, os livros que lia lhe causavam aborrecimento.
Ao receber a notícia de um desabamento em sua propriedade em Tormes, localidade próxima a Guiães, Jacinto decidiu ir até lá. Depois de ordenar reformas no lugar, partiu com o amigo. 
O atraso e a rusticidade de Tormes surpreenderam Jacinto no primeiro contato. Aos poucos, porém, a natureza o encantou e ele resolver ficar. Reencontrando a antiga disposição, dedicou-se a algumas reformas na propriedade, melhorando as condições de vida dos empregados e estabelecendo com eles novas relações de trabalho. 
Apaixonado por Joaninha, prima de Zé Fernandes, instala-se definitivamente nas serras. Da modernidade parisiense, admite apenas a instalação do telefone, que lhe parece útil ali. Assim, Jacinto encontra a “Suma Felicidade” bem distante da civilização. E Zé Fernandes dá sua tese por comprovada.

Contexto
Sobre o autor
Eça de Queirós dividia sua obra em três fases. Em seus primeiros livros, ainda apresentava grande influência romântica. Em um segundo momento, abraçou a causa realista-naturalista e escreveu narrativas exemplares da estética. Na terceira fase, sem abandonar o realismo, permitiu-se voos de imaginação que o conduziram às fronteiras do estilo. Essa fase final é bem representada em A Cidade e as Serras, uma de suas últimas obras.
Importância do livro
A obra foi publicada um ano depois da morte do autor, em 1901, e seguiu a ideia principal do conto “Civilização”, também escrito por Eça de Queirós e publicado em 1892. A Cidade e as Serras marca a reconciliação do escritor com a sociedade portuguesa, depois de obras polêmicas como O Crime do Padre Amaro e Primo Basílio. Na narrativa é possível identificar a comparação entre campo e cidade, comum nas histórias do autor, assim como a relação entre a elite e a classe trabalhadora.
É uma importante obra que marca a terceira fase de Queirós, mais pós-realista. O romance apresenta, na verdade, um notável sincretismo estético. Convivendo com o realismo-naturalismo, temos, por exemplo, o expressionismo, na descrição chocante da vida urbana, e o impressionismo, na suavidade e no colorido da paisagem campestre.
Período
A narrativa remonta ao início do século XIX, quando viveram os antepassados do protagonista. Mas o núcleo da ação se desenvolve no final do século, sendo, portanto, contemporânea à publicação da obra. O século foi marcado, em Portugal, pela vitória dos liberais, partidários de uma monarquia moderada, sobre os absolutistas, que desejavam manter no trono o rei D. Miguel.

Análise
“Suma Ciência X Suma Potência = Suma Felicidade”, esta é a fórmula criada por Jacinto na juventude e que servirá de eixo narrativo. Zé Fernandes desenvolve seu relato no sentido de mostrar que a fórmula é um equívoco. 
O romance A Cidade e as Serras é especular, isto é, funciona como um espelho: de um lado, a vida na cidade, de outro, a vida na serra. A cidade em questão é Paris, que funciona como metonímia da civilização. A residência de Jacinto, o “202”, reúne tecnologia e erudição, que são os dois pilares da “Suma Ciência”. O trabalho do narrador é demonstrar que ambos são falhos: a tecnologia funciona precariamente e a erudição é tratada como modismo e como instrumento de inatividade, de recusa à ação. 
A “Suma Potência” com que sonhava Jacinto se reduzia à melancolia e à angústia existencial preconizada por filósofos pessimistas. Convidado por Zé Fernandes a avaliar a situação do patrão, o empregado Grilo acerta no alvo: “Sua Excelência sofre de fartura”. De fato, entediado, Jacinto não encontra na ciência e na civilização a felicidade que esperava.
Tormes, de sua parte, funciona como metonímia de Portugal, com seu atraso e seu apego pelas tradições, como a espera pelo salvador da pátria, um novo D. Sebastião que reconduzisse o país à glória. Ali, Jacinto entra em contato com suas raízes familiares e delas retira a seiva necessária ao seu rejuvenescimento. Admirando a beleza e a variedade da natureza serrana, percebe o quanto tinha estado iludido pela mesmice e repetição da vida parisiense.
Aos poucos, o entusiasmo de Jacinto encontra seu ponto de equilíbrio. De fato, a vida nas serras não é feita só de flores primaveris. Há a pobreza de seus moradores, as péssimas condições em que vivem e a exploração cruel de que são vítimas. Ao oferecer novas condições de trabalho aos seus empregados, Jacinto não faz mais que reformar a propriedade para dela obter ainda mais lucro – ação inserida na lógica capitalista que ele supõe tratar-se de simpatia pelo socialismo.
Sua esposa Joaninha sintetiza a pátria portuguesa, com sua vitalidade e sua força procriadora. O encontro com ela representa, para Jacinto, a coroação de seu contato com a terra de seus antepassados.
Mais uma vez chamado a opinar, Grilo sentencia: “Sua Excelência brotou!” De fato, na serra, Jacinto renasce. Aparentemente, temos a constatação do fiasco da fórmula de Jacinto e, consequentemente, a vitória da tese de Zé Fernandes. Mas é preciso atentar para um detalhe final: Jacinto não despreza a civilização como um todo. Aceita dela a cultura e certas modernidades úteis, como o telefone, que manda instalar em Tormes. 
Assim, a conclusão do livro não corrobora a tese de Zé Fernandes, nem a posição juvenil de Jacinto. Na verdade, o romance prega o equilíbrio: a preservação das tradições serranas convivendo com um projeto modernizador. Tal equilíbrio é expresso já no título do romance, que, longe de opor cidade e serra, une-os por uma partícula conciliadora: “e”.

Personagens
- Jacinto: francês rico que reencontra a felicidade em Portugal, terra de seus antepassados.
- Zé Fernandes: narrador e testemunha das mudanças que se operam no amigo Jacinto.
- Amigos de Jacinto em Paris: formam um grupo caracterizado pela hipocrisia; entre eles, destaca-se Madame d’Oriol, amante de Jacinto.
- Madame Colombe: prostituta de luxo com quem Zé Fernandes mantém um tórrido caso amoroso.
- Amigos da serra: comportam-se com sinceridade, rejeitando Jacinto por associá-lo ao absolutismo miguelista.

- Joaninha: prima de Zé Fernandes, torna-se esposa de Jacinto.
- Grilo: empregado de Jacinto por toda a vida, mostra grande perspicácia em suas opiniões a respeito do amo.

 

 

Resumo 3 A Cidade e as Serras

A Cidade e as Serras

Resumo

 

Vida e obra de José Maria Eça de Queirós
Contexto Histórico
Realismo Português (1865-1890)
Década de 60 - agitação política, social e cultural.
1864 - inauguração do caminho de ferro de Beira Alta (Coimbra).
publicação Visão dos Tempos; Tempestades Sonoras (Teófilo Braga).
publicação de Odes Modernas (Antero de Quental: "a poesia é a voz da revolução").
1865 - Poema da Mocidade (Pinheiro Chagas, romântico).
a Questão Coimbrã (ou do Bom Senso e do Bom Gosto).
1871 - As Conferências Democráticas no Cassino Lisbonense.
"O Realismo como nova expressão da arte" (Eça de Queirós).
Vida
1845 - nascimento (Póvoa de Varzim).
1855 - estudos no Porto.
Aos 16 anos ingressa na Faculdade de Direito em Coimbra.
1871 - Conferência e jornal "As Farpas", com Ramalho Ortigão.
1871/72 - Administrador do Conselho de Leiria (perseguições políticas).
1873 - Cônsul em Havana.
1875 - Cônsul em Bristol (Inglaterra).
1878 - Cônsul em Paris (seu grande sonho).
1900 - Morre em Paris.
Obras - Três Fases
1ª fase - Romantismo
Primeiros escritos (folhetins): Prosas Bárbaras (1905).
influências do ultrarromantismo, do bucolismo; de Baudelaire, atmosfera "dark" ou "noir" (pouca importância artística).
2ª fase - Realismo-Naturalismo
O Crime do Padre Amaro (1875); O Primo Basílio (1878); O Mandarim (1879); A Relíquia (1887); Os Maias (1888).
Critica a estagnação de Portugal; denuncia a decadência moral e a hipocrisia do clero e da classe média e das elites;
Traços de naturalismo (Zola) e determinismo (Taine): "o homem é um resultado, uma conclusão e um produto das circunstâncias que o envolvem. Abaixo os heróis".
3ª fase - Realismo "impressionista" ou "fantasista"
A Ilustre Casa de Ramires (1900, sua obra-prima) e A Cidade e as Serras (1901): "Sobre a nudez forte da verdade (Realismo), o manto diáfano da Fantasia (arte).
Características: ironia bem-humorada substitui a ironia corrosiva; visão crítica temperada de esperança e otimismo, com propósitos humanitários; melhoria de Portugal através da colonização da África (A Ilustre Casa...) e da revalorização das tradições portuguesas e elogio à vida rural; lirismo e tendência a poetizar a prosa (Impressionismo).
Resumo da Obra (16 capítulos)
Cap. I
Lisboa, década de 1820. D. Jacinto Galião (avô da personagem principal do livro), fidalgo rico, sofre uma queda na rua e é socorrido por D. Miguel, a quem passa a venerar.
D. Miguel (década de 30) perde a guerra com D. Pedro e é exilado. D. Galião, esposa e filho Jacinto ("Cintinho") auto exilam-se em Paris, onde vivem em luxuoso palacete, na Av. Campos Elísios, nº 202.
"Cintinho" cresce frágil e doente (tuberculose), casa-se com D. Teresinha Velho, mas não sobrevive para assistir ao nascimento do filho Jacinto. Este (personagem principal) cresce com saúde, segurança, riqueza e muita sorte, sendo chamado pelos amigos de "Príncipe da Grã-Ventura". Desde o tempo de estudante (1875) Jacinto criara a teoria suma ciência x suma potência = suma felicidade.
Em síntese, uma apologia da civilização, da cidade, e um temor "irracional" da natureza.
O narrador do livro é José Fernandes, amigo íntimo de Jacinto desde os tempos da universidade. Em 1880, é chamado pelo tio, já velho, para cuidar de suas terras e negócios em Guiães (Portugal).
Cap. II
Fevereiro de 1887. José Fernandes volta a Paris e hospeda-se no "202". Surpreende-se com o luxo e as novidades que Jacinto trouxera ao palacete: elevador, biblioteca com mais de 30 mil livros, telégrafo, conferençofone, telefone, teatrofone, aquecimento central, dezenas de escovas e tipos de água, "engenhocas" de utilidade diversificadas (culto da tecnologia).
Cap. III
Jacinto dedica-se a várias atividades: pela manhã, lê, informa-se, prepara a agenda. Após o almoço, enfrenta uma série de compromissos, principalmente sociais. No entanto, ele não parece feliz - anda encurvado, bastante pálido, aborrece-se com tudo. Até a "cocotte" que mantém por modismo não o agrada mais.
Certo dia, durante o banho, o encanamento aquecido arrebenta e inunda o palacete. A notícia sai nos jornais, e várias pessoas telefonam. Madame de Oriol aparece para ver o tamanho do estrago. Jacinto desanima.
Cap. IV
O Grão-Duque Casimiro manda-lhe um peixe raro, pescado na Dalmácia, e Jacinto convida a alta sociedade parisiense para um jantar.
À noite, falta luz no palacete, ameaçando a festa. A energia volta, os convidados chegam e ficam encantados com a quantidade de aparelhos e engenhocas de Jacinto. Um psicólogo, autor do livro Couraça, é alvo de críticas de M. Marizac: imagine uma duquesa vestir um colete de cetim preto!
O narrador aproveita para criticar a futilidade, a bajulação e a falta de objetivos de vida da elite presente ao evento.
À hora da ceia, um imprevisto: o peixe famoso ficara preso dentro do elevador! Todos acorreram à copa e S. Alteza tentou pescá-lo em vão. O incidente comprometeu o jantar...
Alguns dias depois, Jacinto recebe a notícia de que um deslizamento de terra havia soterrado a igrejinha e revolvido os ossos de seus avós, em Portugal. Escreve ao administrador Silvério, que recuperasse os restos e a Igreja, liberando a verba necessária para as obras
Cap. V
Jacinto resolve reformar o palacete. Zé Fernandes não aguenta mais a confusão e a chegada ininterrupta de novos livros, passando a maior parte de seu tempo em casa de Madame Colombe, por quem se apaixona. Esta, depois de tomar-lhe todo o dinheiro, muda-se para local desconhecido, causando-lhe profunda desilusão.
De volta à Paris, encontra Jacinto depauperado, definhando, lendo A Eclesiastes e assimilando a filosofia de Schopenhauer, pensando em suicidar-se (aos trinta e quatro anos de idade!). Grilo, o criado, resume: "Sua Excelência sofre de fartura."
Cap. VI
Jacinto visita Mme. de Oriol todas as tardes. Um dia ela tem outro compromisso, e os dois amigos vão passear pela cidade, conversam em um café e sobem até a Basílica do Sacré-Coeur, de onde contemplam Paris. Zé Fernandes aproveita para fazer um discurso político-socialista contra a exploração humana pela burguesia, contra a Igreja esquecida das lições do Cristo, e a favor de uma arte engajada.
Cap. VII
Jacinto pede ao amigo para acompanhá-lo nas visitas à casa de Mme. de Oriol, que está brigada com o marido.
Logo Jacinto começa a maldizer a vida. Resolve, então, ocupar-se com atividades variadas. Oferece um jantar cor-de-rosa a suas amigas, cria hospícios, manda ligar seu telégrafo ao Times...
Dia 10 de janeiro completa 34 anos, mas não quer receber visitas nem cumprimentos. Adota a filosofia pessimista.
Cap. VIII
Silvério escreve avisando que a Igreja estava restaurada e os ossos dos avós estavam prontos para o translado. Jacinto resolve ir até Tormes para inaugurar a igrejinha e enterrar os ancestrais dignamente. Os preparativos para a viagem demoram três meses: quer levar todos os confortos do "202" para Portugal. Recomeça a frequentar festas, aparentemente feliz de novo. Pouco depois, é vencido novamente pela fartura e pelo tédio. Resolve partir.
Ele vai no vagão especial com Zé Fernandes. Grilo e Anatole acompanham a carga de mais de trinta volumes.
Porém, na baldeação do trem em Medina (Espanha), perde os empregados e as bagagens. Na chegada a Tormes, não há ninguém à espera. Alugam uma égua e um burro para subirem a serra até o Solar. No caminho, Jacinto encanta-se com a beleza da terra, enfeitada pelo mês de abril, mas ao chegar, nova desilusão com a precariedade do lugar.
Melchior fica surpreso ao vê-los: pensava-se que só chegariam para o final do ano! As obras da casa não estavam terminadas, a mobília não havia chegado.
Sem suas malas, suas roupas, suas escovas... Jacinto resolve ir para Lisboa na manhã seguinte. Apesar de tudo, jantam muito bem em companhia dos empregados e dormem no chão.
José Fernandes parte para a casa da Tia Vicência, em Guiães, de onde envia roupas, objetos de asseio e livros para o amigo.

 

 

 
Leitura A Cidade e as Serras de Eça de Queiroz
 
     

 

 

 

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