Álbum de Livros Abertos
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Resumo 1 Amor de Perdição: resumo da obra de Camilo Castelo Branco “Não há baliza racional para as belas, nem para as horrorosas ilusões, quando o amor as inventa.” (Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco) Amor de Perdição: resumo (Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco) Estilo: pertence à época romântica; Género literário: novela passional; Foco Narrativo: Embora na “Introdução” narrador e autor se confundam, os factos são narrados na 3.ª pessoa; Tempo e Espaço: Portugal (Viseu, Coimbra e Porto), século XIX; Personagens: Simão Botelho, Teresa Albuquerque, Mariana, Baltasar, Domingos Botelho, Tadeu Albuquerque, João da Cruz, D. Rita Castelo Branco.
Resumo 2 Amor de Perdição: resumo da obra de Camilo Castelo Branco Amor de Perdição” é um romance do português Camilo Castelo Branco. A obra, escrita em 1861, foi publicada pela primeira vez no ano seguinte, em 1862. É considerada a mais importante do autor, assim como para a segunda fase do Romantismo em Portugal.
Resumo
Resumo 3 Amor de Perdição: resumo da obra de Camilo Castelo Branco Resumo Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco Assumindo-se como contador de uma história real, cuja veracidade é atestada em fontes («livros de antigos assentamentos»), o narrador aproxima-se do historiador. Encontramos uma referência explícita ao destinatário — o leitor e a leitora, «amiga de todos os infelizes —, ficando este preparado para todas as emoções que a história nele provocará.
Resumo 4 Amor de Perdição: resumo por capítulos da obra de Camilo Castelo Branco Capítulo I Em 1779, Domingos Botelho, fidalgo de Vila Real de Trás-os-Montes que exercia a função de juiz de fora em Cascais, casa com D. Rita Preciosa, uma dama do paço que era «uma formosura». Em 1784, quando nasce Simão, o penúltimo dos filhos (o casal teve dois filhos e três meninas: Manuel, Simão, Maria, Ana e Rita), Domingos Botelho consegue transferência para Vila Real, sua «ambição suprema». Aí, são recebidos pela nobreza da vila. D. Rita estranha o atraso das gentes, respondendo com altivez à cordialidade; também desdenha das comodidades. É construída uma nova casa. Apesar de não ter razão, Domingos Botelho sofre com os ciúmes, temendo não conseguir preencher o coração de sua mulher e porque se considera muito feio (comparando-se, mitologicamente, a Vulcano casado com Vénus). Em 1790, consegue transferência para Lamego, o que muito desagrada a D. Rita. Em 1801, Domingos Botelho exerce funções de corregedor em Viseu. Manuel, o filho mais velho, e Simão estudam em Coimbra (o «segundo ano jurídico» e Humanidades, respetivamente), enquanto as meninas preenchem a vida de D. Rita. Manuel escreve ao pai queixando-se do «génio sanguinário» do irmão (este comprava pistolas, convivia com perturbadores, insultava os habitantes e incitava-os a lutarem com ele). Domingos Botelho admira a bravura do filho, mas Manuel insiste nas suas queixas e pede mesmo para seguir outro rumo. Com esse objetivo, vai para Bragança Educação literária — Amor de Perdição: Resumo por capítulos Camilo Castelo Branco. para se tornar cadete. Simão, por sua vez, passa nos exames, sendo perdoado pelo seu comportamento. Aos poucos, D. Rita passa a ter desgosto por ter um filho como Simão. Este tem amigos e companheiros que a família não aprova (escolhendo-os na plebe de Viseu), escarnece das genealogias e faz com que as irmãs mais velhas o temam. Também Domingos sente aversão por Simão. Quando estão a terminar as férias, um dos criados de Domingos Botelho quebra, por acidente, umas vasilhas, enquanto dá de beber a um macho, sendo espancado pelos aguadeiros. Simão, que por ali passa, toma o partido do criado e acaba por partir «muitas cabeças». Após a queixa dos feridos, Simão foge para Coimbra, com o dinheiro da mãe, ficando a aguardar o perdão do pai. O corregedor desiste de deter o filho. Capítulo II Em Coimbra, Simão permanece convencido da sua valentia, deliciando-se com as memórias do espancamento, que o incitam a novos atos. O ambiente que encontra na Universidade é propício à exaltação. Contaminado pelo espírito revolucionário, defende um «batismo de sangue». Torna-se jacobino e um apologista da ideia regicida. Devido às suas ideias, é preso, mas consegue sair do cárcere académico por ingerência da família. Perde o ano letivo e vai para Viseu. Aí, a sua personalidade sofre uma mudança considerável, tendo na sua origem o facto de Simão estar apaixonado pela sua vizinha («Simão Botelho amava»). Ele tem 17 anos; ela, 15. A separar as duas famílias existe um ódio antigo, o qual teve na sua origem questões de justiça (o facto de Domingos Botelho ter decidido contra os Albuquerque). Os dois apaixonados fazem planos. Na véspera de Simão partir para Coimbra, Teresa é arrancada da janela. Simão ouve os gemidos da amada e sofre devido à sua impotência. Antes de partir, opção que considera melhor para si e para Teresa, recebe dela um bilhete. Diz-lhe que o pai ameaçara encerrá-la num convento, por causa dele, e pede-lhe que vá para Coimbra. Simão contando-lhe o sucedido. Simão fica fora de si e planeia matar Baltasar, mas abandona esta ideia ao perceber que essa ação o afastaria de Teresa para Sempre. O estudante resolve ir a Viseu para ver a filha de Tadeu. Como precisa de um sítio seguro onde ficar, o arrieiro recomenda-lhe a casa de um primo seu, que fica perto de Viseu. Simão envia uma carta a Teresa e combinam um encontro às onze horas, no dia do aniversário desta. À hora combinada, Simão fica surpreendido por ouvir música vinda de uma casa que ele sempre considerara triste e sem vida. Capítulo V Teresa sai da sala onde se festeja «com estrondo» o seu aniversário. O primo percebe a sua agitação. Levando uma capa para não ser reconhecida, Teresa é perseguida pelo primo, mas, assustada, regressa ao baile. Baltasar acaba por ser cruzar com Simão, que o interroga em tom ameaçador. Percebendo que Simão está armado com duas pistolas, Baltasar acaba por recuar. Simão só consegue distinguir um vulto. Teresa escreve novamente a Simão e combinam novo encontro para a noite seguinte. Na casa onde o estudante estava alojado vive Mariana, filha do ferrador. Esta contempla demoradamente Simão e diz-lhe que adivinha para ele alguma desgraça «por amor duma fidalga de Viseu». O ferreiro João da Cruz conta a Simão a história que o fazia «dever um favor» ao corregedor Domingos Botelho (por causa deste, o ferreiro escapara à forca). O pai de Mariana também conhece Baltasar Coutinho e conta a Simão que o morgado de Castro Daire lhe pedira que matasse um homem a troco de dinheiro: esse homem era Simão Botelho. João da Cruz ainda o aconselha a não ir ver Teresa, mas Simão mantém a sua ideia. Capítulo VI Três vultos estão reunidos, à noite, perto da porta do quintal de Tadeu de Albuquerque. Um deles é Baltasar Coutinho e prepara, com os seus criados, uma cilada para Simão. João da Cruz e o cunhado, o arrieiro, executam um plano para ajudar Simão, conseguindo este estar com Teresa e sair sem ser visto. Depois disto, João da Cruz diz-lhe para seguir rapidamente para casa, temendo o ataque dos homens de Baltasar, que estariam escondidos. O ferreiro fica aflito ao perceber que não chegarão ao local a tempo de proteger Simão de uma emboscada. Este acaba por ser ferido com um tiro, e os criados de Baltasar Coutinho morrem às mãos de João da Cruz, que receia deixar testemunhas do sucedido e quer acabar as «obras» que começara. No fim, perante aquilo que considera crueldade (o facto de o ferreiro ter matado um homem que estava ferido e tinha implorado pela sua vida), Simão «teve um instante de horror do homicida». Capítulo VII Simão recebe os curativos do ferrador mas piora dos seus ferimentos. Preocupa-o mais, no entanto, o facto de não ter novidades de Teresa. Esta envia-lhe uma carta em que conta o comportamento estranho do pai e do primo e se mostra muito preocupada por ter ouvido falar na morte dos criados de Baltasar. Simão responde-lhe de modo a tranquilizá-la. Baltasar e Tadeu de Albuquerque (que fora conivente no atentado contra a vida de Simão) acabam por não se envolver no assassinato dos criados, uma vez que não havia provas contra o filho do corregedor. Tadeu de Albuquerque toma a decisão de encerrar Teresa num convento do Porto. Assim, até que toda a documentação esteja tratada, Teresa fica num convento de Viseu. Leva consigo tinteiro, papel e o maço das cartas de Simão. As suas últimas palavras, dirigidas às irmãs de Baltasar, revelam orgulho e firmeza. Ao entrar no mosteiro, sente-se livre, porque o seu coração está livre, mas em breve percebe que está errada a respeito da vida monacal e que também ali reina a mentira e a falsidade. No diálogo com as freiras, Teresa é confrontada com muitas intrigas, percebendo que aquele não é um «exemplar viver» e que é tudo menos um «refúgio da virtude». Antes de adormecer, Teresa escreve novamente a Simão. Capítulo VIII Mariana desmaia ao ver a ferida de Simão, deixando o pai surpreendido, uma vez que a rapariga estava habituada a curativos. Torna-se a enfermeira de Simão. João da Cruz conta ao filho do corregedor que Mariana não tem querido casar, apesar dos deseja que Simão não faça nada no momento da sua partida para o convento de Monchique, no Porto, porque isso seria muito perigoso. Enquanto regressa a casa, Mariana pensa na beleza de Teresa («linda como nunca vi outra!»). Simão ouve de Mariana o recado, mas mantém a ideia de ver Teresa antes de esta partir para o Porto. Na carta que escreve, Simão considera Teresa perdida e dá a entender os seus intuitos quando afirma que «o rancor sem vingança é um inferno». Quando Simão sai, de noite, escuta as palavras de Mariana e sente que ela é o seu «anjo da guarda». Os dois despedem-se como se fosse para sempre. Simão chega ao convento e aguarda pela madrugada, quando chega a comitiva que levaria Teresa. Nessa comitiva está Baltasar. Teresa reafirma, perante o pai, a intenção de entrar num convento. Troca algumas palavras com Baltasar, evidenciando sentir por ele repugnância. Simão aparece e, depois de ofensas trocadas com Baltasar, este aperta-lhe a garganta, morrendo em seguida com um tiro dado pelo filho de Domingos Botelho. Depois do sucedido, surge João da Cruz, que pede a Simão que fuja. Este recusa e, quando o meirinho-geral lhe quer proporcionar a fuga, insiste em assumir as responsabilidades: «Fui eu.» Capítulo XI Os Botelhos recebem a notícia da morte de um homem às mãos de Simão. Domingos Botelho toma conhecimento da prisão do filho e pede ao juiz de fora que trate Simão como qualquer outro criminoso, afirmando que não protege «assassinos por ciúmes» e que desconhece aquele homem. A partir das palavras do juiz, fica a saber-se que Simão afirmara ter matado o «algoz da mulher que amava» e negara tê--lo feito em legítima defesa. Simão é alojado num dos melhores quartos do cárcere, mas «nu e desprovido do mínimo conforto». Recebe o almoço que sua mãe enviou e uma carta desta, pela qual fica a saber que o dinheiro que lhe fora dado era, afinal, do ferrador João da Cruz. Simão recusa o almoço, e o criado que lho levara acredita na sua demência. Mariana, em lágrimas, visita Simão na cadeia. Este diz-lhe que não tem família e pede-lhe que lhe compre uma banca, uma cadeira, tinteiro e papel. Simão fica a saber que Teresa fora levada para o Porto depois de ter perdido os sentidos. Mariana diz a Simão que será uma irmã para ele. Capítulo XII O corregedor e a família partem de Viseu para Vila Real. Através da carta de uma das irmãs de Simão (a que o narrador teve acesso e que fora escrita cinquenta e sete anos depois do sucedido), sabe-se que Simão fora condenado a morrer na forca e que, enquanto estava preso, teve a companhia da filha de um ferrador, que cuidava dele «com abundância e limpeza». Sabe-se também que o pai de Simão se manteve severamente inflexível e impediu que as cartas de D. Rita chegassem ao filho. Aos que lhe pediam que intercedesse a favor de Simão, respondia que a forca era para todos. Só decidira agir devido ao pedido desesperado de um membro da família, António da Veiga («tio-avô muito velho e venerando», segundo dizia a carta da irmã de Simão). No início de março de 1805, Simão é transferido para as cadeias da Relação do Porto. No dia do julgamento, Simão assume o crime e reage com violência quando é pronunciado o nome de Teresa Clementina de Albuquerque. Depois da sua condenação à forca, Mariana, profundamente transtornada, é levada nos braços do seu pai. Entra depois num delírio, pedindo que a matem. Simão chora depois de perceber o quanto Mariana o ama («até ao extremo de morrer»). Devido à demência, Mariana deixa de visitar Simão. Este, consciente de todo o sofrimento que causara, não opta pelo suicídio por considerar a forca (a morte) um triunfo quando se age por honra e por considerar cobardia escolher a morte quando não há esperança. Capítulo XIII Teresa parte para o Porto com uma criada, Constança, que tivera por ela um «raio de piedade» e que a informara sobre a prisão de Simão. Pede que a deixem fugir para se despedir de Simão, mas a criada fá-la mudar de ideias. Chega ao convento de Monchique, no Porto, sendo recebida pela sua tia, a abadessa. A esta conta Teresa todos os acontecimentos e, juntas, leem as cartas de Simão. Sem forças para a rebelião, começa a aceitar a morte. Por conselho da tia, deixa de escrever a Simão. Mariana «voltou ao seu juízo». Simão pede-lhe que entregue uma carta no convento de Monchique, o que vem a acontecer. Simão alegra-se com a certeza de que pode voltar a corresponder-se com Teresa. Informado de que Mariana regressaria para o ajudar, Simão exprime a culpabilidade de se sentir responsável pelo destino da filha do ferrador, considerando--a um «anjo de caridade». João da Cruz conta-lhe uma história reveladora da «bravura da moça» e, emocionado, revela saber a profunda paixão de Mariana por Simão. Capítulo XVI O narrador conta um incidente que lhe ocorre, relacionado com Manuel Botelho, irmão de Simão. Este tinha fugido para Espanha com uma amante, cujo marido era estudante em Coimbra. Quando os recursos de D. Rita, que o sustentava, acabaram, pediu ao filho que viesse para Vila Real. Manuel Botelho veio com a sua «dama». Ao visitar Simão na cadeia, é recebido com grande frieza. Simão nega esmolas, dizendo que só as receberia de Mariana, que estava ao seu lado. Nessa tarde, Manuel é visitado pelo desembargador e pelo corregedor do crime. O desembargador informa-o de que Simão será condenado a dez anos de degredo na Índia. Acrescenta que a absolvição é impossível, uma vez que Simão confessa o crime, descrevendo-o como um «doido desgraçado com sentimentos nobilíssimos». Sobre Teresa, informa que recuperara a saúde. O desembargador e o corregedor partem desconfiados, pensando que Manuel tem consigo uma mulher casada com quem fugira (sua concubina) e não a irmã. Na carta que escreve a Domingos Botelho, o corregedor relata o encontro. Domingos Botelho percebe o que sucedera e acaba por interferir. Manda a amante do filho regressar aos Açores e condena o seu filho por ser um desertor. O narrador tece comentários sobre as expectativas dos leitores, referindo o facto de existir, no Frei Luís de Sousa, uma morte por vergonha. Quando obtém o perdão, Manuel Botelho muda de regimento para Lisboa. Capítulo XVII João da Cruz está em casa com a sua cunhada, Josefa, e sofre com as saudades de Mariana. Decide, então, ir visitá-la ao Porto. No entanto, aparece um cavaleiro encapotado que o mata devido a um crime antigo. O narrador tece considerações sobre as incoerências da «índole» deste homem (em quem os «instintos sanguinários» coexistiam com a «nobreza da alma»). Josefa escreve a Mariana para lhe dar a notícia. Mariana sofre, temendo a demência. Simão trata-a como irmã e amiga da sua alma. Capítulo XVIII Mariana vai a Viseu recolher a herança paterna. Vende as terras e deixa a casa a sua tia, tomando a decisão de seguir Simão. Este não fica surpreendido, mas teme que Mariana desconheça a dura realidade do degredo. A filha de João da Cruz diz nada temer: «Verá como eu amanho a vida.» Simão diz que há de viver com o peso de se sentir responsável pelo seu destino. Mariana responde-lhe dando a entender que o acompanhará na morte. Simão repete que se sente infeliz por não poder fazer de Mariana sua mulher, mas acaba por aceitar que ela o acompanhe. Mariana passa a sentir um «secreto júbilo», que preenche o seu coração. Este, sendo de mulher, tem ciúmes de Teresa, ciúmes que eram «infernos surdos». Por vezes, lamenta que Simão sofra por Teresa, mas nunca hesita quando se trata de ajudar na comunicação entre os dois apaixonados. Domingos Botelho acaba por voltar a interceder pelo filho e consegue que a pena do degredo seja alterada e Simão cumpra a sentença na prisão de Vila Real. Mas Simão recusa, preferindo «a liberdade do degredo». A prisão é, para ele, «mais atroz que a morte». O seu nome aparece, então, no catálogo dos degredados para a Índia. Capítulo XIX que saiu da sepultura», desaparecendo pouco depois. Também Simão é já um morto: «como o cadáver embalsamado». Mais tarde, depois de o navio ficar retido devido ao mau tempo, Simão recebe a notícia dada pelo comandante: Teresa morrera. O comandante comove-se perante a dor de Simão e a atrocidade do «quadro» e diz-lhe quais foram as últimas palavras de Teresa: «Simão, adeus até à eternidade!» Simão pede ao comandante para proteger Mariana. Mas tanto ela como ele já «cismam» na morte. Conclusão Simão lê a última carta de Teresa, a carta de um espírito, da sua «esposa do Céu»: «É já o meu espírito que te fala, Simão.» É uma carta de despedida profundamente triste, como o destino de ambos. Teresa diz-lhe que não poderia viver e recorda a felicidade com que os dois sonharam nas cartas trocadas, nos últimos três anos. Depois da leitura, Simão adoece, sofrendo com a febre, as ânsias e o delírio. Pede a Mariana que, se ele morrer no mar, atire ao mar a correspondência e todos os seus papéis. Em 27 de março, Mariana parece ter envelhecido e Simão continua a delirar, atormentando-se com a recordação dos seus sonhos de felicidade. No seu delírio, refere também a possibilidade de Mariana o acompanhar no Céu: «ser-te-emos irmãos no Céu». Simão morre e Mariana beija-o pela primeira e última vez. Quando o corpo de Simão é lançado à água, Mariana atira-se e braceja para se abraçar ao cadáver. Os homens que tentam salvar Mariana recolhem a correspondência de Simão e Teresa, que estava «à flor da água». Na última linha do texto, encontra-se a informação de que Manuel Botelho, irmão de Simão, é o pai do autor do livro.
Resumo 5 Amor de Perdição: Características do Romantismo Características do Romantismo em Amor de Perdição Marco do Ultra-Romantismo português. Amor de Perdição, publicado em 1862, foi muito bem-recebido pelo público em seu lançamento. A obra é considerada uma espécie de Romeu e Julieta lusitano. Camilo Castelo Branco pertence à Segunda fase do Romantismo português, chamada Ultra-Romantismo – corrente literária da segunda metade do século XIX que leva ao exagero os ideais românticos. Escreveu vários gêneros de novelas: satíricas, históricas e de suspense. Mas foram suas novelas passionais – como Amor de Perdição – que lhe deram maior projeção dentro da literatura portuguesa. Nesta novela passional, de temática romântica exemplar, o escritor levou às últimas conseqüências a idéias de que o sentimento deve sobrepor-se à vida e à razão. O livro trata do amor impossível e discute a oposição entre a emoção e os limites impostos pela sociedade à realização da paixão. Sem conseguir o objeto da paixão, o herói romântico confirma seu destino trágico. Nele, o mesmo amor que redime resulta em morte, conforme antecipa o narrador-autor na introdução do livro, ao comentar o destino do seu herói: “Amou, perdeu-se e morreu amando”. 1. UMA NOVELA ULTRA-ROMÂNTICA. Amor de Perdição é uma obra-prima do Ultra Romantismo português. Tem um narrador em primeira pessoa, que não participa dos acontecimentos, mas conhece os fatos passados por “ouvir falar” e “por pesquisar em documentos”. Conta a história do amor impossível dos jovens Simão e Teresa, separados por rivalidades entre suas famílias – os Albuquerques e os Botelhos, moradores da cidade de Viseu, em Portugal, e inimigos por questões financeiras. 1a. A APOTEOSE DO SENTIMENTO. O corregedor Domingos Botelho e sua mulher Rita Preciosa têm cinco filhos, entre eles Simão, que desde pequeno demonstra um temperamento explosivo e indolente, e Manuel, calmo e ponderado. O primeiro vai estudar em Coimbra depois de uma confusão doméstica, em que toma a defesa de um criado da família. Lá, adota os ideais igualitários da Revolução Francesa e acaba preso durante seis meses por badernas e arruaças. Quando sai da cadeia, volta a Viseu, onde conhece e se apaixona por Teresa, sua vizinha que tem 15 anos e é filha de uma família inimiga da sua. Com o objetivo de separar Simão e Teresa, o pai da moça ameaça mandá-la para o convento, enquanto Domingos Botelho envia Simão de volta a Coimbra. Uma velha mendiga faz o papel de pombo-correio do casal, levando as cartas trocadas entre os dois jovens apaixonados. 1b. A MUDANÇA DE SIMÃO. Movido pelo amor a Teresa, Simão decide se regenerar e estudar muito. Nesse meio tempo, o irmão Manuel, que chegara a Coimbra, foge para a Espanha com uma açoriana casada. A irmã caçula de Simão – Ritinha – faz amizade com Teresa. O pai da heroína quer casá-la com o primo Baltasar Coutinho – ordem que a moça se nega a cumprir. As intenções do pai de sua amada fazem Simão retornar clandestinamente para Viseu, hospedando-se na casa do ferreiro João da Cruz, antigo conhecido da família Botelho. Simão combina encontrar-se às escondidas com Teresa no dia do aniversário da moça, mas o encontro é transferido porque Teresa é seguida. 1c. AMOR E MORTE. Na data combinada, Simão vai ao encontro marcado levando consigo o ferreiro João da Cruz e outros amigos. Depara-se com Baltasar que, na companhia de alguns criados, fora até o local para matar Simão. Na briga, dois dos criados de Baltasar são mortos. Ferido, Simão convalesce na casa de João da Cruz. Teresa vai para um convento. Mariana, filha do ferreiro apaixonada por Simão, empresta a ele suas economias para que vá atrás de Teresa, dizendo que o dinheiro pertence à mãe do próprio Simão. No dia previsto para que Teresa mude de convento, Simão decide raptá-la. Dá-se um novo confronto com Baltasar Coutinho, que leva um tiro na testa e morre. Simão entrega-se à polícia e dispensa a ajuda da família para sair da cadeia. Levado a julgamento, é condenado à forca. Enquanto isso, Mariana enlouquece de amor e a saúde de Teresa definha no convento. Na cadeia, Simão passa os dias lendo e escrevendo cartas. João da Cruz é assassinado pelo filho do criado de Baltasar Coutinho. Mariana, que estava na cidade do Porto, volta a Viseu para tomar posse da herança, confiada a Simão. Tardiamente, o pai de Simão pede que sua pena seja comutada em dez anos de prisão, mas o filho rejeita a ajuda paterna. Prefere o desterro para as Índias. Na data em que a nau dos condenados parte, Teresa morre no convento. Ao saber da morte de sua amada, Simão adoece, vindo a falecer no décimo dia de viagem. Quando seu corpo é jogado ao mar, Mariana que o havia acompanhado, lança-se da proa, suicidando-se abraçada à mortalha do amado. O narrador-autor de Amor de Perdição conta fatos reais, romanceados a partir dos relatos de uma tia que o criou. Preocupa-se em transcrever documentos para dar autenticidade às aventuras que vai narrar. Essa preocupação do autor é um recurso romântico para mobilizar e envolver o leitor com a intenção de comovê-lo. 1d. CENÁRIO EM MOVIMENTO. A novela passa em Portugal, no século XIX, fase final do absolutismo, quando a Corte portuguesa experimentava as conseqüências das invasões francesas determinadas por Napoleão. Em Amor de Perdição, o deslocamento das personagens para as cidades de Viseu, Coimbra e do Porto apenas reflete a complexidade das situações que as envolvem, não determinando os acontecimentos. Ainda assim, as referências às cidades permitem uma visão mais ampla da moral vigente e do provincianismo da sociedade portuguesa da época, na qual a tradição de familiar e a preocupação com a reputação prevalecem sobre o individualismo. 2. UM NARRADOR E VÁRIAS VOZES. Camilo Castelo Branco narra sua história de maneira densa e ágil, intercalando, com maestria, a narração e os diálogos. Sem deixar de afirmar o caráter verídico dos fatos que descreve, o narrador autor assume que se vale mais da memória do que da realidade dos fatos. Utiliza-se também, ao mesmo tempo, de inúmeros documentos para afastar dúvidas quanto à credibilidade do que descreve, posicionando-se como contador de fatos já ocorridos. “Já lá se vão cinqüenta e sete anos (…)”, diz a carta de tia Rita. Ao relatar a forma como conseguiu os documentos para reconstituir “a triste história de meu tio paterno Simão Botelho”, o narrador está com o foco centrado na primeira pessoa. Assim que começa a descrever os fatos ocorridos a cada um dos personagens, torna-se um narrador em terceira pessoa. 2a. AMOR POR CORRESPONDÊNCIA. As cartas trocadas entre os dois jovens protagonistas apaixonados, incluídas no livro, são um importante recurso retórico usado pelo escritor e que intensifica o teor passional e dramático da história. Trazendo emoções e confissões de Simão e Teresa, os textos das cartas os transformam também em narradores. Amor de Perdição é, portanto, uma obra que possui múltiplas vozes narrativas. Também se destaca na obra o personalismo do narrador-autor, que volta e meia interfere para julgar ou ponderar – mostrando comoção ou indignação, porém sem se alongar demais nas suas digressões a ponto de prejudicar a ação. 3. AÇÃO EM ORDEM CRONOLÓGICA. Em Amor de Perdição, os acontecimentos se desenrolam de uma maneira bastante linear e em ordem cronológica, privilegiando a ação em vez da descrição. Exemplar no gênero novela passional, a obra tem uma única trama central – a infeliz história de amor entre Teresa e Simão, repleta de desavenças, infortúnios, crimes, mortes, fugas e tentativas de rapto -, em torno da qual se movimentam as demais personagens. 3a. UMA LINGUAGEM POPULAR. O próprio Castelo Branco justifica o sucesso de seu romance: “Rapidez das peripécias, a derivação concisa do diálogo para pontos essenciais do enredo, a ausência de divagações filosóficas, a lhaneza de linguagem e o desartifício das locuções”. Essa explicação está incluída no prefácio da segunda edição da novela, desdenhada pelo autor, no início, por tê-la produzido em apenas 15 dias, no período em que ficou preso. Embora tenha escrito febrilmente para sustentar a família e produzido, certa vez, quatro livros ao mesmo tempo, Camilo Castelo Branco manteve sempre o cuidado estilístico e a preocupação com a pureza da linguagem. Se, às personagens mais populares, emprestava uma fala viva e espontânea, aos protagonistas burgueses reservava uma retórica mais sentimental e trágica. 4. PERSONAGENS SEM CONTRADIÇÕES. O mundo romântico é idealizado, povoado de personagens virtuosas e sem contradições. Nesse contexto, podem-se contrapor às regras sociais, mas são sempre guiadas por seus sentimentos. Amor de Perdição tem três personagens principais: Simão, Teresa e Mariana. Embora pertençam a classes sociais diferentes – Simão e Teresa são burgueses, enquanto Mariana é filha do camponês João da Cruz -, a distinção se perde porque o que vale, na novela e no romance romântico, é a nobreza das emoções, permitindo que sua firmeza de caráter sobressaia. 4a. SIMÃO ANTÔNIO BOTELHO: O HERÓI ROMÂNTICO. Se muito do que é relatado em Amor de Perdição tem seu fundo de verdade – todos os Botelhos citados na narrativa são realmente parentes do autor por parte de pai -, o herói romântico é, confessadamente, enriquecido pela imaginação do autor. O Simão real, segundo um biógrafo, era pouco e um bagunceiro em Coimbra, até ser degredado para a Índia em 1807, sem que se tivessem mais notícias dele depois. Já o Simão de Camilo Castelo Branco ainda jovem tem ideais revolucionários, mostrados claramente quando ele se rebela contra a mentalidade escravocrata de sua família, cena descrita no primeiro capítulo. Essencialmente romântico, e muito inspirado na vida do próprio autor, o herói tenta seguir a ordem estabelecida para ter o amor de Teresa, desejo que se mostra impossível. Sem obter resultado, Simão parte para uma espécie de extremismos emocionais, como a tentativa de rapto que culmina em mortes. Defensor das idéias liberais, tem nobreza de caráter. Tanto que se entrega à polícia depois de dar vazão ao seu lado colérico, quando mata Baltasar Coutinho. 4b. TERESA DE ALBUQUERQUE: A HEROÍNA ROMÂNTICA. A frágil Teresa opõe-se firmemente ao destino que a família quer lhe impor Mas se vê obrigada a cumprir as ordens do pai, o dominador Tadeu de Albuquerque. Obstinada e apaixonada, luta para não se casar com o primo Baltasar Coutinho e troca cartas com Simão, na tentativa de acalmar a chama da paixão. Marginalizada e enclausurada num convento, reflete a fé na justiça divina e as injustiças cometidas em função dos preconceitos da época, que se interpunham entre ela e a felicidade não realizada. 4c. MARIANA: A AMANTE SILENCIOSA. Mulher mais velha, de 24 anos, criada no campo, Mariana pertence a uma classe social mais popular. Dela o narrador diz ter “formas bonitas” e um rosto “belo e triste”, para realçar a grandeza de seu amor-renúncia. O desprendimento que mostra – mando Simão em silêncio e, por isso, ajudando-o a se aproximar da felicidade pela figura representada pela figura de Teresa – faz parte do ideário romântico. Abnegada e fiel, Mariana jamais diz uma palavra e controla obstinadamente seu ciúme. Na história de Camilo Castelo Branco, é a personagem que mais sofre no romance. Pode-se dizer que a obra existe uma tríade romântica – Simão, Mariana e Teresa. Os três nunca se realizam sentimentalmente e têm um final trágico. 4d. JOÃO DA CRUZ: O CAMPONÊS RÚSTICO. Personagem popular, é um camponês que se transforma no protetor do jovem Simão quando este volta à cidade de Viseu, atrás de Teresa. A princípio, cuida do jovem em retribuição ao pai de Simão, que outrora o livrara de uma complicação judicial. Mas depois acaba gostando tanto de Simão a ponto de matar para defender o rapaz. BALTASAR COUTINHO: O BURGUÊS INTERESSEIRO. É o primo de Teresa, rapaz sem moral e sem brios, que não ama a moça, mas está disposto a recorrer a quaisquer expedientes para vencer a disputa com Simão. Faz o contraponto com o herói, na medida em que ambos vêm de famílias abastadas. Mas enquanto Simão se move pelos mais nobres sentimento, Baltasar é norteado por intenções medíocres. 4f. TADEU DE ALBUQUERQUE: O AUTORITÁRIO. É o pai de Teresa, que a todo momento toma o destino da moça nas mãos, sem respeitar seus sentimentos. Por uma rivalidade particular com a família de Simão, decide impedir a felicidade da filha, criando vários empecilhos para afastá-la de seu amor. 4g. MANUEL BOTELHO, O IRMÃO DESMIOLADO. O jovem irmão de Simão – que inicialmente critica o protagonista por sua vida desordenada – envolve-se com uma mulher casada na época em que vai morar com Simão na cidade de Coimbra. Arrependido, confirma sua dependência familiar quando pede ajuda aos pais para devolver aos Açores a mulher casada com quem havia fugido. As personagens do Romantismo vivem em conflito com a sociedade, que impõe limites à realização de seus desejos. No caso de Amor de Perdição, o obstáculo a ser superado é a família, tanto da de Teresa quanto a de Simão. As personagens do Realismo vivem em contradição consigo mesmas e coma sua visão do mundo. 5. AS NOVELAS CAMILIANAS. Embora Camilo Castelo Branco classificasse suas obras como romances, os críticos literários referem-se a elas como novelas. A diferença essencial está no tratamento linear da narrativa, nas cenas sucessivas e na conclusão fechada. Os romances abordam um mundo multifacetado, com personagens mais complexas e contraditórias. Nas novelas passionais do autor, o tema central é amor, exacerbação do sentimento que leva à ruptura com os padrões de comportamento e as regras sociais: a transgressão norteada pelos mais nobre dos sentimentos: a paixão que justifica toda a sorte de condutas, como o enlouquecimento – no caso de Mariana, a apaixonada que ama Simão em silêncio; a clausura – de Teresa, enviada para um convento pelo pai para afastá-la de seu amor; e a transformação de um homem de bem em criminoso – como o assassinato cometido por Simão. São histórias curtas que relatam, quase sempre, a luta entre o bem e o mal. Em suas novelas passionais, Camilo Castelo Branco explora a contradição entre o eu – que quer guiar-se pelos sentimentos – e os limites sociais que tentam impedir a concretização desses sentimentos. Tudo isso passa num mundo cheio de personagens que são moldadas de forma maniqueísta, voltadas para o bem ou para o mal, sem se desviar de seus propósitos. 6. UM APAIXONADO DO CETICISMO. Inscrito na segunda fase do Romantismo português – a corrente literária classificada de Ultra-Romantismo -, Camilo Castelo Branco opta pela abordagem dos sentimentos em vez de voltar-se para a questão do nacionalismo, uma característica que marcou vários autores na primeira fase do Romantismo em vários países europeus, inclusive Portugal. A grande interrogação de Camilo Castelo Branco é; até que ponto o homem pode se valer dos sentimentos para guiar sua existência? O Romantismo surgiu na primeira metade do século XIX, condicionado pelo fenômeno de ascensão da burguesia, provocado pela Revolução Francesa e consolidado com as Revoluções Liberais de 1830 e 1848. É uma reação ao universalismo neoclássico, propondo uma literatura subjetiva e individualista. O exagero desse individualismo, o tédio e o ceticismo diante da existência criam a sensação indefinida de insatisfação, a que os românticos davam o nome de “Mal do Século”. A dificuldade em distinguir o sonho da realidade; o nacionalismo e a valorização do passado; o desejo de reforma e o engajamento político caracterizam a literatura romântica. O romance romântico aborda a temática do amor nas suas formas mais exaltadas, acima do controle da razão e inevitavelmente ligada à morte, como se vê nesta obra de Camilo Castelo Branco. 7. OPOSIÇÃO AO REALISMO Amor de Perdição, publicado em 1862, é anterior ao início do Realismo em Portugal, que só começa em 1865, com as polêmicas Conferências do Cassino Lisbonense e as discussões que redundaram na chamada Questão Coimbrã. Camilo opunha-se ao romance realista, julgando-o imoral. Criticava-o por retratar pessoas fúteis ou que premeditam crimes, que desorganizam famílias: padres que rompem o celibato e alterações sexuais. O escritor rejeitava esses temas em favor da apologia do sentimento. Sobre o Realismo, afirmou: “(…) Quero escrever romances para as pessoas lerem na sala, não nos quartos de banho. Quero escrever romances para que todas as pessoas da família possam ler: as moças mais jovens, as senhoras (…)”. 8. O ROMANTISMO EM PORTUGAL. O Romantismo chega a Portugal no momento em que o país vivia uma das suas mais graves crises sociais e políticas. Dividido entre o absolutismo de Dom Miguel e o liberalismo de Dom Pedro IV – Dom Pedro I no Brasil -, a nação portuguesa se viu envolvida numa violenta guerra civil entre os anos de 1832 e 1834. Os liberais – defensores de uma monarquia constitucional – representavam os interesses da burguesa capitalista emergente contra as detentoras dos bens feudais, representado por Dom Miguel. A revolução romântica alimenta-se, em Portugal, dessa revolução social e política. Os primeiros escritores românticos portugueses – Almeida Garrett (1799-1854) e Alexandre Herculano (1810-1877) – participam ativamente da revolução liberal e, após sua vitória, em 1834, retornam do exílio para implantar em Portugal a nova literatura romântica. 8a. AS GERAÇÕES ROMÂNTICAS. Costuma-se dividir o Romantismo português em três gerações. A primeira – entre 1825 e 1840 – caracteriza-se pela luta pelo liberalismo e pela libertação das amarras neoclássicas. Tem em Almeida Garrett e Alexandre Herculano seus principais representantes. Na Segunda geração – entre 1840 e 1860 -, prevalece o passionalismo e sobressai a figura ultra-romântica de Camilo Castelo Branco. Na terceira – de 1860 -, representada por Júlio Dinis (1869-1871), é marcada a fase de transição para o Realismo da década de 70. VIDA E OBRA: O MAIS ROMÂNTICO DOS ROMÂNTICOS. A vida de Camilo Castelo Branco (1825-1890) parece Ter sido copiada de uma de suas novelas passionais. Aos dois anos fica órfão de mãe. Aos dez perde o pai. Criado por uma tia e pela irmã, recebe educação religiosa. Aos 16 anos, casa-se com Joaquina Pereira, de apenas 15. Desse primeiro casamento – logo esquecido – tem uma filha, que morre aos cinco anos. Entre os anos de 1843 e 1846, tenta, sem sucesso, formar-se em Medicina na cidade do Porto e de Coimbra. Entretanto, parece mais inclinado à boêmia e ao escândalo. Em 1846, é preso por raptar a jovem Patrícia Emília, com quem tem outra filha. Em 1847, fica viúvo de Joaquina Pereira. Trava um duelo com um dos filhos de Maria Felicidade Brown, e passa a ter um caso com ela. 1. UMA SUCESSÃO DE TRAGÉDIAS. Em 1850, conhece Ana Plácido, por quem se apaixona. Quando ela se casa com o brasileiro Pinheiro Alves, o autor entra para o Seminário do Porto, buscando refúgio na religião. Mantém, então, um escandaloso caso amoroso com a freira Isabel Cândida. Em 1859, Ana Plácido abandona o marido e vai viver com o escritor. Perseguidos pela justiça, os dois passam um ano da Cadeia da Relação, na cidade do Porto. Data desse período de encarceramento a redação de sua maior novela passional – Amor de Perdição -, inspirada na suas próprias desventuras e na peça Romeu e Julieta, do escritor inglês William Shakespeare. Com a publicação da novela, em 1862, o escritor alcança grande popularidade. O casal muda-se para São Miguel de Seide. Camilo Castelo Branco, então, passa a escrever para sobreviver. O irônico Coração, Cabeça e Estômago (1862) e Amor de Salvação (1864) estão entre as melhores obras escritas nesse período. Vários episódios trágicos continuam a perseguir o escritor. Um deles é a loucura de seu filho Jorge. O outro, a cegueira que começa a se manifestar no autor em 1867, conseqüência de uma sífilis contraída na juventude e mal curada. Em 1890, Camilo Castelo Branco coloca um ponto-final em sua maior novela passional. Mata-se com um tiro de pistola. Principais obras Carlota Ângela (1858), Amor de Perdição (1862), Coração, Cabeça e Estômago (1862), Amor de Salvação (1864), A Queda dum Anjo (1866), A Doida do Candal (1867), Novelas do Minho (1875-77), Eusébio Macário (1879), A Corja (1880), A Brasileira de Prazins (1882) Camilo Castelo Branco conquistou fama com a novela passional Amor de Perdição. Bem ao gosto romântico, a característica principal da novela passional é o seu tom trágico. As personagens estão sempre em luta contra terríveis obstáculos para alcançar a felicidade no amor. Normalmente, essa busca é frustrante. Mesmo quando os amantes ficam juntos, isso é conse-guido a custa de muito sofrimento. Os direitos do coração, freqüentemente, vão de encontro aos valores sociais e morais. Segundo o autor, Amor de Perdição foi escrito em 15 dias em 1861, quando ele estava preso na cadeia da Relação, na cidade do Porto, por ter-se envolvido em questões de adultério
Resumo 6 Amor de Perdição: Breve Podemos falar resumidamente que Camilo Castelo Branco (1825 - 1890) foi um escritor, romancista, cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor português. A sua obra "Amor de Perdição", escrita em 1861, foi publicada pela primeira vez no ano seguinte, em 1862, sendo considerada a mais importante do autor, assim como para a segunda fase do Romantismo em Portugal. Esta obra foi escrita no período de 15 dias, enquanto estava preso por adultério, tendo sido inspirada em suas desventuras e casos de amor conflituosos. Foi o primeiro best-seller português. O romance já foi adaptado para o cinema, teatro e ópera. Além disso, já foi traduzido por diversas línguas e até hoje é considerado uma obra-prima da ficção portuguesa. Camilo Castelo Branco pertence à segunda fase do Romantismo português, chamada Ultra-Romantismo – corrente literária da segunda metade do século XIX que leva ao exagero os ideais românticos. “Amor de Perdição” narra a história do amor proibido entre os jovens, Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, que pertencem à famílias rivais. O mundo romântico é idealizado, povoado de personagens virtuosas e sem contradições. Nesse contexto, podem-se contrapor às regras sociais, mas são sempre guiadas por seus sentimentos. Como outros personagens desta obra podemos citar: Mariana, Baltasar, Domingos Botelho, Tadeu Albuquerque, João da Cruz, D. Rita Castelo Branco. O estilo pertence à época romântica e o género literário é a novela passional, Com relação ao foco narrativo da obra, embora na “Introdução” narrador e autor se confundam, os fatos são narrados na 3.ª pessoa. Camilo Castelo Branco narra sua história de maneira densa e ágil, intercalando, com maestria, a narração e os diálogos. Quanto ao tempo e espaço, a história se passa em Portugal (Viseu, Coimbra e Porto), século XIX. A novela passa em Portugal, no século XIX, fase final do absolutismo, quando a Corte portuguesa experimentava as conseqüências das invasões francesas determinadas por Napoleão. Em Amor de Perdição, o deslocamento das personagens para as cidades de Viseu, Coimbra e do Porto apenas reflete a complexidade das situações que as envolvem, não determinando os acontecimentos. Ainda assim, as referências às cidades permitem uma visão mais ampla da moral vigente e do provincianismo da sociedade portuguesa da época, na qual a tradição de familiar e a preocupação com a reputação prevalecem sobre o individualismo. Em Amor de Perdição, os acontecimentos se desenrolam de uma maneira bastante linear e em ordem cronológica, privilegiando a ação em vez da descrição. A obra é considerada uma espécie de Romeu e Julieta lusitano.
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